Balanço
2024 teve o maior número de mortes no trânsito de Porto Alegre em sete anos
Foram 84 fatalidades nas ruas e avenidas da Capital. Alta em relação a 2023 foi de 18%, segundo dados da EPTC, que ainda avalia os motivos que levaram a este movimento
Oitenta e quatro pessoas morreram em acidentes de trânsito nas ruas e avenidas de Porto Alegre em 2024. O número é o maior para um ano na Capital desde 2017, segundo dados da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC).
Em relação a 2023, quando foram 71, houve alta de 18% no número de vítimas. A alta no ano passado interrompe um período de estabilidade, após uma queda significativa (confira no gráfico abaixo). Em 2017, foram 90 mortes em ruas e avenidas da Capital. Desde então, porém, o total não alcançava as oito dezenas.
Segundo o diretor-presidente da EPTC, Pedro Birsch Neto, ainda não há consenso sobre os motivos para esta alta. Birsch destaca iniciativas que buscam coibir o excesso de velocidade e o consumo de álcool pelos motoristas, como blitze e uso de radares, e levanta uma hipótese:
— Apesar de todos os cuidados clássicos, os acidentes de gravidade vêm aumentando e estamos tentando um diagnóstico para os motivos. A nossa maior desconfiança, embora não tenhamos como provar ou levantar estatística, é o uso, por vezes abusivo, do celular. Por isso, vamos fortalecer ações com esse foco para o ano que vem — avalia o diretor-presidente da EPTC.
O total de acidentes registrados na Capital no ano teve queda. Foram 14.853 em 2024, ante 15.233 em 2023. Portanto, embora tenham sido menos ocorrências, elas foram mais graves.
O especialista em mobilidade e presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego do Rio Grande do Sul (Abramet-RS), Ricardo Hegele, também cita fatores como a má formação dos condutores e problemas estruturais nas vias, como sinalização inadequada ou insuficiente.
— Esses fatores, os quais nós temos alguns estudos, congregam para um risco maior aos motoristas como um todo. Nisso, também entra o comportamento dos próprios condutores, que muitas vezes estão com excesso de velocidade nessas vias com problemas, falta de sinalização e com uma formação inadequada.
Segundo a EPTC, ações de fiscalização, como as blitze, foram ampliadas ao longo de 2024, o que pode ter evitado uma alta ainda maior dos registros.
— O álcool a gente vem combatendo com o Balada Segura, e automóveis sendo dirigidos por pessoas sem habilitação nós viemos controlando com blitze. É uma coisa incômoda para quem tá andando na rua, mas enfim, não temos outra maneira de tentar retirar essas pessoas de circulação. Apesar de todas as nossas iniciativas, os números ainda são expressivos — reconhece o diretor-presidente do órgão, Pedro Birsch Neto.
Motociclistas são maior parte das vítimas
Das 84 pessoas que morreram no trânsito de Porto Alegre em 2024, conforme o balanço da EPTC, 64 são homens.
Quanto à situação das vítimas no momento da ocorrência, 48 conduziam veículos, enquanto 29 eram pedestres e sete eram passageiros.
Dos 80 acidentes fatais, 39 envolveram motocicletas, vitimando 32 motociclistas, uma pessoa que estava na carona de uma moto e seis pedestres.
— O risco deles (motociclistas) é maior, sem deixar de lado os pedestres. Só que além da fragilidade, no caso do motociclista, em muitos casos, há o excesso de velocidade e a própria condução, pois eles acabam não tendo uma segurança maior na própria formação deles — avalia Hegele.
O presidente da Abramet-RS também pondera que, muitas vezes, os motociclistas circulam em atividade profissional, fazendo entregas, por exemplo, e acabam se arriscando mais em razão disso:
— Em Porto Alegre, nós temos uma formação que ainda não é ideal, com pessoas jovens que não são treinadas para reagir a determinadas situações. Muitas vezes, eles estão com situações de estresse e pressão no próprio trabalho, com isso, acabam se arriscando no trânsito para fazer uma entrega. Aí, entra novamente a velocidade, combinada com a competição entre veículos no trânsito e as vias com um número excessivo de veículos circulando.
O presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindimoto), Valter Ferreira da Silva, avalia que falta fiscalização para garantir mais segurança aos motociclistas. Segundo ele, 23% dos condutores de motos que circulam por Porto Alegre não têm a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Além disso, Silva aponta o descumprimento da lei que prevê curso específico para motociclistas que exerçam atividade remunerada, como transporte de passageiros e mercadorias.
— Há muito conflito entre motociclista e motorista. As motos são mais rápidas e há muitos motoristas que ficam mais no celular e com o volante na mão e sem prestar atenção. Isso provoca muitos acidentes, não só com motociclistas, mas também com pedestres — analisa.
Para o presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais, a implantação de faixas exclusivas para motociclistas em vias movimentadas de Porto Alegre seria uma medida positiva.
Avenidas
De acordo com a EPTC, as vias de Porto Alegre com mais acidentes fatais em 2024 foram as avenidas Sertório, na Zona Norte (três ocorrências, quatro mortes), e Bento Gonçalves, que tem grande parte de seu traçado na Zona Leste (quatro ocorrências, quatro mortes).
— As duas avenidas têm um corredor de ônibus, que acaba comendo muito espaço de deslocamento dentro da via. A Bento Gonçalves, em quase toda a extensão, tem três faixas, mas uma fica inteira para a utilização do ônibus. Para a população, de modo geral, ficam duas faixas. Então, qualquer obra, qualquer cone, caminhão parado na via, acaba causando um grande transtorno — comenta Rafael Fanganito, diretor do Aplicativo Sintáxi.
A maior parte das ocorrências foi registrada entre a noite e a madrugada.
— Nesses momentos, não há tanto movimento e volume de veículos, gerando aquela situação em que o motorista imprime maior velocidade, sem ter o cuidado necessário. Muitas vezes, a ação prejudica a visibilidade, estreitando o campo visual natural do condutor. Assim, vai gerando um risco maior, por exemplo, de não perceber um veículo que vai ingressar na via, ou um pedestre que vai atravessar — analisa o presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego do Rio Grande do Sul (Abramet-RS), Ricardo Hegele.