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Governo do RS teria deixado de investir cerca de R$ 1,3 bilhão em saúde, diz Tribunal de Contas do Estado

Constituição Federal prevê que as administrações estaduais precisam aplicar pelo menos 12% da receita. Para o TCE, a verba destinada em 2023 está cerca de 3% abaixo da previsão legal. Piratini afirma que emprega mais de 12%

15/01/2025 - 11h55min


Alberi Neto
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Giovani Grizotti
Jefferson Botega / Agencia RBS
sistema de informações sobre orçamentos públicos de saúde, do governo federal, aponta um investimento de 12,17% do RS na área da saúde em 2023.

As filas de consultas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) da Secretaria Estadual da Saúde e da prefeitura de Porto Alegre acumulam, juntas, 670 mil pedidos. De acordo com o Tribunal de Contas do Estado, órgão responsável por fiscalizar despesas e receitas, o governo do RS teria deixado de aplicar em saúde cerca de R$ 1,3 bilhão. A reportagem se refere somente ao período de 2023. As contas de 2024 ainda não foram analisadas.

A Constituição Federal prevê que os governos estaduais precisam investir pelo menos 12% da receita. Para o TCE, a verba destinada está cerca de 3% abaixo da previsão legal.

— No nosso entendimento, o valor acabaria sendo um pouco superior a 9%, porque algumas rubricas consideradas não necessariamente seriam vinculadas à atividade da saúde como um todo. No somatório desses valores, estima-se um percentual um pouco inferior a 3% desses 12%, o que resultaria em algo em torno de 9%, 9,3% — explica o diretor de controle e fiscalização do TCE, Roberto Tadeu de Souza Júnior.

Conforme relatório do Conselho Estadual de Saúde, referente ao ano de 2023, o Estado teve uma receita de mais de R$ 46,5 bilhões, e o investimento em saúde foi de pouco mais de R$ 4 bilhões, o que equivale a 8,8% do total arrecadado.

O sistema de informações sobre orçamentos públicos de saúde, do governo federal, aponta um investimento de 12,17% do RS na área da saúde em 2023. Os dados são preenchidos pelos próprios Estados da federação.

O TCE tem um entendimento diferente sobre o percentual disponibilizado. Conforme o órgão, o governo do Estado estaria incluindo investimentos que não estão previstos na lei. Os gastos incluiriam o IPE-Saúde, contribuições patronais de inativos, cobertura do déficit de pensionistas e inativos, além de contribuições previdenciárias de pensionistas. Em 2018, uma decisão da Justiça determinou que investimentos desta ordem não podem ser incluídos no cálculo do que é aplicado na saúde.

A Secretaria Estadual de Saúde informou à RBS TV que aplica os 12% da receita líquida em ações e serviços públicos de saúde, seguindo critérios estabelecidos nesta área há cerca de 15 anos. A pasta disse ainda que "o governo enfrentava enormes dificuldades financeiras, e que mesmo assim quitou a dívida de pouco mais de R$ 1 bilhão herdada de gestões anteriores", e investiu R$ 1 bilhão somente através do programa "Avançar na Saúde".

Por fim, a SES afirmou que "sobre eventual não aplicação dos 12% constitucionais, ainda estão pendentes conclusões, mas, independentemente desta definição, os investimentos na saúde em 2024 ultrapassaram R$ 6,1 bilhões".

Porto Alegre

Quando a gestão plena da saúde cabe aos municípios, caso de Porto Alegre, a meta é de 15% da receita. Segundo a prefeitura, o índice foi superado em 2023, quando foram investidos 21,58% do total arrecadado.

O TCE não apontou irregularidades na prestação de contas da prefeitura de Porto Alegre. Já o Conselho Municipal de Saúde, historicamente tem reprovado os relatórios da Secretaria da Capital, apesar do investimento mínimo ser cumprido.

— Cumpre a Constituição, cumpre com o mínimo constitucional, porém o mínimo constitucional é insuficiente para dar conta — diz Maria Letícia de Oliveira Garcia, integrante do Conselho.

O Conselho Municipal discorda da maneira que os valores são aplicados, em forma de investimentos suplementares — ou seja, que vão sendo acrescentados ao longo do ano.

O secretário da Saúde, Fernando Ritter, alega que "na medida que vai se aumentando a receita ou vai se remanejando recursos de outras secretarias, porque não consegue executar ou porque teve um impedimento ou porque entendeu-se que não é prioridade, nós vamos ao longo do tempo fazendo essas suplementações".


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