Ele te pega de surpresa, em um momento inesperado. Vem da rua? Vem de onde esse cheiro? E aí começa a função. Abre a janela e cheira o ar. Será que é da rua mesmo? A rinite não colabora, a visão vai ter que ajudar o olfato. Abre outra janela. Olha bem e procura algo suspeito. Agora a moda é botar fogo dentro de contêiner coletor de lixo, acredita? Mas onde não há fumaça, geralmente não há fogo. Mora em apartamento? Abre logo a porta e cheira o corredor, o elevador, as portas dos vizinhos.

Não vem da rua, só pode ser dentro de casa. Por que o cheiro de queimado se esconde da gente? Bora fazer uma busca por todos os cantos e cômodos. E as tomadas? Tem carregador de celular solto e pendurado? Isso é sempre perigoso, viu. Aproveita e cheira todos os eletrodomésticos (tomara que não seja a lava-roupa). Aiaiai… a caixa dos disjuntores! O cheiro só pode vir de lá. Mais uma porta pra abrir, e essa dá medo. É onde a coisa complica. Ufa, tudo certo.

Ferro

Algum vizinho queimou a comida? A chaleira? O secador de cabelo? A chapinha? O ferro de passar? Por favor, normalizem usar roupa amassada (taí um assunto pra coluna). Voltando aos cheiros de queimado, eles nunca são tão óbvios. Ou o nariz da gente se confunde, e já nem sabe se é cheiro real ou imaginário. No meu prédio, o alarme de incêndio tocou algumas vezes e provocou correria nas escadas. Vizinhos já bancaram os bombeiros, sem falar na turma toda de pijama.

Por essas e por outras, eu respeito qualquer cheiro de queimado. Não canso até descobrir de onde vem. Não sossego até passar. E não gosto de dormir com a porta fechada do quarto: preciso sentir cheiros e ouvir barulhos em tempo real. Imagina ser surpreendida por uma fumaça entrando sorrateiramente pelas frestas e virar churrasquinho humano. Cheiro bom é de perfume, de grama cortada, de terra molhada, de dobrinha de bebê, de carro zero, de bolo no forno, de vela de aniversário.

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