Coluna da Maga
Magali Moraes: coisas irritantes
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Não quero cruzar os limites da privacidade e abalar o nosso relacionamento. Então, por favor, não se ofenda. Me inspirei nos intestinos sensíveis (não digo de quem) pra tentar explicar como me sinto nesse mês que já parece durar uma eternidade. Acho que estou sofrendo da Síndrome do Dezembro Irritável. Até fui pesquisar os sintomas do mal que ataca os nervos intestinais, e percebi que existem semelhanças nos embrulhos e desencadeadores: coisas, não alimentos.
A meia que entra no tênis, por exemplo. É irritante o ano inteiro. Mas em dezembro, devido à irritação natural que vem do cansaço acumulado, ela consegue me tirar do sério. A gente quer resolver tudo rapidinho, corre pra lá e pra cá, daí a maldita decide escorregar até o dedão e sumir do calcanhar. Acontece justo quando o tempo está contado, não dá pra trocar de meia. Aquilo vai irritando, e a meia que deveria ter ido fora acaba sendo lavada, voltando depois pro pé.
Fila
Minha Síndrome do Dezembro Irritável também sofre com os imprevistos do dia a dia: a sacola que rasga, a fila que não anda, o mal educado que interrompe e não espera eu terminar de falar, o pão que amanhece uma rocha, o cacho de banana que estraga do nada, a luz que falta, o chato que repete de novo a mesma piada, o xampu que termina sem avisar (é muita coisa pra lembrar). E tem a cidadã que buzina atrás de mim, o louco que costura no trânsito, o lixo que jogam na rua - isso me irrita demais.
Coisas que empacam e não terminam causam uma irritação máxima em dezembro. Eu já deveria estar acostumada. Se aguento firme de janeiro a novembro, por que minhas defesas caem no final do ano? Ah se o desconforto fosse só abdominal. Tem que engolir a ansiedade. A paciência desanda, só resta aceitar que a muvuca de dezembro tá só começando e tentar não me irritar à toa. Um chazinho ajuda. E com você? Tem pessoas que não se abalam: ser à prova de coisas irritantes é um dom divino.