Audiovisual
Documentário mostra reconstrução dos catadores depois da enchente
Filme foi gravado em julho em cooperativas de reciclagem de Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo.
Ocorreu nesta quinta-feira (31), no Centro de Educação Ambiental (CEA), no bairro Bom Jesus, o lançamento do documentário Catadores RS na Resistência. Gravado em julho no Rio Grande do Sul, o filme buscou registrar as dificuldades dos recicladores no período pós-enchente. Quem captou as imagens foi o jornalista Davi Amorim, 42 anos, natural de São Paulo. Ele, que também é coordenador de comunicação do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, veio até o Estado para documentar uma realidade que era pouco conhecida pela sociedade.
Davi, junto com um colega cinegrafista, visitou diversos galpões e cooperativas de reciclagem nas cidades de Porto Alegre, São Leopoldo e Canoas e captou as imagens junto à comunidade local. Entre os objetivos do projeto, está a ação de denunciar o descaso sofrido pelos trabalhadores que são marginalizados nessas áreas de atuação, já que, quase sete meses após a tragédia ambiental, esse grupo ainda não conseguir se reerguer plenamente.
— Reunimos esforços para levar doações e fazer o registro de imagens e fotos para documentar a situação que os catadores passaram e como estava o processo de reconstrução. As cooperativas de catadores, até no período de antes da enchente, estão em uma situação terrível de abandono e falta de investimento. Por isso, queremos fazer uma denúncia sobre o que eles estão passando — relembra Davi.
História
A busca por representar e dar voz aos catadores também será explorada no lançamento do filme. Isso porque o CEA tem em seu cerne uma cooperativa de reciclagem: o centro de triagem da Vila Pinto. Assim, segundo Davi, a ideia é prestigiar a audiência dos próprios catadores, para que se sintam parte da narrativa que foi desenvolvida:
— Queremos que eles sintam que estão contando sua própria história.
O jornalista ainda afirma que está em tratativas para exibir o documentário em outras regiões do país e, inclusive, no Exterior. O desejo é que cada vez mais pessoas tenham conhecimento das consequências da negligência com a natureza com quem mais se preocupa com ela: quem lida com os resíduos.
Então, um quesito importante na construção do filme foi relacionar a triste realidade com as mudanças climáticas. A dificuldade sofrida pelos catadores já existe há muito tempo e não só por causa da enchente. Por isso, para Davi, fomentar esse debate é essencial:
— Diversas cooperativas têm sofrido com incêndios, falta de água e escassez de alimentos, por exemplo. Buscamos fazer a reflexão sobre a mudança do clima e como isso atinge a população pobre e de periferia.
Desabafo sobre a angústia
Núbia Vargas, 36 anos, é presidente da Cooperativa de Educação Ambiental e Reciclagem Sepé Tiaraju. No mês de maio, o seu galpão, que fica localizado no 4º Distrito, na Capital, foi totalmente tomado pela água. Mas as dificuldades já vinham sendo impostas anteriormente.
— No primeiro temporal que teve na cidade voou uma parte do telhado da cooperativa. Em janeiro de 2024, voou a estrutura inteira do teto e ficamos esperando ajuda da prefeitura. Ai veio a enchente e tivemos mais perdas: perdemos nosso refeitório, cozinha, escritório, sala de convivência, prensa e esteiras — descreve a recicladora.
Diante dessa dura realidade, o convite para participar do documentário e ter a voz de sua comunidade ouvida se tornou um acalento em meio ao caos.
— Quando a gente passa por uma situação muito difícil, ficamos com muita angústia no peito. Então foi bem legal poder falar um pouquinho sobre a nossa luta. Porque, muitas vezes, as pessoas não tem ideia do que a gente passa dentro de uma cooperativa, por isso, o documentário veio numa hora que a gente precisava desabafar —relata Núbia.
Lição
Para Núbia, a falta de valorização do poder público e da própria sociedade faz com que o trabalho dos catadores seja ainda mais difícil. Além disso, a falta de conhecimento acerca dos processos de gestão de resíduos contribui para que mais desastres ambientais aconteçam. Diante disso, a recicladora defende a importância da educação ambiental e do entendimento sobre a força da natureza.
— A nossa mão de obra é escrava da cidade. Por isso, precisamos repensar o modelo de gestão de resíduos incluindo o catador. Hoje em dia, sabemos que a educação ambiental não existe na cidade, onde deveria ser um fator fundamental. E quando eventos assim acontecem, percebemos que não somos nada perto da natureza — finaliza.
Onde assistir
/// O documentário Catadores RS na Resistência foi exibido nesta quinta-feira (31) , às 15h, no Centro de Educação Ambiental Bom Jesus, localizado na Avenida Joaquim Porto Vila Nova, Vila Pinto, 143.
/// No dia 7 de novembro haverá uma segunda exibição, às 18h30min, no Auditório da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, que fica na Rua Sarmento Leite, 320, no Centro Histórico.
/// Os eventos são gratuitos, abertos à comunidade e sujeitos à lotação.
/// Para se inscrever na atividade, preencha o formulário no site.
*Produção: Elisa Heinski