Papo Reto
Manoel Soares: "Adeus sorrindo"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Fiz uma higiene nas minhas relações nesses últimos meses. Quando me dei conta, eu tinha quase 700 nomes em minha agenda telefônica e a maioria eu não sabia quem era. Dos que eu sabia o nome, menos de 10% eram pessoas com as quais eu me sentiria à vontade para contar minhas alegrias ou minhas dores.
Comecei a entender que existem pessoas que, assim como certos condimentos, não temperam nossa vida. Não quer dizer que são pessoas ruins, mas que não se ajustam ao que minha vida se tornou. Assim como uma cebola pode ser o diferencial na hora de fazermos um arroz refogado, mas, quando estamos fazendo um pudim, ela é completamente inútil, e se tentarmos usá-la na receita estragamos a sobremesa.
Não quer dizer que abandonei os velhos amigos ou que renunciei minhas raízes, mas se eles não acompanharam meu amadurecimento como pessoa, nossas relações se tornam incompatíveis. Por outro lado, eu também compreendo que algumas pessoas me tiraram da vida delas, por algum motivo elas entenderam que nossa sintonia como amigos próximos tinha acabado, e saber respeitar esse momento é importante.
Exige maturidade
Tentar insistir em amizades e relações que passaram do prazo de validade é como tentar comer uma fruta que passou do período de consumo, pode fazer mal. Saber desembarcar do navio das relações também exige maturidade, tem gente que só sabe terminar relações com brigas e conflitos, como se precisasse de um motivo trágico, o que é burrice, pois contamina a beleza de uma amizade com momentos tristes e artificiais, só porque não sabemos sorrir ao dizer adeus. Assim como a chegada de uma pessoa em nossa vida é especial, a saída dela também deve ser, até para que as portas fiquem abertas para um possível retorno. Sorrir ao dar adeus é prova de que avançamos algumas casinhas no jogo da maturidade.