Campanha pela vida
Rosa colore prédios de Porto Alegre para conscientizar sobre a prevenção ao câncer de mama
Neoplasia é a com maior mortalidade entre as mulheres no Brasil. Projeção indica mais de 70 mil novos casos por ano até 2025
Com a chegada de outubro, o rosa começa a colorir Porto Alegre. A iluminação em prédios públicos como o Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, e o Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF), que abriga órgãos estaduais, tem como objetivo atrair atenção para ações de conscientização e prevenção ao câncer de mama, neoplasia que mais acomete mulheres no mundo.
Projeção do Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta que 73.610 novos casos de câncer de mama devem ser diagnosticados no Brasil até 2025, o que representaria 41,89 mulheres com a doença a a cada 100 mil. Os homens representam 1% de todos os diagnósticos confirmados da neoplasia.
Do total de casos, 11.230 devem ser diagnosticados em estados do sul do Brasil. O Rio Grande do Sul é o segundo, com 3.720 casos, atrás de Santa Catarina (3.860) e à frente do Paraná (3.650).
Cerca de 17,5 mil mulheres morrem anualmente em decorrência da doença, que é a mais mortal entre a população feminina no país, aponta o Inca. Entre os homens, a média é de 200 óbitos por ano.
A campanha Outubro Rosa surgiu na década de 1990, com objetivo de diminuir estes números. Conforme o Inca, o movimento surgiu quando o símbolo da prevenção à neoplasia, um laço cor-de-rosa, foi lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure e distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York, nos Estados Unidos — que, desde então, é promovida anualmente.
Outros prédios públicos também aderiram à campanha, como o Palácio da Polícia (sede da Polícia Civil), a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e o Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS). O rosa também deverá iluminar a Arena do Grêmio e o estádio Beira-Rio. Os clubes devem divulgar informações detalhadas sobre o período de campanha nos próximos dias.
Entenda a doença
O câncer de mama é uma doença agressiva e que leva ao óbito caso não seja tratada corretamente. A neoplasia começa com uma "alteração localizada" em uma célula, explica a mastologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e do Grupo Oncoclínicas, Marcelle Morais.
— É uma mutação em uma célula mamária. Essa célula começa a se proliferar de forma desgovernada e tem potencial para se espalhar para estruturas (órgãos) vizinhos — explica.
A doença tem origem a partir do acúmulo de fatores de riscos ao longo da vida. Marcelle ressalta que o primeiro deles é ser mulher. Os causas para o desenvolvimento do câncer de mama são divididas em dois grandes grupos:
- Fatores não modificáveis: idade (mais chances de desenvolver com o passar dos anos); histórico familiar e herança genética de mutação de genes
- Fatores modificáveis: oriundos do estilo de vida, como tabagismo, alcoolismo e uso prolongado de terapia hormonal, por exemplo.
No estágio inicial, os sinais da doença são quase imperceptíveis. Conforme o Inca, os sintomas característicos do câncer de mama são:
- Caroço (nódulo), geralmente endurecido, fixo e indolor
- Pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja
- Alterações no bico do peito (mamilo)
- Saída espontânea de líquido de um dos mamilos
- Pequenos nódulos no pescoço ou na região embaixo dos braços (axilas).
Prevenção e diagnóstico
Um dos pontos fortes do Outubro Rosa é a prevenção. O cuidado é classificado em dois tipos: primário e secundário.
A prevenção primeira está ligada ao estilo de vida, os fatores de risco modificáveis, enquanto o secundário consiste em exames como a mamografia para identificar lesões que podem fornecer os primeiros indícios do desenvolvimento da doença.
— A prevenção primária é aquela prevenção que evita a doença. A realização de atividade física regular, manter um controle de peso, evitar o tabagismo, evitar o consumo de bebidas alcoólicas de forma contínua. A prevenção secundária é o rastreamento, identificar uma lesão precursora inicial que não vai ter um grande impacto na vida dessa mulher, que não vai levá-la à morte — explica Marcelle.
O diagnóstico precoce da doença através da mamografia oferece 95% de chances de cura, salienta a mastologista. A partir dos 40 anos, o exame deve ser realizado anualmente, sendo o único capaz de diminuir a mortalidade, conforme a mastologista.
Além dele, o autocuidado é um importante aliado na prevenção e diagnóstico precoce. O Inca orienta que as mulheres observem e apalpem suas mamas regularmente, em momentos confortáveis, para avaliar possíveis alterações na região.
"Seja no banho, no momento da troca de roupa ou em outra situação do cotidiano, sem técnica específica, valorizando-se a descoberta casual de pequenas alterações mamárias", orienta o instituto.
Tratamento
Há quatro diferentes tipos de câncer de mama. Por isso, não há um tratamento único e as intervenções variam de acordo com a característica da doença.
— Para alguns deles, a gente começa pela cirurgia de retirada do tumor mamário, com mamagem de segurança e ressecção do linfoma de sentinela (nódulo na áxila). Até costumo dizer que se a gente encontrar cinco mulheres que trataram câncer de mama, provavelmente nenhuma delas tratou igual a outra — conta Marcelle.
A radioterapia, terapia local para controlar a doença, e a quimioterapia, tratamento sistêmico, são outros métodos utilizados. Ambas têm como foco controlar a incidência de células agressivas do câncer e evitar que elas se espalhem por outros órgãos.
Quando a paciente é diagnosticada no início da doença, há maior potencial de cura. Porém, se já houver metástase — quando o câncer se espalha para outros órgãos —, o tratamento tem como objetivo prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida da mulher.