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Negócios da periferia

Expo Favela RS: conheça alguns dos projetos exibidos na feira de empreendedorismo em Porto Alegre

Entre os destaques estão um protótipo de drone para auxiliar em resgates durante enchentes, tabuleiros com jogos dos povos originários que viraram curta-metragem e associação criada na pandemia para ajudar mulheres na Restinga

29/11/2024 - 11h44min


André Malinoski
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Pela segunda vez, Porto Alegre sedia a edição RS da Expo Favela, que começou nesta quinta-feira (28), no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre. O evento, com foco no empreendedorismo nas favelas e comunidades periféricas, tem entrada gratuita. 

Pelo entusiasmo dos expositores, esta edição do evento no Estado tem tudo para ser um sucesso. O coordenador da Central Única das Favelas (Cufa-RS), Júnior Torres, ressalta a importância da iniciativa:

— A Expo Favela contribui para a retomada econômica do Estado. Foram mais de 5 mil empreendedores inscritos. Isso demonstra o tamanho do empreendedorismo de favela do RS. Selecionamos cem e, daqui, 10 irão para a etapa nacional — afirma, dizendo que a expectativa é de que 20 mil visitantes passem pela PUC durante o evento.

A feira, que se encerra nesta sexta-feira (29), às 21h, tem como meta conectar empreendedores das comunidades mais vulneráveis socialmente com investidores e empresas para gerar oportunidades de negócios e transformação social.

Nesta quinta, muitos estudantes de escolas públicas e de centros da juventude circulavam pelo espaço. Os expositores apresentavam projetos, produtos e serviços para o público. E até uma competição de estilo livre entre os barbeiros era acompanhada com entusiasmo pelos presentes.

Em paralelo, ocorriam palestras, workshops, exposições e rodadas de negócios, além de venda de livros. Também há oferta de gastronomia, atividades variadas e lojinha com produtos da Expo Favela RS.

Na parte da manhã, os jornalistas Vitor Rosa, Mary Silva e Eduardo Cardoso, da RBS TV, participaram de um painel, onde puderam compartilhar com os visitantes as histórias de resistência e solidariedade vivenciadas durante a cobertura da enchente de 2024.

Amigos de Sapucaia do Sul desenvolvem protótipo de drone para auxiliar nas enchentes

Os efeitos da enchente de maio de 2024 e até da pandemia de Covid-19 serviram como estímulo para comunidades desenvolverem projetos para auxiliar pessoas em situações de risco nessas situações. O desenhista mecânico Adílio Luis da Silva Camargo, 33 anos, é um desses casos.

Integrante da comunidade do bairro Multiforja, em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana, o idealizador procura empresas ou empresários dispostos a investir no projeto pensado por ele e por outros amigos. Trata-se de drones para auxiliar equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil em situações extremas. 

— Ano ano passado, teve algumas catástrofes nos Estados Unidos e no Japão, que nos motivaram a desenvolver essa pesquisa de drones aplicados para a Defesa Civil. Só que nós não imaginávamos que em 2024 o Brasil acabaria precisando desse tipo de tecnologia — relata Camargo, dizendo que o drone ainda precisa ser aperfeiçoado.

A Sky Key Technology, startup embrionária do bairro Multiforja, ainda não tem clientes, mas desenvolve essa ideia há 10 anos. Na Expo Defense de Santa Catarina (encontro que reúne especialistas e entusiastas no campo da segurança e defesa), o projeto ficou com o primeiro lugar como melhor tecnologia de defesa.

A proposta é que o drone possa carregar até 500 quilos de peso, levar recipientes com remédios e kit de sobrevivência para as vítimas de enchentes que estejam em locais de difícil acesso ou à espera de resgate. Itens como capa de chuva, colete salva-vidas, corda, alimentação, suplemento, água e um rádio comunicador integram o kit.

