Achei que já fosse assunto velho o bolo envenenado em Torres, RS, na véspera do Natal do ano passado. Que nada, a notícia segue com novos fatos. Vai dizer que não parece trama de novela? Sogras e noras alimentam a imaginação de roteiristas, escritores e compositores. Na música “Amiga da minha mulher”, uma sogra fictícia avisa Seu Jorge que não está certo, é melhor parar. No reality da Netflix “Ilhados com a Sogra 2”, nem precisa de bolo pra dar treta (basta o prêmio).

Quanto mais eu leio sobre esse crime, mais chego a uma conclusão: querem acabar com a imagem do bolo, essa entidade carregada de simbologia que nutre nossas memórias afetivas. Bolos são fofos até quando abatumam. Bolos são recheados de afeto, mesmo gerando dúvida se nesse caso são chamados de torta. Bolos são à prova de suspeita. Lembrei da vez em que botei por engano sal em vez de açúcar num bolo, e só não levei pra minha sogra porque antes resolvi experimentar.

Arsênio ou arsênico? Isso parece aquele meme do novo medo desbloqueado com sucesso. Não era a farinha de trigo branca o maior veneno pra saúde? Hoje em dia, tem que cuidar se é farinha integral (quanto por cento?), se pode substituir por farinha de aveia, de arroz, de linhaça ou de amêndoa, se tem glúten ou algo que gere inflamação no corpo. E agora, checar se tem veneno real. De novo, vem à mente aquela cena de filme: o vilão botando veneno de rato na comida de alguém.

Coincidência ou não, tenho evitado comer bolo desde dezembro. Culpa da nutri, que me enquadrou na alimentação saudável. Cheguei a salivar, pensando em todos os bolinhos gostosos que deixei de atacar de lá pra cá. Era um vício irresistível, e nunca me preocupei se teria ou não arsênio ou arsênico. Bolos abrem o apetite por receitas novas. Bolos são brincalhões, como o Formigueiro. Bolos são contraditórios, como o Mármore fofinho e úmido. Já os bolos natalinos são caso de polícia.

Leia outras colunas da Maga