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Brasil em ebulição

Quem são Baptista Júnior e Freire Gomes, os chefes das Forças Armadas que não aderiram ao plano de golpe

Depoimentos colhidos pela PF apontam que ex-comandante do Exército teria alertado Jair Bolsonaro de que teria de prender o então presidente, caso insistisse em "atentar contra o regime democrático"

27/11/2024 - 11h49min


Humberto Trezzi
Humberto Trezzi
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Exército Brasileiro / Divulgação
General Freire Gomes teria ameaçado prender Bolsonaro.

Parte das 884 páginas do relatório da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado, finalizada pela Polícia Federal nos últimos dias, confirma que dois dos três chefes das Forças Armadas foram decisivos para impedir que a ruptura democrática ocorresse. São eles os ex-comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos Almeida Baptista Júnior.

Em depoimentos à PF, os próprios ex-comandantes relataram terem sido sondados em 2022 para impedir que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumisse o cargo. Freire Gomes disse que foram apresentadas a ele duas versões da minuta do golpe, pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado no pleito, e pelo seu ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira. Avisaram que aquelas instruções deveriam ser implementadas, acrescentou.

"O então presidente Jair Bolsonaro apresentou uma versão do documento com a decretação do estado de defesa e a criação da comissão de regularidade eleitoral para 'apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral'", narrou Freire Gomes à PF. O general afirma que se manifestou para Bolsonaro e para os generais do Ministério da Defesa contrário a qualquer ação que impedisse a posse do eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente.

Arquivo Pessoal / Twitter
Brigadeiro Carlos Almeida Baptista Jr. relatou detalhes dos convites para ruptura democrática.

Assim como Freire Gomes, Baptista Júnior admite que viu as duas versões da minuta do golpe. E foi além: segundo o ex-comandante da Aeronáutica, se não fosse a recusa do comandante do Exército, o golpe provavelmente teria ocorrido.

"Indagado se o posicionamento do general Freire Gomes foi determinante para que uma minuta do decreto que viabilizasse um golpe de Estado não fosse adiante respondeu que sim; que caso o comandante tivesse anuído, possivelmente a tentativa de Golpe de Estado teria se consumado".

Baptista Júnior disse ainda que Bolsonaro teria sido alertado por Freire Gomes que, se continuasse com a tentativa de golpe de Estado, teria que ser preso.

"Em uma das reuniões dos comandantes das Forças com o então presidente após o segundo turno das eleições, depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de institutos previstos na Constituição: GLO (Garantia da Lei e da Ordem), ou Estado de Defesa, ou Estado de Sítio, o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato, teria que prender o presidente da República", detalhou Baptista Júnior.

Os dois ex-comandantes foram para a reserva logo após deixarem os cargos. Eles não responderam aos contatos para pedido de entrevista.

General Marco Antônio Freire Gomes

Comandante do Exército entre março e dezembro de 2022, no período de grande tensão que antecedeu e sucedeu as eleições presidenciais daquele ano. É nascido em Pirassununga (SP) e tem 67 anos. É de família militar, filho do coronel de Cavalaria Francisco Valdir Gomes.

Freire Gomes estudou em colégios militares no Rio e Fortaleza. Ingressou em 1977 na Academia das Agulhas Negras (Aman), onde se formou oficial, três anos depois. Egresso da Cavalaria, é também paraquedista, tendo comandado a 1ª Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio. Foi também das Forças Especiais e, por isso, é chamado de Kid Preto.

Nos Estados Unidos passou pelos cursos de gerenciamento de crise e de contraterrorismo e coordenação intransigências. No Egito, realizou o Senior Mission Leaders Course (Curso para Líderes de Missão Sênior, em tradução livre).

Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos Almeida Baptista Júnior

Comandante da Força Aérea Brasileira na última etapa do governo Jair Bolsonaro (PL), entre 2021 e 2022. Baptista Júnior é cearense e tem 64 anos. A vocação vem de berço, pois é filho de outro ex-comandante da FAB, Carlos Almeida Baptista, que chefiou a corporação durante o último governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Baptista Júnior ingressou na Aeronáutica em 1975 e foi promovido a tenente-brigadeiro em 2018. Possui cerca de 4 mil horas de voo, sendo 2.200 horas em aeronaves de caça. O brigadeiro comandou a Base Aérea de Fortaleza (sua terra natal). Foi também adjunto do adido de Defesa e Aeronáutica nos Estados Unidos, chefe do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro, diretor da Diretoria de Material Aeronáutico e Bélico e vice-chefe do Estado-Maior da Aeronáutica.


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