Arrombamentos
Comerciantes relatam medo após aumento de furtos a estabelecimentos nos bairros boêmios de Porto Alegre; veja vídeo
Dados da Brigada Militar mostram que 85 pontos foram alvo de ladrões nos últimos três meses, enquanto no mesmo período do ano passado haviam sido 37
— De dia é o céu. À noite, é o inferno.
É assim que Luiz Peixoto, dono de uma tabacaria no bairro Bom Fim, em Porto Alegre, descreve o clima da região. Na noite de 21 de setembro, o estabelecimento dele foi invadido. O comerciante não foi a única vítima.
De acordo com dados da Brigada Militar, nos últimos três meses foram registrados 85 arrombamentos e furtos a estabelecimentos comerciais nos bairros Bom Fim, Cidade Baixa, Moinhos de Vento e Rio Branco. Em 2023, no mesmo período, haviam sido 37 ocorrências (veja gráfico abaixo).
— De uns meses para cá, o problema é a madrugada, da meia-noite às 6h. Tá horrível — desabafa Peixoto.
Segundo o sub-comandante do 9º Batalhão da Polícia Militar (9º BPM), major Demian Riccardi, foram feitas reuniões, com a participação da Polícia Civil, de moradores e de comerciantes para tratar sobre o assunto.
O major explica que as ações dos ladrões acontecem na madrugada, aproveitando o baixo movimento.
— É uma área de muita circulação e de atenção. Temos muita energia dispensada para esses pontos— apontou o subcomandante.
Quatro furtos em duas semanas
Proprietário do Limonata Gastrobar, localizado no bairro Rio Branco, o empresário Leonardo Albuquerque conta que o estabelecimento foi invadido quatro vezes em duas semanas.
Em uma delas, o ladrão levou bebidas, dinheiro e computadores, além de deixar o bar danificado.
— A gente acorda sem saber até por onde começar. É uma história de terror e os sentimentos se misturam entre medo, angústia, ansiedade, revolta e vulnerabilidade — aponta.
Aumento de 130% nos casos
A sensação de insegurança que os comerciantes relatam é sustentada por dados da Brigada Militar. Entre agosto e outubro — até o dia 29 do último mês —, o número de ocorrências nos quatro bairros teve aumento de quase 130%.
O bairro com maior número de casos é o Bom Fim. Foram 17 entre os meses de agosto a outubro de 2023, enquanto no mesmo período deste ano há registro de 42 ocorrências. Foram 18 apenas em outubro — uma a mais do que nos três meses do ano passado.
Já na Cidade Baixa, foram registrados 20 furtos e arrombamentos nos últimos três meses. Em 2023 haviam sido nove (veja gráfico abaixo).
Crime na Cidade Baixa
O Venezianos Pub Café, que fica na Cidade Baixa, foi invadido no dia 26 de outubro. A proprietária, que preferiu não divulgar seu nome, conta que, apesar do sistema de segurança e das câmeras de monitoramento, ladrões levaram equipamentos de som, bebidas e até mesmo comidas do bar.
— Não estamos descansando em momento algum, porque ficamos nos revezando para olhar as câmeras. Temos receio de sermos vítimas novamente e não termos ferramentas, equipamentos de trabalho no dia seguinte — diz a proprietária.
A empresária conta que o maior medo é outro:
— Nosso receio é de que esses crimes contra o patrimônio migrem para crimes contra a vida.
Subnotificação
Luiz Peixoto, dono da tabacaria invadida no bairro Bom Fim, conta que mais de 30 relatos de invasões a estabelecimentos apenas no bairro Bom Fim circularam nos grupos de mensagens de comerciantes nos últimos meses. No entanto, apenas 11 chegaram ao conhecimento da Brigada Militar.
Segundo a Polícia Civil, nem todos as ocorrências são registradas pelas vítimas. Peixoto, por exemplo, conta que não registrou boletim de ocorrência.
— A maioria nem faz registro porque acha que não vai dar em nada — relata Peixoto.
O delegado Ajaribe Rocha Pinto, titular da 10ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, responsável pela área, ressalta que é preciso que os comerciantes levem os fatos às autoridades. Só assim medidas podem ser discutidas e ampliadas.
— A gente entende que muitas pessoas deixam de denunciar e solicitamos, inclusive nas reuniões, que denunciem e incentivem quem foi prejudicado. O furto é um problema que incomoda a comunidade e que atuamos para conter — aponta o delegado.
Em nota, o 9º BPM diz que o registro não serve só para a investigação, mas também para as respostas e estratégias da Polícia Militar (confira íntegra da nota abaixo).
O que diz a Brigada Militar
“É importante salientar que contamos com policiamento preventivo e ostensivo 24 horas por dia, durante sete dias da semana, com as viaturas que atendem as ocorrências oriundas do 190, policiais que atuam na Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas (Rocam) e nosso efetivo especializado da Força Tática. Agentes de inteligência também são empregados no terreno para identificar possíveis autores de delitos. Contamos ainda com apoio do Batalhão de Polícia de Choque, com seu efetivo embarcado e montado.
A Brigada Militar reitera seu compromisso com a segurança da população e pede a colaboração dos cidadãos, incentivando a denúncia de qualquer atividade suspeita ou ilícita, através do telefone 190, assim como reafirma ser imprescindível o registro de qualquer fato criminoso, não só para a competente investigação pelo órgão competente, como para, em especial, o controle de análise criminal para o adequado manejo de recursos policiais militares, para as respostas e estratégias da PM na localidade.”
* Produção: Camila Mendes e Jean Costa