Coluna da Maga
Magali Moraes: Nando Reis e PcDs
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Sorte que eu não mandei sexta à tarde pro jornal a coluna de hoje, como sempre faço. Estava cansada e sem assunto. De noite, fui no show do Nando Reis no Araújo Vianna, aqui em Porto Alegre, e o assunto surgiu na minha frente. Quando Nando entrou no palco com a banda, entrou junto um intérprete de Libras. Durante duas horas, não consegui desgrudar os olhos dele e da guria que se revezavam interpretando com o corpo inteiro e o coração as músicas tocadas.
Não vou muito a shows, mas tenho a sensação de que poucos pensam na inclusão de Pessoas com Deficiência. É mais que colocar rampa de acesso: é receber com dignidade e oferecer uma experiência completa. A grande sensibilidade de Nando Reis pra compor suas canções fez ele perceber isso. Nessa turnê do novo álbum, ele tem o apoio da Vanessa Bruna, deficiente visual e especialista em acessibilidade cultural, que acompanha a turnê pra colocar em prática a atenção aos PcDs.
Camisa
No começo, Nando Reis cumprimentou todos e descreveu a roupa que usava, a cor da camisa, as mangas arregaçadas e o ambiente ao redor. Só aquilo já arrepiou. Daí ele apresentou os intérpretes, e contou que são surdos. Fiquei hipnotizada com seus movimentos. Que incrível observar a maneira com que eles se entregam ao momento, a sincronia corporal e sonora, é dramático e teatral. Eles estão na mesma vibe do show, vivendo cada música - inclusive interpretando os solos instrumentais.
Vi Nando Reis tocar seus sucessos All Star, Relicário, Pra Você Guardei O Amor e Marvin (Titãs), conheci as músicas novas e o cara sensacional que ele é. Sua fala sobre ter vencido a doença do alcoolismo é outro momento que impacta. O filho Sebastião (O Mundo é Bão, Sebastião) tocou junto no palco. Nando dançou, cantou trechos do seu livro Pré-sal, mexeu com nossas emoções. As minhas, que cheguei caminhando, enxergando, escutando. E de quem não pode fazer isso, mas curtiu igual.