Nove meses após cheia
Abandono do trecho 1 da Orla gera frustração a comerciantes e risco a pedestres
Sem previsão de data para revitalização, área atingida pela enchente de maio está com bares fechados e já foi cenário de acidente com criança

— A gente colocou aqui economias, o que a gente tinha, a gente colocou trabalho, colocou suor, sonhos, e hoje a gente vê isso tudo abandonado.
A declaração acima resume o sentimento de Leandro Oliveira, dono do empreendimento Sunset Poa, localizado no trecho 1 da orla do Guaíba, em Porto Alegre, que foi atingido pela enchente de maio do ano passado e ainda não tem previsão de ser revitalizado.
A reportagem de Zero Hora esteve no local na segunda-feira (24) e constatou a situação de abandono de um dos principais pontos turísticos da Capital. O trecho, que vai da Usina do Gasômetro até próximo à Rótula das Cuias, está com os bares todos fechados e com banheiros químicos instalados em frente aos sanitários que foram desativados. Placas indicam a interdição total dessa área, mas não há isolamento e pessoas conseguem circular normalmente.
Como não há atrativos, o movimento de pedestres é ameno no local. Mesmo assim, pessoas aproveitam a localização privilegiada para admirar a bela paisagem do Guaíba. As condições atuais do espaço, contudo, podem acabar transformando um momento de lazer em risco e dor de cabeça.
Foi o que aconteceu no dia 14 de fevereiro com a família de Viviane Ferle. Ela caminhava com o marido e as filhas na plataforma de madeira que fica sobre o Guaíba quando uma das meninas se machucou.
— Nos distraímos justamente com o espaço que está interditado dos bares. Caminhamos olhando para eles. Não tinha nada de isolamento e não enxergamos a placa indicando que aquele lugar não deveria ser visitado. Minha filha de 10 anos caiu com a perna direita em um buraco, que não era imenso, mas foi o suficiente para a perna dela descer toda até a altura do joelho. Quando a gente retirou a perna dela dali, vimos que estava completamente ensanguentada. Tinham dois pregos bem grandes pendurados naquele buraco — relembra.
A família foi até o Hospital de Pronto-Socorro (HPS) com a menina, que precisou tomar pontos na perna.
Na tarde desta terça-feira (25), a reportagem retornou ao local e observou que parte do gramado havia sido cortado, e o buraco onde a filha de Viviane se machucou foi tapado provisoriamente com uma tábua de madeira.
Há sinalização no local indicando que a área apresenta risco e está interditada. No entanto, o alerta está escrito em placas pequenas colocadas na guarda da plataforma. Ou seja, não há como ler o aviso de longe, sem antes subir na estrutura.
Procurada, a Secretaria do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) reafirmou que não há previsão para o início das obras n trecho 1 da orla e argumentou que "há necessidade de recursos financeiros para tornar o espaço mais resistente a possíveis eventos climáticos extremos". A pasta acrescentou que "quanto à manutenção do espaço, a prefeitura já trabalha para corte da grama, capina e finalização".