— Não temos nenhum tipo de apoio ou de patrocínio. Tudo o que desenvolvemos hoje foi com nosso custo e conhecimentos. Inclusive estamos buscando ajuda para irmos a um evento em Brasília, na próxima semana, que fomos convidados — menciona o expositor. 

O protótipo do drone, que custou R$ 60 mil para ser fabricado, poderia ser utilizado ainda em combates a incêndios provocados por queimadas na Floresta Amazônica. 

— Não é um drone apenas de visualização, é de interação. Vai usar a visão de inteligência artificial dele e vai agir para combater (o fogo). O equipamento contempla utilização de mangueiras de incêndio, para combate tanto vertical quanto horizontal, e com a possibilidade de lançar granadas antichamas. Essas esferas em contato com o fogo explodem e liberam um gás semelhante ao de extintores — detalha.

Surgido durante a pandemia, Grupo Marias atende mulheres desempregadas e vítimas de violência doméstica 

Associação sem fins lucrativos, o Grupo Marias surgiu em 2021, durante a pandemia de Covid, e tem atuação na Restinga. O projeto foi criado visando proporcionar inclusão social e autonomia por meio do desenvolvimento das potencialidades de mulheres vítimas do desemprego e da violência doméstica

— Muitas mulheres em situação de vulnerabilidade social e vítimas de violência, não encontravam apoio no governo e procuravam as professoras para pedir apoio. Aí veio o projeto para fazer o acolhimento dessas mulheres — narra a professora Rosana Kasper, 52.

A associação oferece de forma gratuita oficinas e palestras, como arterapia, musicaterapia, alfabetização, artesanato, costura básica, culinária, danças e crochê. 

Um corpo de 25 voluntárias de diferentes profissões auxilia em atendimentos gratuitos nos campos jurídico, social e psicológico. Nesta quinta, algumas das 70 mulheres atualmente atendidas estiveram visitando a Expo Favela RS.

No estande do Grupo Marias há trabalhos expostos realizados no projeto. O material é vendido para que as mulheres atendidas possam adquirir os próprios insumos de sua produção.

— O que nós vendemos aqui, e ajuda a manter o Grupo Marias, são as mantas produzidas por elas e feitas durante a enchente. Levamos (as mantas) para os abrigos de mulheres e, como recebemos muito pedidos, estamos ofertando como venda. E vendemos as nossas camisetas pelo fim da violência doméstica contra a mulher — explica Rosana. 

Tabuleiros de povos originários auxiliam na educação e viram curta-metragem

A Expo Favela RS exibe atrações desconhecidas para muita gente. Um exemplo são os jogos de tabuleiros dos povos originários, que viraram até curta-metragem no youtube.

— A nossa proposta é produzir um curta-metragem, que é um produto educacional. Esse é o nosso objetivo — compartilha a professora de matemática Karine Soares da Silva, 45.

O curta-metragem Etnomatemática Jogos de Tabuleiro Povos Originários busca suplementar as Leis 10645/03 e 11645/08, tendo como apreciação jogos de tabuleiros de povos originários, indígenas e afro-brasileiro. 

A etnomatemática ressalta a matemática dos diferentes grupos culturais. Também recomenda a ênfase nos conceitos matemáticos informais desenvolvidos pelos educandos por meio de seus conhecimentos fora da experiência escolar na vivência do seu dia a dia.

O curta foi elaborado como um produto educacional e cultural, oferecendo para a comunidade o reconhecimento de identidade, valorização ancestral e a construção de seres mais críticos, criativos e autônomos. A viabilização foi possível por meio da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar 195/2022).

A docente da Escola Estadual de Ensino Médio Mario Quintana, de Alvorada, conta o que consegue ensinar aos alunos por meio dos jogos.

— Eu consigo trazer a etnomatemática existente nesses jogos para dentro da sala de aula — assegura.

O filme já foi gravado e agora o objetivo é a produção de outros filmes, e-books e livros sobre a temática dos povos originários.

— Tem muito pouco material dela (temática dos povos originários) no mercado — conclui Karine.


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