Coluna da Maga
Magali Moraes: no tubo
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Não virei surfista e agora pego onda. O tubo em questão é o da ressonância magnética, um exame de diagnóstico por imagem. Pra quem sofre de claustrofobia, é complicado. Tive que fazer em campo fechado, numa posição difícil. É aquela situação em que a gente precisa engolir o choro e chamar a coragem pra entrar junto no tubo. Adiei o que podia, não dava mais pra fugir. Então enfrentei os meus medos pra resolver o assunto. Lá dentro, tentando não me mexer e me acalmar, pensei: isso rende coluna.
Se você nunca fez ressonância, além do tal tubo que assusta a maioria, tem o agravante do barulho gerado pelo equipamento. É ensurdecedor, mesmo com protetores de ouvido. Os que me deram pareciam estar furados. São ruídos fortes e sempre numa sequência de batidas. Pelo menos o bate estaca de música eletrônica tem ritmo. Esse do exame é como se fosse uma sinfonia totalmente desafinada, onde todos os instrumentos brigam entre si, criando uma melodia sem sentido.
Martelando
Pra ver se o tempo passava mais rápido, imaginei a pior aula de música da vida. Ou o pior vizinho do andar de cima, martelando na cabeça da gente sem parar. Isso depois de tentar rezar, meditar, cantar. Mas eu não conseguia manter um pensamento constante por causa da barulheira. Nenhuma letra de música aguentava firme ali comigo. Lulu Santos, cadê você? Ivete? Paralamas? Só vinha o Nananana de Hey Jude, do show do Paul McCartney. Era Nananana e Tum-tum-tum.
Quando o nariz coçava sem parar e eu só queria uma Neosaldina gigante me salvando, quem surge do nada? Toquinho! Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo… e com 5 ou 6 retas é fácil fazer um castelo. Foi um tal de misturar os riscos do guarda-chuva com Havaí, Pequim ou Istambul. Imaginei uma linda gaivota a voar no céu, e logo o exame acabou. Fui pra casa tagarelando, imitando os barulhos, bufando de alívio, na maior adrenalina. Me sentindo confiante e orgulhosa de mim.