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Final de ano pode ampliar sentimento de solidão, mas manter planos para o futuro é essencial para saúde mental dos idosos

Objetivos podem ser de curto prazo. Além disso, a participação em atividades de grupo e interação com amigos e familiares podem auxiliar neste período

27/11/2024 - 11h52min


Jhully Costa
Jhully Costa
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ARIA / stock.adobe.com
Sentimento de solidão pode ser ampliado neste período do ano, marcado por celebrações e encontros entre amigos e familiares.

O último mês do ano costuma chegar acompanhado de sentimentos diversos: ansiedade, frustração, arrependimento, vontade de festejar e, até mesmo, solidão. Na terceira idade, essa última sensação pode ser intensificada pelas perdas acumuladas ao longo da vida. Especialistas destacam que os idosos devem continuar elaborando planos para o futuro — mesmo que sejam de curto prazo — e que os familiares precisam ter um olhar mais atento para esse grupo nesse período.

Psicóloga gerontóloga e coordenadora do Núcleo Longevidade do Centro de Estudos da Família e do Indivíduo (Cefi), Simone Burmeister lembra que, culturalmente, o fim do ano é marcado por celebrações e encontros e que esse cenário pode gerar o sentimento de solidão em alguns idosos:

— Isso não significa que todas as pessoas idosas sejam solitárias, mas tem uma questão de ciclo de vida mesmo. Os amigos vão falecendo, os familiares da mesma faixa etária também. Então, eles têm muitas perdas e alguns vão se sentindo mais isolados e sozinhos. Esse é um cuidado que precisamos ter com essas pessoas.

É comum, ainda, que recordações da infância e da juventude se tornem mais frequentes. Algumas pessoas dessa faixa etária também apresentam quadros de depressão ou o início de um processo demencial, o que colabora para uma sensação de solidão mais forte nesse período, acrescenta a professora Geraldine Alves dos Santos, que é coordenadora do Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Gerontologia da Universidade Feevale.

A docente concorda que, nesses casos, é preciso pensar em alternativas para melhorar a situação. Entre elas, cita a aproximação com familiares e amigos, bem como a participação em grupos de idosos.

Consideramos que participar de grupos melhora muito a saúde mental das pessoas nesse momento. E, às vezes, não são grupos formais. São os amigos do bairro, os amigos antigos. Mas, quando a pessoa está nesse estado (em depressão ou processo demencial) é muito difícil pedirmos para ela fazer algo assim

GERALDINE ALVES DOS SANTOS

Coordenadora do Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Gerontologia da Universidade Feevale

A professora ressalta a necessidade de se ter um olhar mais atento para esses casos e, se necessário, intervir. No entanto, acrescenta que há perfis muito diferentes de idosos e que parte dessa população segue tendo compromissos e planos para o futuro. Por isso, considera fundamental ter um olhar diferenciado para cada um deles.

A importância dos planos

As especialistas enfatizam que a manutenção dos planos e projetos é muito importante em qualquer fase da vida. Alguns idosos, contudo, têm mais dificuldade para estabelecer metas a longo prazo por medo de não conseguirem alcançá-las.

— Com 80 ou 90 anos, (os planos) já assustam, porque elas não imaginam como vão conseguir realizar coisas com essas idades. Mas estamos trabalhando exatamente para as pessoas poderem continuar mantendo sua qualidade de vida, mesmo nessas idades mais avançadas. Temos que ver essa fase da vida como um momento de muitas potencialidades — reforça Geraldine.

Uma alternativa citada por Simone é que essas pessoas façam planos com prazos mais curtos.

— Se elas conseguirem fazer planos para o próximo ano, se tiverem essa motivação e esse desejo, isso é muito positivo, porque a pessoa continua com vontade de viver, continua querendo realizar coisas. Não precisa ser nada grandioso, mas é bem importante que tenha esse olhar para o futuro — afirma a psicóloga.

Para aqueles idosos mais solitários, Simone sugere que os planos podem envolver, inclusive, uma reaproximação com familiares e amigos. Estabelecer como meta a participação em grupos da terceira idade, cursos e projetos para ampliar o círculo de amizades também é uma possibilidade.

De acordo com a psicóloga, é fundamental que os idosos façam esse esforço para sair de casa. Já os familiares, podem organizar encontros de forma que as pessoas na terceira idade se sintam confortáveis.

— No consultório, muitas vezes surge uma fala de preguiça, acomodação. E eu estimulo muito a pessoa a fazer esse esforço, porque muitas vezes esse isolamento parte da própria pessoa idosa. Não podemos estigmatizar, achar que a família abandona. Mas a família também pode contribuir no sentido de dar uma insistida, convidar, fazer alguma coisa mais adequada para essa pessoa — finaliza.


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