Coluna da Maga
Magali Moraes: sem noção
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Precisamos falar sobre a atividade antes conhecida como dar uma passadinha no súper. O diminutivo envolvia toda a experiência: poucos minutos, poucas compras, pouco dinheiro. Não doía nem no bolso, nem no tempo. Essa passadinha era um passatempo pra quem gosta de sair de casa, olhar as novidades e ver gente. Algo tão rotineiro que inventaram os carrinhos menores de compras como uma opção aos cestinhos. Espaço reduzido, jogo rápido. Surgiu até a fila pra poucos itens.
Mas essa conta não fecha. Como pode pegar três ou quatro produtos e gastar quase R$ 100? Tem a função de dar (ou não) o CPF, de fazer parte (ou não) do clube de compras, dos compromissos do dia. Queremos nos livrar logo, pagar e ir embora. E vamos esquecendo do olhar crítico nos preços, de nos perguntar se precisamos (ou não) do que estamos comprando. Saber o valor do quilo das coisas na ponta da língua, comparar e simplesmente não levar o que mais parece uma piada de mau gosto.
Rancho
Se as comprinhas rapidinhas dessa passadinha podem custar um dinheirão, imagina o rancho da semana. Na farmácia, outra facada. Na gula do fíndi, também. O crepe da praia com preço de xis, o xis com preço de pizza, a pizza com preço de rodízio. O hambúrguer gourmetizado é outro que perdeu a noção. E o espeto corrido, quem consegue ir? Deve estar custando o preço de um boi. Houve um tempo em que as churrascarias de bairro eram convidativas, melhor se banquetear em casa mesmo.
Comida a gente precisa pra se manter vivo. E todo o resto? As roupas, os eletrônicos, os carrinhos cheios das compras online? Recomendo assistir ao documentário A Conspiração Consumista na Netflix. Faz pensar e rever os hábitos. Na verdade, a gente precisa de muito menos. É fácil cair na armadilha de achar que mais uma blusinha vai resolver a vida. Nesse caso, os sem noção somos nós. Porque os fabricantes e vendedores sabem muito bem o que estão fazendo.