Mobilidade urbana
Um ano após retorno a Porto Alegre, patinetes elétricas registram ao menos 125 mil usuários e cinco acidentes
Apenas em equipamentos da empresa Whoosh foram percorridos 1,5 milhão de quilômetros na Capital. Segundo a prefeitura, são 1,7 mil veículos do tipo em circulação na cidade
Acaba de completar um ano o retorno da circulação de patinetes elétricas em Porto Alegre. Em 27 de outubro de 2023, a empresa portuguesa Whoosh disponibilizou 450 unidades para atender o público entre o Centro Histórico e a orla do Guaíba. Atualmente, oferece 1,5 mil equipamentos em diversos bairros.
Os veículos foram, antes, oferecidos como opção de mobilidade na Capital entre 2019 e 2020, por outra empresa, que acabou decidindo se retirar do Estado.
Desde o retorno, apenas em patinetes da Whoosh, que são amarelos, foram percorridos 1,5 milhão de quilômetros em Porto Alegre, por ao menos 125 mil usuários. Houve registro de cinco acidentes. Tanto a operadora quanto a prefeitura veem sinais de que o modal está, agora, em processo de consolidação na capital gaúcha.
Desde abril de 2024, há também patinetes da empresa Jet, do Cazaquistão, oferecidos em Porto Alegre. O equipamento tem a cor azul. Havia, ainda, a operação da Adventure, que optou por encerrar o serviço na cidade em março.
Nesta segunda-feira (28), o auxiliar de cozinha Pierre Donadio, 20 anos, circulava com uma patinete elétrica perto da Usina do Gasômetro. Morador de Viamão, na Região Metropolitana, o jovem diz que a experiência de andar no veículo é prazerosa.
— Em vez de eu escolher a opção pela bicicleta, escolho a patinete. Traz uma sensação de mais conforto, lazer e rapidez maior do que a bicicleta — compara.
Perto da pista de skate, o motorista Luciano Ortiz Ramos, 43, aguardava para passear de patinete pela primeira vez na vida. Morador de São Gabriel, nas Missões, afirma que costuma acompanhar as notícias sobre o equipamento. Assim que circulou por alguns segundos, exibiu um largo sorriso no rosto e avaliou:
— É muito legal.
Filho de Luciano, o vigilante Edwartte Pires Ramos, 21, tem o hábito de andar com as patinetes elétricas na Capital. Era ele quem auxiliava o pai para alugar o equipamento por meio de um aplicativo. Na avaliação dele, o veículo anda rápido e pode ser utilizado em vários lugares da cidade.
— Eu uso para passear e por entretenimento. Às vezes, até para ir trabalhar — resume.
O técnico em enfermagem Danglar Mello, 30, acompanhava os demais. Também decidiu experimentar e passear perto das quadras esportivas da Orla.
— Show de bola, é muito bom — elogia.
Principal empresa faz avaliação positiva
A Whoosh está satisfeita com os resultados deste primeiro ano de operação em Porto Alegre, segundo o diretor-executivo no Brasil, Francisco Forbes.
Os patinetes são disponibilizados em bairros como Centro Histórico, Cidade Baixa, Praia de Belas, Menino Deus, Independência, Floresta, Moinhos de Vento, Mont'Serrat, Auxiliadora, Higienópolis, Bela Vista, Boa Vista, Cristo Redentor, Petrópolis, Três Figueiras, Passo D'Areia e Jardim Europa.
O custo para o aluguel da patinete da Whoosh pode variar de acordo com os dias e horários de uso. Porém, a partir de R$ 1 o usuário pode fazer o desbloqueio da patinete, enquanto a taxa por minuto parte de R$ 0,30. Há opções de pacotes em que os clientes não precisam pagar a taxa de desbloqueio. Os pagamentos podem ser feitos diretamente por um aplicativo, com opções que incluem cartão de crédito e Pix.
Forbes destaca que o uso diário das patinetes como meio de transporte para deslocamentos curtos se integrou à rotina dos moradores. Uma das razões, é evitar o tráfego intenso de veículos mais pesados.
— Eventos e condições de trânsito reforçam a praticidade das patinetes como alternativa de mobilidade urbana, destacando seu papel na oferta de uma opção ágil e sustentável para a cidade — acredita.
De acordo com a empresa, o uso das patinetes representou, neste primeiro ano, cerca de 54 toneladas a menos de emissões de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera.
Desafio na enchente
Conforme o diretor-executivo no Brasil da Whoosh, a enchente de maio representou um desafio para a manutenção do serviço na cidade.
— Tivemos que interromper temporariamente a operação para garantir a segurança dos usuários e preservar os equipamentos — afirma Forbes.
— Felizmente, não registramos perda de patinetes e conseguimos retomar as atividades rapidamente, reforçando nossa resiliência e compromisso com a cidade — acrescenta.
Para a prefeitura, saldo é positivo
A prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Smmu), avalia como positivo o primeiro ano de operação das patinetes. Segundo o Executivo, a Capital conta com cerca de 1,7 mil patinetes no momento.
"A Secretaria de Mobilidade Urbana considera que neste último ano o serviço de compartilhamento de patinetes apresentou um saldo bastante positivo na sua operação. A operação de micromobilidade através de patinetes elétricas compartilhadas, com estações virtuais junto aos terminais de ônibus, é um complemento ao sistema de transporte e faz parte do projeto de qualificação urbana de Porto Alegre", diz, em nota.
O poder público afirma que a ampliação do serviço pode acontecer, se houver novas propostas de empresas para operar na cidade.
Conforme avaliação da prefeitura, o maior desafio atualmente tem relação com o estacionamento dos veículos de forma correta. Como não possuem estações físicas, muitas vezes os equipamentos são deixados pelos usuários em locais inadequados.
Acidentes
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) afirma que, em 2024, foram registrados quatro acidentes envolvendo patinetes em Porto Alegre. Um ocorreu em fevereiro, outro em abril, um terceiro em setembro e o mais recente em outubro.
Em 2023, houve apenas um acidente com envolvimento de patinetes. O caso aconteceu em dezembro.
A orientação da prefeitura é para que as ocorrências em vias públicas sejam registradas através da Central de Atendimento ao Cidadão 156 ou pelo 118, com acionamento dos agentes da EPTC.
Em caso de sinistro de trânsito com feridos, os agentes de trânsito farão o primeiro atendimento e encaminharão as partes envolvidas para a Brigada Militar ou a Polícia Civil. Em casos apenas com danos materiais, a competência é da EPTC.
As operadoras possuem seguro para os sinistros de trânsito com envolvimento de patinetes, que podem ser acionados pelos clientes.
Regras
A Resolução nº 996/2023 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) permite a circulação de pessoas em patinetes com velocidade de até 20 km/h em ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas. E velocidade máxima de 6 km/h em áreas de circulação de pedestres. Na orla do Guaíba, o limite estabelecido junto à prefeitura permite andar a uma velocidade de 10 km/h.