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Fala, candidato

Conheça as propostas dos candidatos para agilizar a fila do SUS na Capital

Em agosto, lista de espera alcançou um  novo recorde, com 184.110 pessoas aguardando por consultas. Concorrentes ao Paço Municipal aprofundaram os planos para sanar o problema que afeta a saúde dos porto-alegrenses 

01/10/2024 - 16h48min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Duda Fortes / Agencia RBS
Elídio sofre com as consequências da longa espera.

O aposentado Elídio Antônio Brum Vianna, 72 anos, sofre na pele as dificuldades impostas pela demora da fila do Sistema Único de Saúde (SUS) em Porto Alegre. Ele esperou de 2013 até 2019 por uma consulta com especialista para tratar uma hérnia que possui na região da virilha. 

A família do idoso afirma que, quando finalmente foi atendido, o médico disse que iria solicitar uma cirurgia. Em 2020, porém, a família voltou à Unidade de Saúde para entender o porquê da demora e foi informada que, no sistema de gerenciamento de consultas, o Gercon, não havia nenhum encaminhamento cirúrgico. 

Assim, mais uma solicitação de consulta foi realizada e, de acordo com familiares, também não deu resultados. Em junho de 2024, Elídio entrou mais uma vez na fila para consulta com cirurgião, agora também para tratar sua outra hérnia, localizada no umbigo. Por enquanto, ele está há quase cem dias na fila de espera.

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirma que a cirurgia não apareceu no sistema e que o nome dele permanece entre as solicitações para consulta.

Novo recorde

Como publicado em julho deste ano no Diário Gaúcho, a fila de espera por consultas especializadas no SUS aumentou 3,79% no primeiro semestre de 2024. Porém, comparado ao ano passado, o crescimento da fila desacelerou. Entre janeiro e junho de 2023, o aumento foi de 9,2%. 

No mês de agosto, último período divulgado pela Secretaria de Saúde no portal de transparência até o fechamento desta edição, a fila bateu um novo recorde na contabilização realizada pela Capital desde 2017. Em agosto, havia 184.110 consultas em espera, contrastando com as 181.737 de julho, considerado o último recorde. 

Enquanto a fila só aumenta, Elídio segue sofrendo as consequências da burocracia do problema que assola a Capital. Seu cotidiano é afetado diariamente pela dor intensa que sente devido às hérnias, por isso, ele raramente sai de casa. Além disso, quando precisa procurar atendimento médico para aliviar os sintomas, as escadas da UBS prejudicam seu deslocamento. 

Sua ex-esposa e cuidadora, Rosa Helena Cavalheiro Mendes, 58 anos, explica que a dificuldade do aposentado se estende até na hora de dormir:

— O Elídio tem que estar sempre mudando de posição, pois, dependendo da posição, ele sente aperto. Não tem momento que ele não sinta dor. É um caso urgente que eu não sei como não conseguem enxergar. É nítido.

Estratégias focadas em soluções

Existem diversas medidas que podem ser tomadas para reduzir o tamanho da fila. O professor e médico com formação em gestão de saúde pública Alcides Miranda acredita que um dos caminhos é focar na Atenção Primária à Saúde. Isso porque, se uma pessoa que tem um sintoma se dirige até uma Unidade Básica de Saúde e não recebe o atendimento necessário com agilidade, quando vai consultar novamente, está com uma patologia mais grave instaurada e precisa ir até o especialista. 

— A falta de atenção primária gera um prejuízo enorme para a gestão especializada — diz o professor.  

Porém, mesmo havendo essa gestão primária organizada, sempre vamos ter uma demanda maior do que a oferta. Esse é um fenômeno que requer critérios bem estabelecidos e que haja um tipo de tecnologia que regule a fila — explica Miranda.

Entre as estratégias de regulação, Miranda destaca o comportamento sazonal da fila. Existem especialidades que têm maior demanda no inverno, por exemplo. O problema é que as ofertas são fixas. 

— A UTI infantil, por exemplo, tem uma oferta fixa de leitos e uma demanda que varia ao longo do ano. A lógica é que, se eu tenho uma necessidade flutuante, também deveria ter uma oferta que seguisse o mesmo comportamento — destaca Miranda.

Estratégias

A conselheira municipal de saúde, Josiane Garcia, também acredita que um maior enfoque na Atenção Primária seria uma solução possível para aumentar a agilidade da fila. Para ela, é preciso pensar em medidas para diminuir a fila a longo prazo.

