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Processo natural

Pouca chuva e atuação do vento Norte voltam a destacar bancos de areia no Guaíba em Porto Alegre

Especialista pontua que fenômeno, causado pela enchente de maio, pode ser visto sempre que a cidade registra pouco volume de água, como ocorre agora em novembro

27/11/2024 - 11h41min


Yasmim Girardi
Yasmim Girardi
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Areia se acumula sobre as ilhas e também nas margens.

O surgimento de uma nova ilha em Porto Alegre chamou atenção em julho, quando bancos de areia foram avistados próximo à Ilha das Balseiras, no Guaíba. Agora, quatro meses depois, é possível observar novamente o fenômeno. 

Em momentos de cheia como a enfrentada em maio, explica o hidrólogo Fernando Fan, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os rios tendem a escavar os locais mais profundos, onde o fluxo é mais forte. A areia removida é depositada nos locais mais rasos, sobre as ilhas ou nas margens.

— Eles (os bancos de areia) vão ficar mais ou menos visíveis em função das flutuações dos níveis do Guaíba, que ocorrem pelas chuvas na bacia hidrográfica e pelo vento. Sempre que venta Sul ou quando chove, e os níveis sobem, eles vão ficar encobertos pela água. Vento Norte ou períodos prolongados sem chuva, os níveis descem, e eles ficam mais visíveis — explica.

Porto Alegre não passa por uma estiagem, mas vive um período de chuva abaixo da média. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontam que, nos últimos 30 dias, a Capital registrou 72,5 milímetros de chuva. O valor fica abaixo da média climatológica do mês de novembro, que é de 105,5 milímetros.

Fan afirma que as áreas não devem voltar a ser como eram antes, uma vez que o processo é natural e as paisagens evoluíram por causa de eventos como o de maio. O hidrólogo aponta que as ilhas vegetadas e habitadas que Porto Alegre atualmente tem, no bairro Arquipélago, foram formadas dessa mesma forma em cheias do passado.

A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) afirma que, dentro do Plano Rio Grande, está em andamento a contratação de estudos de topografia e batimetria, que irão definir o grau de alteração dos cursos hídricos do Estado após a enchente – entre eles, o Delta do Jacuí e o Guaíba –  e se há a necessidade de intervenção. Além disso, houve a liberação de recursos para a dragagem das hidrovias.

Marcelo Rech / Arquivo Pessoal
De cima, é possível ver o prolongamento da extensão das ilhas.

A necessidade ou não de interferência divide opiniões. O professor do IPH ressalta que, por ser um processo natural, os blocos de areia não causam problemas que precisem ser contidos ou evitados:

— Justamente o contrário. Se intercedermos, os efeitos podem ser problemáticos. Por isso sempre falamos, nas notas do IPH, que se intercede depois de muito estudo. Pois uma modificação poderia gerar padrões não previstos como, por exemplo, a erosão acelerada da orla de Porto Alegre ou Guaíba — acrescenta.


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