Em entrevista
"Pior dia da minha vida", relembra pai que teve bebê trocado em maternidade de Goiás
Revelação ocorreu após um exame de DNA realizado durante o processo de divórcio de um dos casais. Comprovação ainda depende de autorização judicial
Guilherme Luiz de Souza, pai de um dos bebês trocados em uma maternidade de Inhumas, na região metropolitana de Goiânia, emocionou-se durante entrevista nesta quinta-feira (12) ao programa Encontro, da TV Globo, ao descrever os sentimentos vividos no dia em que descobriu a troca. A revelação ocorreu após um exame de DNA realizado durante o processo de divórcio de um dos casais.
— Foi um dia muito triste. O pior dia da minha vida. Ficamos com medo de perder o nosso filho, que a gente criou. Eu e minha esposa dedicamos todo nosso tempo para os nossos filhos. Foi uma sensação de perda, de morte e de luto. Não desejo pra ninguém — relatou Guilherme.
Ele contou ainda que, ao tomar conhecimento da situação, realizou o exame de DNA na mesma data, acompanhado da esposa, Isamara Cristina Mendanha. Guilherme descreveu o impacto ao receber o resultado.
— Parece que o mundo acabou — afirmou.
Yasmin Kessia da Silva e Cláudio Alves, pais do outro bebê, também relataram a angústia da descoberta.
— Dor que não consigo descrever — disse Yasmin.
Ambos prestaram depoimentos à polícia na terça-feira (10).
Novo exame
O delegado responsável pelo caso, Miguel Mota, solicitou um novo exame de DNA. O advogado de Cláudio Alves, Kuniyoshi Watanabe, explicou que não há clareza se o exame solicitado é uma repetição do anterior ou um cruzamento entre os pais e seus possíveis filhos biológicos.
— Nós, advogados, não tivemos acesso a como seria o exame, eis que segue em segredo de justiça — declarou.
A Polícia Civil informou que novos depoimentos serão colhidos nesta quinta e sexta-feira (13). Márcio Rocha, advogado de outra parte envolvida, acredita que funcionários do hospital também serão ouvidos.
A defesa do Hospital da Mulher, onde as crianças nasceram, informou que não irá se manifestar até a conclusão das investigações (veja nota completa ao final do texto).
Entenda o caso
Os bebês nasceram em 15 de outubro de 2021, um às 7h35min e outro às 7h49min, em partos realizados por equipes médicas diferentes. As restrições da pandemia de covid-19 impediram que os pais acompanhassem os nascimentos.
A troca foi descoberta durante o divórcio de Cláudio Alves e Yasmin Kessia da Silva, quando ele solicitou um exame de DNA para comprovar a paternidade. Yasmin também quis realizar o exame.
— Se ele não fosse filho do Cláudio, também não era meu — declarou.
Realizado em 31 de outubro de 2024, o teste apontou que a criança não era filha de Yasmin nem de Cláudio, o que foi confirmado em uma contraprova.
— Eles disseram que o sangue do meu filho não era compatível com o meu. Eu pensei que era um erro. Mas veio a contraprova — relatou Yasmin.
A jovem recordou-se da outra família presente no mesmo dia do nascimento e conseguiu contato com eles por meio de um pastor. Após Yasmin expor a situação, Isamara e Guilherme realizaram o exame com o filho, que também apontou incompatibilidade.
Embora as famílias suspeitem que os filhos biológicos tenham sido trocados, a comprovação ainda depende de autorização judicial. O pedido foi feito, mas, até esta quarta-feira (11), não havia resultados divulgados.
As mães afirmaram não terem tido acompanhamento no parto e só viram os filhos após o efeito da anestesia. Elas não se recordam se havia pulseiras de identificação nos bebês, mas uma foto tirada logo após o parto mostra o filho de Yasmin usando um bracelete.
Yasmin contou que passou mal no parto e se lembra de poucos momentos.
— Acordei e o bebê já estava ao meu lado, minha mãe estava no quarto. Lembro de flashes — relatou.
Isamara disse que viu o bebê já no quarto.
— Eu levei a primeira roupinha do meu primeiro filho para colocar no segundo. E, para mim, veio tudo certo (a roupinha do bebê) — disse.
O marido de Isamara, Guilherme, lamentou a falta de cuidado do hospital.
— É um pesadelo. Acho que ninguém deveria passar por isso. Esse é um erro que os profissionais da saúde jamais deveriam cometer — pontuou.
Para Yasmin, a destroca é algo complexo.
— Acredito que não tem como ter uma destroca. Foi muito tempo, muito cuidado, amamentando meu filho, que mama até hoje. O que queremos é a convivência como uma grande família com nossos filhos biológicos — concluiu.
Nota do Hospital da Mulher
"No momento o hospital não irá se pronunciar até que as investigações sejam concluídas. Como o caso está sob investigação policial e tramita em SIGILO por envolver menores de idade, o hospital está legalmente impedido de fornecer informações acerca do caso à imprensa, em obediência a Lei Geral de Proteção de Dados."