Papo Reto
Manoel Soares: "Sem atalhos"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Amigos, como comentei com vocês na semana passada, perdemos a mãe de minha esposa, que é uma pessoa muito importante em nossa família. Óbvio que cada pessoa tem a sua forma de encarar a morte de alguém que ama. Alguns orientados pela sua fé, outros por um pragmatismo, outros só deixam a maré seguir. Mas conversando com especialistas em saúde mental, ouvi algumas dicas para esse momento que é inevitável. Afinal, todos nós em algum momento da vida teremos que nos despedir de alguém que amamos.
A primeira dica importante é que não podemos fingir uma força que não existe nesse momento, essa coisa de não chorar e agir como se nossa cabeça entendesse a partida só mascara uma dor que está dilacerando por dentro. Não estou dizendo que é para chutar o balde e fazer da dor nossa desculpa para colocar para fora todos os demônios guardados, mas saber que foi e admitir que foi é fundamental. O luto tem cinco estágios e eles não são evitáveis, o período deles pode variar de pessoa para pessoa, mas todos vamos viver esses momentos quando estivermos no luto.
O primeiro é a negação, como não fomos programados para morrer nem para ver morrer resistimos a essa ideia com todas as nossas forças. Quando entendemos que a morte está perto e não vai embora entramos no segundo estágio, a raiva. Esse momento é desagradável para quem está perto, pois a solidariedade que nos trazem parece inútil e quase irritante, mas passa. Seguido da raiva temos a barganha, momento em que tentamos negociar com a morte e criar uma história que drible o fato da pessoa não estar mais com a gente.
Quando nos damos conta de que a barganha não é possível, somos tomados por uma tristeza profunda que parece até que a pessoa morreu naquele momento. Essa tristeza anuncia o quarto estágio, a depressão. Esse momento merece atenção, pois muitos ficam nele para sempre. O ultimo estágio é a aceitação, nesse momento entendemos o ciclo e tentamos acomodar a dor da ausência em um cantinho do coração que sempre vai doer, dependendo de como mexemos em nossas emoções.
Minha última dica é que não tentem pular nenhum desses estágios, pois podem abrir portas para somatizações que em alguns casos resultam em doenças crônicas e até mortais. Vivam a morte como parte da vida, sem atalhos e sem malandragens emocionais, essas dores são humanas e precisam ser vividas.