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Integrantes do grupo Jogadores Anônimos de Porto Alegre compartilham relatos sobre o vício em apostas e jogos de azar

Em entrevista ao programa "Gaúcha Mais", eles contaram sobre os impactos da compulsão

03/10/2024 - 12h34min


Rádio Gaúcha
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Rafael Henrique / stock.adobe.com
O ato de apostar, que parece inofensivo no início, pode se transformar em um comportamento de risco.

As apostas online, conhecidas como bets, estão se tornando uma preocupação crescente no Brasil. No Gaúcha Mais desta quarta-feira (2), três integrantes do grupo de Jogadores Anônimos de Porto Alegre compartilharam relatos sobre como o vício nas apostas afetou suas vidas.

O ato de apostar, que parece inofensivo no início, pode se transformar em um comportamento de risco, criando um círculo vicioso de perdas e tentativas constantes de recuperar o que foi perdido. O impacto é especialmente preocupante entre famílias de baixa renda, com uma redução significativa nas economias e até mesmo no pagamento de contas essenciais. 

Em agosto de 2024, por exemplo, 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família gastaram cerca de R$ 3 bilhões em apostas online.

O governo federal divulgou portaria que regulamenta as plataformas de apostas no Brasil, que devem entrar em vigor a partir de janeiro de 2025. Uma série de empresas pediram à pasta para atuar no país e poderão operar até o final deste ano.

O vício

Márcia (nome fictício, assim como dos demais entrevistados), está há mais de 18 anos sem apostar. Costumava jogar caça-níquel, máquina que funciona por meio da introdução de moedas e que paga um prêmio para o jogador caso acerte uma combinação.

Ela parou quando deu à luz o filho, que hoje tem 19 anos. Ao longo do tempo, perdeu dinheiro e quase o emprego.

— Eu joguei por uns quatro anos e meio. Durante a época, eu diria que é uma adrenalina, uma destruição, um tempo de perdas. Eu perdi dignidade, perdi valor financeiro, quase perdi meu emprego — relata.

Maria, outra integrante do grupo, está há quase cinco anos sem jogar. Foi o vício em bingo que trouxe consequências devastadoras para ela, incluindo a perda do emprego e do imóvel, além de um momento em que considerou tirar a própria vida por causa das dívidas. 

Meus filhos me deram um ultimato, e foi aí que procurei os Jogadores Anônimos. Lá, consegui reconstruir minha vida. Quando tu joga, não existe vida familiar, amigos, nada. Até entender que é uma doença, todo mundo sofre — conta.

Já Eduardo, entrou no grupo há um ano e cinco meses, sendo o mais recente dos entrevistados. Ele começou com pequenas apostas esportivas, mas rapidamente perdeu o controle. 

— Começou como uma brincadeira, apostando R$ 5 ou R$ 10. Mas aquilo foi tomando conta de mim, e logo comecei a apostar valores mais altos, até investir o salário, pegar dinheiro emprestado e estourar meus cartões de crédito —  revela.

Apoio familiar

O ápice do seu vício foi quando apostou o valor da mensalidade escolar de sua filha de nove anos. Isso quase fez com que a menina quase fosse expulsa da escola, chegando a sugerir mudar de instituição para "ajudar nas contas de casa". 

— Ela achou o grupo no site e disse que queria me ajudar, mas eu também tinha que querer. Eu encaro o problema muito a sério. Hoje não apostei, amanhã não vou apostar e espero que continue assim.

Abandonar as apostas é um processo longo e árduo. Márcia conta que, por várias vezes, depois de jogar por tardes inteiras, acreditava que poderia recuperar o que havia perdido e parar. 

— Cada um tem seu tempo. Sempre achei que poderia parar, que era só lazer. Mas, com o tempo, a destruição começa — reflete. 

Ela também destacou o papel crucial do apoio familiar no processo de recuperação. Foi seu marido assim como a esposa de Eduardo, que, ao descobrir contratos de empréstimo escondidos, a levou aos Jogadores Anônimos:

— Para a maioria, vale o alerta do familiar, que vê o que a pessoa está fazendo, o controle financeiro também. 

Gatilhos

Eduardo conta que pouco conseguiu aproveitar uma apresentação de fim de ano de sua filha em 2022, porque estava distraído apostando pelo celular. Para muitos, o vício em apostas pode ser comparado ao uso de substâncias, como álcool e drogas, onde o ambiente e certas situações atuam como gatilhos. 

O meu gatilho, que eu identifiquei junto com a irmandade, foram as redes sociais. Hoje em dia é impossível tu estar em um Instagram ou uma rede social e não ter uma propaganda de jogos. E a propaganda sempre te conta uma história bonita  —  conta Eduardo.

Para Maria, que começou sua jornada nos Jogadores Anônimos por conta própria, a troca de experiências entre os participantes é essencial para abandonar o vício. Ela reforça que o apoio de pessoas com histórias semelhantes ajuda a manter o foco na recuperação:

— O primeiro passo parece fácil: admitir que nossas vidas se tornaram ingovernáveis. Mas é muito difícil chegar e admitir isso. Essa troca de experiências, o que chamamos de 'terapia do espelho', nos fortalece. Eu não quero mais aquela vida para mim

Os encontros dos Jogadores Anônimos em Porto Alegre ocorrem semanalmente, todas as terças-feiras, às 19h, na Igreja São Geraldo, localizada na Avenida Farrapos, 2611 - Bairro Floresta. Há reuniões diárias online, que oferecem suporte contínuo para aqueles que buscam ajuda. Interessados podem entrar em contato pelo WhatsApp (51) 98030-2002.

Confira a entrevista na íntegra



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