Piquetchê do DG
Lenda da Cigana de Vacaria, conhecida em rodeios, vira curta-metragem
Baseado em uma história popular, o trabalho de ficção tem direção de André Arteche e produção de Joana Casagrande
Vacaria, assim como outras cidades do Rio Grande do Sul, tem como uma de suas maiores riquezas não apenas as paisagens e a cultura, mas as histórias e lendas que permeiam o imaginário dos moradores. Agora, uma das mais famosas ganhou vida através de um filme. A Lenda da Cigana de Vacaria é um curta-metragem com direção e roteiro de André Arteche, produção e atuação de Joana Casagrande, e composição de Pirisca Grecco.
A história está enraizada entre os vacarianos. A lenda conta que uma cigana, ao chegar em um rodeio e pedir um copo d’água, foi rejeitada. Em sua ira, lançou uma praga: todos os anos, durante o Rodeio Internacional de Vacaria, uma tempestade desabaria sobre as arquibancadas e a cancha da gineteada, atingindo prendas, caudilhos, idosos e crianças. No entanto, o povo é resiliente e corajoso, e nem mesmo a fúria da cigana consegue acabar com a festa. O projeto foi contemplado no edital da Lei Paulo Gustavo.
– Nós estávamos conversando sobre algumas ideias e a Joana comentou que existia a lenda, que é muito conhecida. Começamos pensando em um formato para teatro, mas quando surgiu o edital colocamos na forma de roteiro de cinema para o curta-metragem e ganhamos. Fizemos alguns questionamentos para desenvolver o roteiro e criamos uma história de ficção sobre a lenda – explica Arteche.
Uma curiosidade da lenda, conforme Arteche, é que alguns moradores dizem que realmente aconteceu e que a cigana existiu.
– O que de fato tentamos fazer foi humanizar a história, entender o que teria se passado com a cigana, construímos um entorno. A ideia era criar uma narrativa que fosse fiel ao imaginário local, mas que também pudesse ressoar uma mensagem boa para o público – relata o diretor, destacando que o enredo tem Pirisca contando a lenda para uma criança.
Quase 200 pessoas da comunidade de Vacaria e do CTG Porteira do Rio Grande estiveram envolvidas na gravação do curta, contribuindo com elenco, locações e figurinos.
Criada em Vacaria, Joana Casagrande reforça que em diversas edições do rodeio realmente aconteceram tempestades:
– Todas as vezes que arma um temporal, as pessoas começam a comentar sobre a cigana. No rodeio em que eu fui, em 2018, teve uma encenação da cigana. Ela entrava na cancha e pedia água. Todas as pessoas negavam, mas uma delas lhe serviu água. Assistindo isso, pensei na história maravilhosa que estava ali.
Ela iniciou uma pesquisa sobre a história e também entrevistou ciganos. Mas além de produzir e atuar, Joana levantou o questionamento das razões para uma cigana, mulher, aparecer sozinha, sendo que a comunidade cigana anda em grupos:
– O que mais me atrai na personagem é o misticismo, porque os ciganos lidam com as energias da natureza. É uma mulher, que por ter uma mágoa, consegue evocar a chuva com a intenção de matar a própria sede e atrapalhar a festa daquele lugar. Mas, ao mesmo tempo, ela é uma mulher generosa.
O filme já foi exibido em escolas públicas de Vacaria, como contrapartida da Lei Paulo Gustavo. O curta-metragem estará disponível nas plataformas digitais em breve, conforme Arteche. A disponibilização da produção ainda precisa seguir requisitos do edital e também estará concorrendo com ineditismo em festivais.
O rodeio é bienal e sua próxima edição está prevista só para 2026, entre os dias 31 de janeiro e 8 de fevereiro.
– Não sabemos se no próximo rodeio vai ter chuva ou não, pois nossa intenção também foi de quebrar a lenda e que a cigana pudesse perdoar a comunidade cigana e campeira através do olhar de uma criança. Esperamos que ela tenha encontrado paz agora – reflete Joana.