— Se é feito um mutirão, se diminui uma demanda, mas não se trabalha para que ela pare de aumentar. A fila, infelizmente, continua como uma sangria, uma fonte que não para de sair — destaca.

Ela ainda cita algumas das deliberações feitas pelo Conselho Municipal de Saúde, órgão que fiscaliza a atuação da SMS, no dia 5 de setembro, para essa situação. Entre elas, está o aumento de centros de especialidades próprios, de cinco para oito espaços nas gerências distritais da Capital.

Por fim, Miranda explica que um intercâmbio de conhecimentos entre a área acadêmica e o poder público seria uma forma de auxiliar a amenizar o problema. Ele destaca que nunca foi procurado para utilizar os seus conhecimentos na área de gestão pública de saúde para debater os problemas crônicos da cidade.

— Essa aproximação não acontece. Nosso setor nunca foi acionado pela prefeitura para debater esse assunto. Realmente, não tem uma solução mágica, mas temos um conhecimento acumulado que pode nos ajudar a equacionar esses problemas e diminuir o sofrimento das pessoas que esperam — finaliza.

Propostas dos candidatos

O Diário Gaúcho perguntou aos candidatos quais são as soluções propostas para a diminuição da fila de espera no SUS. As respostas estão a seguir:

Pergunta: Qual é a proposta do(a) candidato(a) para reduzir a fila para exames e consultas em Porto Alegre? 

Felipe Camozatto: 

/// As filas para exames de saúde são um grave problema da nossa cidade. Grande parte disso decorre da falta de gestão. Vamos começar fazendo mutirões, em parceria com entidades da área médica, para zerar as filas da saúde. Em paralelo, vamos modernizar a marcação de consultas e exames para evitar o desperdício de recursos. Também vamos implementar a telemedicina para agilizar o atendimento dos pacientes com especialistas e reduzir a jornada do atendimento. Além disso, vamos na saúde primária, fortalecendo a prevenção, o que deve auxiliar na redução das filas.

Juliana Brizola: 

/// Porto Alegre hoje possui mais de 130 mil pessoas na fila da saúde. Nós vamos zerar essa fila em seis meses, fazendo um grande mutirão e utilizando recursos do Pró-Hospitais, sancionado recentemente pelo governo estadual. Além disso, vamos implementar a telemedicina de médico para médico. Vamos disponibilizar especialistas como psiquiatras, pediatras e ginecologistas nos postos de saúde. Também planejamos modernizar e ampliar UBSs em áreas de maior demanda, criar novas Equipes de Saúde da Família em regiões vulneráveis e estender o horário dos postos até as 22h. Tudo isso com recursos do orçamento municipal, empréstimos, PPPs, recursos federais, emendas parlamentares e convênios internacionais.

Maria do Rosário: 

/// É preciso revisar a atual fila de espera e realizar mutirões com a recomposição de equipes dos cinco ambulatórios próprios e ampliação de convênios com ambulatórios hospitalares para casos de maior complexidade. Com o programa federal “Mais Acesso a Especialistas”, vamos ampliar o acesso à teleconsulta como apoio aos médicos das UBS, para agilizar diagnóstico e tratamento, evitando a agudização das doenças. Vamos criar quatro centros de especialidades, as policlínicas descentralizadas. Isso se dará de forma permanente, com recursos próprios e buscando ampliação de repasses federais.

Sebastião Melo: 

/// Temos propostas concretas para zerar as filas: criar quatro policlínicas em diferentes regiões, ampliar unidades de saúde abertas à noite, construir novos postos em áreas vulneráveis, concluir a duplicação do HPS e construir o novo Hospital Materno Infantil Presidente Vargas. Os mutirões de cirurgias, consultas e exames serão intensificados com o Agiliza Saúde permanente. Em quatro anos, ofertamos 64,3 mil cirurgias, 14,6 mil consultas e 3 mil exames. Zeramos as filas de raio X odontológico e ultrassonografia mamária. Também ampliamos o atendimento noturno para 56 unidades básicas. Quando assumimos, eram 279 equipes de saúde da família, hoje são 390. Reformamos 24 postos e abrimos quatro novos, além de reabrir outros cinco.

*Produção: Elisa Heinski



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