Fala, candidato
Conheça as propostas dos candidatos para a proteção contra enchentes em Porto Alegre
Contenção de cheias é uma das principais preocupações dos porto-alegrenses. No Sarandi, alagamentos são recorrentes em dias de chuva
O bairro Sarandi, na zona norte da Capital, foi o mais atingido pela enchente de maio, com 26 mil moradores afetados, de acordo com levantamento da prefeitura. No período mais grave da cheia, relatos de pessoas da região dizendo que, daquela vez, a água havia tomado locais onde nunca antes havia chegado eram comuns. Isso porque os alagamentos fazem parte da rotina do bairro, sem que seja necessário um fenômeno ambiental de proporções extremas como o que aconteceu neste ano.
Como conta o produtor cultural Gabriel Silveira da Rosa, 36 anos, “toda vez que chove, alaga”. Ele mora desde que nasceu na Vila Brasília, próximo ao dique do Sarandi, e apesar de a enchente de maio ter sido a pior, os transtornos causados pela chuva são recorrentes.
— A gente vive num funil, ali naquela região. É um risco só por estar vivendo ali. Toda água de chuva desce para lá, vai para a casa de bombas que é próxima a minha casa. Chove por uma, duas horas, e o esgoto não sustenta. Entra água nas casas, as pessoas perdem suas coisas, não tem como sair de casa — detalha.
Gabriel tem o hábito de acompanhar notícias sobre meteorologia, principalmente devido à necessidade de estar atento nos dias de chuva. Por isso, logo que o nível do Guaíba começou a aumentar no início de maio, ele já sabia que era melhor se preparar para o pior. Ainda que já tivesse vivenciado outros alagamentos, estava atormentado pela situação que se formava.
— Eu só pensava “se o Rio Gravataí deságua no Guaíba, e o Guaíba já está cheio, essa água vai para onde?”. No mínimo, ia ser igual a 2013. Quando eu fui para casa depois do trabalho, passei pelo Arroio Sarandi e vi que já estava a um palmo de transbordar. Eu sabia que ia pro bairro — recorda Gabriel.
Em 2013, o rompimento do dique tirou centenas de pessoas de casa e foi considerado um dos piores episódios de inundação no bairro. Daquela vez, a água chegou na altura do joelho no primeiro andar da casa de Gabriel. Já em 2024, o alagamento subiu cerca de 1 metro no segundo piso.
Conforme Gabriel, as bombas não dão conta de drenar a água, que volta para as ruas pelos bueiros. Ele cita, ainda, uma ocasião em que, durante um temporal, a casa de bombas ficou sem luz. Por isso, a principal demanda da comunidade no que se refere à proteção contra cheias é a manutenção e melhoria da estrutura.
— Quando alaga muito, isso (a casa de bombas) tem atenção, depois cai no esquecimento. Passa a enchente e deu, no próximo ciclone a gente conversa, e assim vai.
Uma contenção permanente
Para o professor Fernando Dornelles, pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS), a gestão municipal de Porto Alegre deve propor uma estrutura de contenção que seja permanente, com recursos exclusivos destinados para esse fim.
— A falha do sistema (em maio) se deu por uma falta de entendimento da importância que ele tem para a cidade, o que, por consequência, causou um descaso de manutenção e preocupação com a sua situação.
Em relação ao funcionamento das casas de bombas, o professor salienta que é necessário sanar os problemas de retorno de água pelas galerias de descarga. Além disso, pensando no enfrentamento da situação de altos níveis do Guaíba, deve-se pensar na possibilidade de que as casas de bombas operem mesmo que haja falha no sistemas de diques, como a elevação e/ou proteção dos motores e quadros elétricos.
— Para que, assim que o Guaíba baixar, as casas de bombas possam drenar a água para o Guaíba de forma bem mais rápida do que aconteceu durante o desastre de maio – completa.
Propostas dos candidatos
O Diário Gaúcho perguntou aos candidatos quais são as propostas para prevenção à enchente na Capital. As respostas estão a seguir:
Pergunta: Qual é a proposta do(a) candidato(a) com relação à prevenção contra cheias, em especial das casas de bombas e diques em Porto Alegre?
Felipe Camozzato:
/// Tenho um grande compromisso com a proteção da cidade. Isso passa por um reforço no sistema atual. As cotas dos diques devem ser atualizadas com base na enchente de 2024, e as comportas e casas de bombas modernizadas, com sistema anti-fluxo para evitar o retorno de água. No entanto, apenas a manutenção não é suficiente. A cidade precisa de um sistema mais moderno e robusto. Ficou claro que não estamos protegidos, portanto precisamos inovar. Existem locais, como a Vila Asa Branca, no Sarandi, que não têm diques. Áreas como Ipanema e outros bairros da Zona Sul também não possuem proteção. Nem mesmo os Armazéns do Cais estão protegidos.
Juliana Brizola:
/// Nós vamos combater as enchentes com quatro ações principais: (1) integração com a Região Metropolitana por meio do Granpal, envolvendo pesquisadores e municípios; (2) intensificar a limpeza de bueiros e galerias, adquirindo novos equipamentos e implementando monitoramento digital para áreas vulneráveis; (3) modernizar o sistema de proteção contra enchentes, elevando painéis elétricos, substituindo bombas por modelos submersíveis, automatizando operações e reforçando diques, como no Sarandi; (4) expandir o monitoramento com sensores inteligentes nos 46 bairros mais afetados. Além disso, atualizaremos o Plano Diretor de Drenagem Urbana com soluções sustentáveis e participação comunitária. O investimento estimado é de R$ 500 milhões, provenientes de caixa do Dmae, empréstimos aprovados e parcerias federais.
Maria do Rosário:
/// Fazer imediatamente a limpeza, manutenção e ampliação da rede de esgoto pluvial, assim como a limpeza dos arroios e córregos. Garantir a agilidade na execução das obras de recuperação das casas de bombas e diques com os recursos do governo federal. Modernizar e ampliar as seis casas de bombas que drenam a região da entrada da cidade. Para recuperar a capacidade técnica e operacional, vamos recompor o número de funcionários do Dmae e recriar o DEP. Serão obras iniciadas de imediato, com recursos federais já anunciados e novos captados no governo federal e instituições internacionais, com governança regional em conjunto com o comitê de bacia do Guaíba.
Sebastião Melo:
/// Temos um plano concreto de prevenção e obras emergenciais que já começaram em dois diques no Sarandi. Vamos investir R$ 510 milhões em casas de bombas, comportas e Muro da Mauá. Destes, R$ 20 milhões já estão contratados para recompor os diques. Contratamos uma empresa para monitorar enchentes, em tempo real, com totens, réguas de medição e câmeras. Está em execução o Plano de Preparação e Mitigação de Desastres, que define rotas de fuga e logística em eventos extremos. E lançamos edital para contratar serviço meteorológico com informações climáticas precisas. Outra medida é a contratação de consultoria do professor Carlos Tucci, referência em hidrologia, para revisitar o sistema anticheia existente e estudar a ampliação até a Zona Sul.
Produção: Caroline Fraga