Piquetchê do DG
Saiba qual é a cidade do RS que foi reconhecida como Capital Nacional da Dança da Chula
Lei sancionada em setembro confere a importância cultural de Lagoa Vermelha na preservação da dança que é manifestação típica da cultura gaúcha
Uma das principais danças birivas da cultura gaúcha, a chula ganhou, em setembro, uma capital para chamar de sua. Lagoa Vermelha, na região norte do Estado, foi reconhecida como a Capital Nacional da Chula. Porém, a conexão entre o município e a dança é antiga.
De acordo com o chuleador Henrique Zanin, a história remonta aos séculos 18 e 19 quando tropeiros vinham ao Estado comercializar gado e transportá-lo para a região central do país.
– A chula nasce provavelmente como uma forma de exercício e diversão nas paradas dos tropeiros. Naquela época, o trânsito pelo Rio Grande era só por mulas, cavalos ou a pé, então era preciso fazer paradas. E foi justamente em uma dessas que se fundou Lagoa Vermelha – explica Henrique, que também é professor de chula do CTG Alexandre Pato.
A chula sempre teve um caráter de desafio e disputa entre homens. De acordo com o folclorista Paixão Côrtes (1927 – 2018), nos bailes de antigamente, os peões disputavam na chula a atenção das prendas. Henrique explica, contudo, que na segunda metade do século passado, a dança revive e ganha uma nova fase de desenvolvimento a partir dos concursos e rodeios pelo Estado. Foi nesse período que ela ganhou o caráter o sofisticação que tem hoje e que Lagoa Vermelha se destacou.
Um nome que ganhou projeção na década de 1980 foi o do lagoense Luis Filipe Zonta, hoje com 52 anos. Ele contabiliza 19 vitórias em 23 rodeios e foi um dos responsáveis pela projeção do município. Segundo ele, é o grande número de vitórias em campeonatos o responsável pelo título de capital da dança à cidade.
– Aqui todo mundo dança chula e a dança sempre foi levada muito a sério. Eu acredito até que nossos chuleadores foram os que mais ganharam o Rodeio da Vacaria – diz ele.
Luis conta que o Grupo de Arte Nativa (GAN) Lagoa Vermelha, fundado em 1983, teve papel decisivo nessa história. Foram eles que reintroduziram e popularizam a chula no município após tempos em que a dança estava esquecida. Na sua visão, os chuleadores da cidade se destacam pelo estilo próprio e diferenciado daqueles de outras regiões do Rio Grande do Sul.
– Aqui se dança a chula com muito sapateio, muito repique e, além de transmitir os passos para os mais novos, o mais importante é que a gente se dedica a ensiná-los a inventar os próprios passos – defende Luis.
Estilo diferenciado
Nos dias 19 e 20 deste mês a teoria proposta por Luis Felipe ganhou reforço. Em Farroupilha, ocorreu o 8º Festival Gaúcho de Chula, organizado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). O vencedor da categoria adulta foi Bruno Berthier Sander, 20 anos, que também é de Lagoa Vermelha.
– O sentimento é de dever cumprido, é um trabalho de anos sendo recompensado – diz o campeão.
Além de chuleador, Bruno é fisiculturista e atleta de levantamento de peso. Ele afirma que a chula atualmente deixou de ser apenas uma manifestação cultural e se assemelha a um esporte. Segundo ele, ambos exigem treinamento diário e foco na preparação. Mesmo assim, o aspecto cultural não pode ser esquecido.
– É praticamente um esporte de alto rendimento que exige muito do físico dos chuleadores, mas o principal desafio para o dançarino ainda é emocionar e mexer com o público.
Bruno também dá aulas de chula para cerca de 20 crianças no Grupo de Artes Nativas Lagoa Vermelha. O chuleador acredita que reconhecimento como Capital da Chula abre novas oportunidades para os atletas e artistas da cidade.
– Isso mostra que o Brasil não é só o país do futebol, também fazemos outros esportes aqui. Muitas vezes, para participar desses eventos, nós pagamos tudo do nosso bolso e eu espero que agora possamos ter mais apoios para levar o nome do nosso município pelo Estado.
Fegadan
Além do Fegachula, o Parque Cinquentenário, em Farroupilha, também foi palco da 9ª edição do Festival Gaúcho de Danças (Fegadan), em que competem grupos de danças campesinas. Os primeiros colocados na categoria adulta foram o CTG Paixão Côrtes, CTG Os Carreteiros e o CTG Rincão da Lealdade, todos de Caxias do Sul.
Produção: Guilherme Freling