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Direto da Redação

Leticia Mendes: "Parte de nós"

Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

30/10/2024 - 05h00min

Atualizada em: 30/10/2024 - 09h57min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Agência RBS / Agência RBS
Direto da Redação

Everton Raniere Kirsch Júnior e Rodrigo Weber Volz tinham a mesma idade: 31 anos. Ambos nasceram em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Everton em 15 de julho de 1993. Rodrigo três meses depois, em 11 de outubro. Cresceram, repletos de sonhos. Um deles em comum: se tornar policial militar. 

Rodrigo já era natural de uma família de policiais, “brigadiano desde o nascimento”, como lembram seus colegas. Ingressou na BM há oito anos. Everton chegou à instituição dois anos depois, em 2018. Formado em Direito, abandonou o estágio na advocacia, após ser aprovado no concurso. Os dois se tornaram colegas em janeiro deste ano, no batalhão de NH.

Apaixonado pelo Internacional e por viagens, Rodrigo conheceu na BM a futura esposa. Everton, filho único, também se casou, e tornou-se pai, no início de setembro. Com sorriso largo, segurou pela primeira vez o filho nos braços, 45 dias antes de partir. Ontem completou uma semana que a trajetória dos dois soldados se encerrou num caso que estarreceu o país.

Um atirador, munido de um arsenal, matou quatro pessoas e feriu oito, antes de ser morto. Na noite de terça-feira (22), pela primeira vez Kirsch (nome de guerra de Everton) e Rodrigo tiravam serviço juntos. E, foi assim, que chegaram à casa do atirador, no bairro Ouro Branco, em Novo Hamburgo.

Com histórico de esquizofrenia, o criminoso tinha quatro armas em casa. Os policiais não sabiam. Pensavam atender uma ocorrência de maus-tratos. Foram surpreendidos a tiros. Outros cinco PMs e um guarda foram baleados, quando tentavam socorrê-los. “É parte de nós que se vai”, disse uma colega de Kirsch no velório. No dia seguinte, perderam também Rodrigo, que ainda seguia hospitalizado.

Minha irmã se tornou policial militar aos 20 anos. Sei o quanto ela sofre quando perde um colega. Ainda que ela nunca tenha conhecido aquela pessoa. Ela sempre sente. Sempre que acompanho um caso desses penso no vazio dessas famílias. Lembro das inúmeras vezes que minha mãe não dormiu à espera do retorno dela. Na angústia. E em quem não viu seu filho, seu esposo, voltar para casa. 

Esperamos todos que casos como esse não se repitam. Que as medidas necessárias sejam tomadas. Que esses soldados sejam lembrados como devem. E que suas histórias sigam vivas.

Manifestação dos colegas

O 3º Batalhão de Polícia Militar, onde os dois atuavam, enviou nota sobre a perda dos soldados. Confira:

"A perda dos colegas nessa situação trágica, é profundamente impactante para a corporação e em maior proporção ainda para os colegas de unidade que compartilharam a missão e o companheirismo. 

Está sendo um momento de dor e reflexão, e os policiais estão tendo que enfrentar não apenas o luto, mas também a pressão emocional que a situação carrega. O luto não só entristece mas também desafia. 

A solidariedade entre os colegas e o apoio psicológico são fundamentais nesse momento, pois temos a necessidade de continuar as nossas atividades, e isso exige coragem, pois cada saída para as ruas agora carrega um novo peso. No coração de cada brigadiano e ao meio da dor que não se apaga, a coragem assume novas formas, e o dever se entrelaça ao respeito e à saudade.  

Os policiais Soldados Rodrigo e Soldado Kirsch, compartilharam do mesmo sonho de se tornar policial militar, naturais de Novo Hamburgo, ambos eram antes de tudo, seres humanos especiais, queridos por todos, amigos, prestativos e sempre solícitos com os colegas, o que torna a perda mais dolorosa. Os soldados pertenciam a mesma companhia operacional (1ª CIA), e por fatalidade ou destino, estavam pela primeira vez escalados juntos no serviço do último dia 22 de outubro.

Comunicação Social 3°BPM."


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