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Para não esquecer

UFRGS instaura Comissão da Memória e da Verdade

Cerimônia ocorreu no Salão de Atos da instituição de ensino, em Porto Alegre. O grupo terá dois anos de trabalho para reunir, organizar e divulgar registros relativos a violações aos direitos humanos cometidos na ditadura

12/12/2024 - 12h24min


Sofia Lungui
Sofia Lungui
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Foram empossados os membros da nova Comissão da Memória e da Verdade “Enrique Serra Padrós”, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A cerimônia ocorreu na manhã desta terça-feira (10), Dia Internacional dos Direitos Humanos.

O evento foi realizado no Salão de Atos da universidade, no centro de Porto Alegre. Marcaram presença a reitora Marcia Barbosa, o vice-reitor Pedro Costa, e o procurador regional dos Direitos do Cidadão da Procuradoria da República no RS, Enrico Rodrigues de Freitas. 

— É preciso dizer que essa comissão não nasce no dia de hoje. Há uma longa jornada que nos antecede. Há décadas, a comunidade acadêmica reivindica uma comissão da verdade na UFRGS. Foram desenvolvidos diversos projetos de ensino, pesquisa e extensão relevantes, que avançaram em temas como expurgos e retirada de títulos de honoris causa — afirmou Roberta Baggio, professora da Faculdade de Direito da UFRGS.

A cerimônia foi aberta ao público e contou com o salão lotado, com a participação de alunos de graduação e pós-graduação, professores e técnicos administrativos. Palavras de ordem como "sem anistia", "pela abertura dos arquivos da ditadura" e "tortura, assassinatos, nunca mais 64" foram ditadas pela plateia durante o evento.

Ao longo de dois anos, a comissão irá reunir, organizar e divulgar registros relativos a estas violações durante o período da ditadura militar, entre 1964 e 1988. Ao final dos trabalhos, previsto para dezembro de 2026, será elaborado um relatório com a sistematização dos materiais e atividades da comissão. Além disso, será criado um site para disponibilizar os documentos digitalizados. 

O grupo é liderado por Roberta Baggio. Também integram a comissão Lorena Holzmann, professora aposentada do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da UFRGS e vice-coordenadora; Carla Simone Rodeghero, professora do Departamento de História do IFCH; Cristina Carvalho, professora aposentada da Escola de Administração; Dóris Bittencourt Almeida, professora da Faculdade de Educação; Frederico Bartz, técnico administrativo da Faculdade de Arquitetura; Letícia Wickert Fernandes, graduanda do curso de Arquivologia da Fabico; Maria Conceição Lopes Fontoura, técnica administrativa da Faculdade de Educação; e Regina Célia Lima Xavier, professora do Departamento de História do IFCH.

Também estiveram presentes na abertura a juíza do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS), Anita Job Lübbe, que é integrante da Comissão de Gestão da Memória do Memorial da Justiça do Trabalho, e Jair Krischke, fundador do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, entre outros.

Testemunhos

A cerimônia também contou com depoimentos de militantes na luta pela construção da memória e da verdade e no combate e denúncia de crimes cometidos durante o regime militar no RS. Marcaram presença o presidente da Comissão da Verdade da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Carlos Gallo, o filho do ex-professor expurgado da UFRGS Ernani Maria Fiori, Paulo Tomás Fiori, e a esposa do ex-professor expurgado da UFRGS Ernildo Stein, Suzana Guerra Albornoz.

Em sua fala, Paulo ressaltou que não houve qualquer reparação ao caso do expurgo de seu pai, Ernani. 

— Ernani acreditava que a memória não é apenas uma ferramenta individual, mas um ato coletivo e político. Para ele, lembrar é resistir à opressão. A ditadura militar buscava controlar a narrativa histórica, apagando narrativas dissidentes e suprimindo verdades inconvenientes — relatou Paulo.


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