Ensino Superior
Depois de prova "difícil" no sábado, segundo dia de vestibular da UFRGS foi "dentro do esperado" na avaliação de professores
Candidatos tiveram de responder questões de Biologia, Física, Língua Estrangeira e Química neste domingo, além de escrever redação sobre enchente de maio
Milhares de vestibulandos em seis cidades diferentes disputaram uma vaga de Ensino Superior na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em dois dias de provas, no sábado (30) e domingo (1º). Estão em disputa 4.023 matrículas em exames aplicados em Porto Alegre, Canoas, Gravataí, Novo Hamburgo, Bento Gonçalves e Tramandaí.
Enquanto o primeiro dia de provas testou os conhecimentos dos estudantes em Matemática, Língua Portuguesa, Literatura, Geografia e História, no segundo os participantes tiveram que responder questões sobre Biologia, Física, Língua Estrangeira e Química, além de escrever a Redação sobre o tema "Memória da enchente de 2024 do RS". Na seleção de Língua Estrangeira, os candidatos puderam optar entre inglês, espanhol, italiano, francês ou alemão.
Foi sob forte calor de um dia ensolarado que os vestibulandos encararam a prova do domingo, na Capital. Na espera para realizar o vestibular, do lado de fora do Campus Central da UFRGS, em Porto Alegre, a treineira Lara Duarte, 16 anos, repassava na mente os conteúdos que estudou ao longo do último ano. Ela conta que achou o primeiro dia do concurso tranquilo, e projetou uma segunda etapa com o mesmo ritmo.
Já o candidato Lucas Cassio, 25 anos, que disputou o vestibular da UFRGS pela terceira vez, esperou uma prova mais complexa, já que não abordaria temas que "moram em uma região considerada mais difícil" por ele e que têm peso menor para o curso de Direito, para o qual prestou o concurso.
Na avaliação de professores de cursos preparatórios, a prova atendeu às expectativas de Lara e outros estudantes que se prepararam levando em conta o padrão de vestibulares anteriores. Na avaliação de professores de cursos pré-vestibulares, a prova do domingo estava com nível dentro do esperado, abordando conteúdos já questionados em edições anteriores. Além disso, os docentes dizem ainda que a prova estava bem formulada, sem surpresas, e projetam um bom resultado para os alunos bem preparados.
— Não tivemos nenhuma surpresa, uma prova com os assuntos já tradicionais da UFRGS, nível de dificuldade também, algumas questões mais fáceis e, obviamente, aquelas questões que envolvem fermentação, envolvem a parte mais molecular de DNA com maior nível de dificuldade. Mas isso já é o esperado. Foi uma prova sem surpresas e muito bem elaborada — avaliou o professor de Biologia Davi Frezza, do curso pré-vestibular Fleming Medicina.
Os professores de Química Natália Santos e Andrey Czolpinski, do curso Anglo, também entenderam a prova como dentro do esperado, alinhada ao padrão adotado nos últimos anos.
"Pode-se dizer que duas questões surpreenderam ao resgatar tópicos que não eram trabalhados na UFRGS há algum tempo, abordando propriedades coligativas e gases. Apesar dessas exceções, a prova manteve um perfil bastante tradicional, resgatando o formato que é de costume do vestibular de Química, diferente do ano anterior que teve uma questão anulada e uma abordagem atípica com grau de dificuldade superior ao esperado pelos estudantes que se dedicam a preparação. Um destaque foi a utilização das enchentes como contexto em uma questão de química orgânica, evidenciando uma relação da disciplina com questões ambientais e sociais atuais", pontuaram os docentes por escrito, em conjunto.
Segundo a assessoria de comunicação da universidade, neste domingo não houve transtornos para o início da aplicação das provas. O gabarito do domingo deve ser divulgado às 9h desta segunda-feira (2), que também é quando a universidade deve divulgar informações sobre abstenções e médias do segundo dia de prova.
Redação pede reflexão sobre enchente
A banca do vestibular pediu na redação uma reflexão sobre a enchente de maio de 2024 no Rio Grande do Sul. O texto de apoio foi “Incêndio no Museu Nacional provoca reflexões: o Brasil é um país sem memória?", de autoria do jornalista Leonardo Lichote, mesmo autor do texto base da prova do vestibular de 2020 da UFRGS, publicado no jornal O Globo em setembro de 2018.
Na publicação, o jornalista cita o incêndio que atingiu o Museu Nacional naquele ano, no Rio de Janeiro, para refletir se o Brasil se tornou um país que "deixa sua história queimar". Após apresentar o texto de referência, a prova traz ao candidato uma situação hipotética, em que ele é morador de alguma região do RS que foi afetada pela maior enchente que já atingiu o Estado. Nesta situação fictícia, um grupo de cidadãos apresenta a ideia de criar um memorial sobre a catástrofe.
A proposta é rejeitada por parte da população e o tema passa a ser debatido em audiência pública. Na audiência fictícia, o texto de Lichote é usado como argumento para a construção do espaço de memória. O impasse hipotético, então, convida o candidato a se posicionar sobre os argumentos do texto em uma redação de 30 a 50 linhas.
Enquanto a professora de redação do pré-vestibular Fleming Medicina, Luciana Bergmann, avaliou como uma "excelente proposta", a Elisa Vigna, professora de português e redação do colégio e do pré-vestibular Anglo, considerou uma "escolha insensível" ao abordar a enchente poucos meses depois da catástrofe.
Sábado foi de dificuldades na prova e no acesso
No sábado, o primeiro dia do vestibular ficou marcado por uma prova de Matemática classificada como difícil pelos candidatos, em relatos nas redes sociais, além de dificuldades no acesso ao Campus do Vale — levando ao adiamento do fechamento dos portões. O primeiro dia de prova, além da Matemática, testou os conhecimentos dos participantes em Língua Portuguesa, Literatura, História e Geografia.
Dos 21.684 inscritos para a realização do vestibular, 2.984 (13,76%) se ausentaram, superando a abstenção do ano passado (em 2023, 11,51% dos participantes não realizaram a prova). No total, 18.700 participaram do primeiro dia de provas.
Foram as questões sobre geometria que causaram as maiores dificuldades, na avaliação do professor de matemática e diretor do curso Anglo, Arthur Barcellos Bernd. A prova de Geografia também foi considerada difícil, segundo Rodrigo Vasques, professor de Geografia do curso pré-vestibular Fleming Medicina.
Mesmo antes de enfrentar as dificuldades propostas pelo teste no vestibular, os competidores tiveram de encarar problemas no acesso ao Campus do Vale, que concentra o maior número de candidatos. Houve muito congestionamento na chegada aos locais de prova, o que levou ao adiamento do fechamento dos portões em meia hora, das 14h para as 14h30min em alguns prédios.