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Zona norte

Destruída pela enchente, creche de Porto Alegre pede ajuda após perder todo o acervo da biblioteca infantil

Moradores dos bairros Farrapos e Humaitá, uma das regiões mais impactadas pela cheia de maio na Capital, ainda reformam casas e estabelecimentos comerciais

18/10/2024 - 10h38min


André Malinoski
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Quase seis meses após o começo da enchente, o cenário de reconstrução pode ser visto em bairros como Humaitá e Farrapos, na zona norte de Porto Alegre — uma das regiões mais impactadas pela inundação de maio

Nesta quinta-feira (17), a reportagem de Zero Hora circulou pela região e encontrou canteiros de obras em frente às moradias, aos estabelecimentos comerciais e às escolas. Moradores reformam as casas, consertam os telhados e pintam as paredes. 

Creche destruída

A Escola de Educação Infantil João Paulo II, situada na Rua Frederico Mentz, passa por reforma total. A cheia derrubou todos os muros, danificou salas e espaços, apodreceu o forro, estragou geladeiras, freezers e outros equipamentos.

A creche pertence à Congregação das Irmãs Servas da Imaculada Conceição da Virgem Maria e atende 104 crianças dos dois aos seis anos de idade. No local, os pequenos ganham café da manhã, almoço, lanche e janta. Além disso, brincam na pracinha, têm brinquedos à disposição e participam de atividades educacionais.

As irmãs moram no andar superior da escola e tiveram que ser resgatadas por um barco de pescadores no dia 4 de maio, quando a água já batia no pescoço das religiosas. A marca com a altura da água, algo em torno de 2m20cm, ainda pode ser vista em partes das paredes externas. 

— A água destruiu tudo, os documentos, a biblioteca, o piso, o forro, as janelas, as paredes e a fiação elétrica — enumera a irmã Natália Kempka, 68 anos. 

Não sobrou nenhum livro na biblioteca infantil. A estimativa das irmãs da congregação é de que 2 mil títulos tenham sido destruídos pela água e danificados por lama. Agora, a espera é por ajuda e doações, inclusive para o acervo. 

Desde junho, a instituição passa por reforma. As irmãs só puderam voltar a morar no imóvel em julho. Neste momento, a creche tem água. A luz foi restabelecida apenas na semana passada. 

A creche ainda não voltou a operar normalmente, mas atende algumas crianças em um espaço improvisado. Já os alunos que irão cursar a primeira série em 2025 estão sendo levados de ônibus para o Centro de Educação São Vicente de Paulo, no bairro São Geraldo. 

— A pracinha tinha muito mais brinquedos antes da enchente — lamenta a irmã Teresinha Detoni, 79.

Moradores reformam e pintam as casas

Na Rua Padre Blásio Vogel, no bairro Farrapos, a funcionária de serviços gerais Maria Antunes dos Santos, 64, observava o marido e obreiro João Corrêa, 55, reconstruir a casa deles. No dia 3 de maio, o casal e os dois filhos precisaram sair de barco para não morrerem afogados. A família só retornou ao lar em julho.

Foi muito triste. E mais triste quando voltamos. Perdemos documentos, tudo — recorda dona Maria Antunes.

Atualmente, ela paga aluguel em uma casinha quase ao lado de onde vivia e espera pelo término da reforma. 

— Quando voltamos, não tinha mais nem as portas da casa. Só sobrou um botijão de gás — comenta o marido.

Nesta quinta (17), João Corrêa trabalhava na reconstrução. A casa, que já tem água e eletricidade novamente, terá um segundo pavimento. O dinheiro para a reforma veio do Auxílio Reconstrução de R$ 5,1 mil, oferecido pelo governo federal para todas as famílias com residências afetadas por chuvas no RS.

O comerciante Adoli Ferreira, 72, estava sentado em frente ao seu estabelecimento de lanches. A água chegou a mais de 2 metros de altura no imóvel e o obrigou a ir para um abrigo e, depois, para a casa de parentes. 

— Fiquei dois meses fora de casa. Essa (enchente de maio) foi a maior que peguei aqui — observa, dizendo que já reformou o espaço. 

Perto da Arena do Grêmio, a aposentada Lucia Pacheco de Moraes, 88, vive em uma residência de dois pisos na Rua Frederico Mentz. Com a inundação, precisou ser levada para um abrigo, onde permaneceu por mais de um mês.

— Nunca na minha vida pensei passar por isso. Minha avó falava muito da enchente de 1941. Não mexi em nada ainda aqui em casa — afirma dona Lucia em relação à reforma.

Na região do Humaitá, a situação parece um pouco melhor. Em vias como Palmira Gobbi e Lima Barreto, não há residências em obras. O Parque Mascarenhas de Moraes ainda apresenta sujeira da inundação em alguns pontos, especialmente sacos plásticos presos em arbustos.

Ajuda

Para quem quiser auxiliar a Escola de Educação Infantil João Paulo II, a chave Pix da creche é o endereço de e-mail:

pixjoaopaulo@servasdemaria.com.br

O que diz a prefeitura

A reportagem de Zero Hora questionou o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) sobre a quantidade de resíduos recolhidos no pós-enchente na região dos bairros Farrapos e Humaitá. Também perguntou se o serviço será ampliado nesses locais e onde está concentrado no momento. Por nota, o DMLU respondeu o seguinte:

"A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, por meio do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), informa que, durante a operação especial de limpeza de resíduos oriundos da enchente, o DMLU trabalhou com dados gerais, e não com o quantitativo separado por bairros ou localidades. Foram recolhidas cerca de 150 mil toneladas de resíduos pós-enchente na cidade. Destas, mais de 110 mil já foram destinadas aos aterros contratados. O serviço iniciou em 6 de maio e foi executado até julho, conforme as águas foram baixando. Podemos estimar que as equipes de limpeza retiraram aproximadamente 100 toneladas de entulhos por dia da Vila Farrapos, considerando a média de oito caminhões utilizados na região durante os meses de maio a julho. Já no bairro Humaitá foram recolhidas por volta de 400 toneladas de materiais a cada dia, com a média de dez caminhões no período. Atualmente, as equipes do Setor Norte do Departamento realizam repasses de limpeza diariamente na região, com o auxílio de uma retroescavadeira, dois caminhões-caçamba e dois coletores. O serviço está sendo ampliado também para o turno da noite. O DMLU mantém as rotinas de conservação na área, atendendo de forma geral todo o bairro, e recolhe periodicamente os materiais dispostos irregularmente no espaço público. Além disso, as equipes estão à disposição para a retirada novos descartes ainda feitos pelos moradores após as limpezas de suas residências. Os pedidos devem ser feitos por meio do submenu no WhatsApp do 156 (número 3433-0156).


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