Notícias



Cortado, só na xícara

Café é encontrado a R$ 35 em Porto Alegre; supermercados estimam alta nos preços até abril 

Zero Hora passou por 10 estabelecimentos de diferentes regiões da cidade e comparou valores das quatro marcas mais presentes no comércio. O preço mais baixo encontrado para o pacote de 500 gramas foi R$ 21,99

21/02/2025 - 12h22min


Kathlyn Moreira
Kathlyn Moreira
Enviar E-mail
Kathlyn Moreira / Agência RBS
Apesar da elevação, Agas não notou queda nas vendas do produto.

Mesmo quem gosta de tomar um café purinho, sem nada de açucar, não pode negar que o hábito está mais amargo nos últimos tempos. Com a alta no preço do grão moído, quem mora em Porto Alegre pode pagar até R$ 35 por um pacote de meio quilo do produto. É o que mostra levantamento de Zero Hora, produzido na quarta-feira (19), em consulta a estabelecimentos de bairro, supermercados e atacados.

A reportagem passou por 10 estabelecimentos de diferentes regiões da cidade anotando os preços de quatro marcas de café mais presentes no comércio. O preço mais baixo encontrado foi R$ 21,99, em um mercado no bairro Menino Deus, onde em outros dois estabelecimentos também apareceu o mais alto, R$ 34,99, replicado em um mercado no bairro Santa Maria Goretti.

Apesar da elevação, a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) não notou queda nas vendas do produto. Conforme o presidente da Agas, Antônio Cesa Longo, a expectativa é de que até o mês de abril esse cenário não mude.

— Continua tendência de alta. A cada 15 dias, os supermercados recebem nova tabela. A expectativa é de que até o mês de abril esse cenário não mude. O que está acontecendo é o aumento da venda de embalagens menores, mas as pessoas, até o momento, não estão abrindo mão da qualidade, o volume vendido nos mercados ainda não teve queda — analisa Longo.

"Paga mais caro, mas a qualidade é boa"

Fazendo compras em um supermercado no bairro Cidade Baixa, o lojista Stefanos Gómez, 57 anos, confirma a avaliação da Agas. Mesmo sentindo o aumento dos preços, ele optou por manter o consumo pela qualidade do produto.

Café e erva-mate, mesmo que estejam com valor alto, a gente vai tomar e vai usar. Então, não adianta. Paga mais caro, mas a qualidade é boa. Paciência.

STEFANOS GÓMEZ

Lojista

No Brasil, o preço do café moído subiu 50,35% no acumulado de 12 meses, no período de janeiro de 2024 a janeiro deste ano, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na região metropolitana de Porto Alegre, a alta foi de 54,53%.

Na avaliação da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), a principal causa do aumento nos preços são os eventos climáticos que trouxeram problemas para a lavoura, como geada em 2021, enchente em 2024 e as chuvas do fenômeno La Niña. Também são mencionados o aumento na demanda global, as dificuldades de logística que o Vietnã teve para enviar café para a Europa e o impacto do dólar, que elevou as cotações das sacas.

A entidade projeta que preço do café deve continuar subindo pelo menos até a safra deste ano, que começa a ser colhida em abril. A mudança no preço só deverá acontecer a partir do próximo ano.

Preço do ovo também está subindo

Kathlyn Moreira / agência rbs
Antônio Carlos Granato diz que ainda não notou elevação significativa no preço dos ovos, mas já está alerta.

E se no café da manhã não pode faltar omelete, aí que a refeição fica indigesta. Afinal, o preço do ovo também está começando a chamar a atenção para uma elevação. 

Comparando-se os valores da caixa de 12 unidades de ovos brancos, que é a mais facilmente encontrada nos mercados, a reportagem percebeu variação de até R$ 5 nos mesmos mercados visitados. O menor preço encontrado foi R$ 9,99, e o maior, R$ 14,90, ambos na região dos bairros Azenha e Menino Deus.

No ovo caipira, a margem de preços é maior para a caixa de 12 unidades, com diferença que chega a R$ 12,90. Nesse produto, o preço mais baixo encontrado foi R$ 10,99, no bairro Azenha, e o mais alto, R$ 23,90, no bairro São João.

Em um dos mercados visitados pela reportagem, o aposentado Antônio Carlos Pereira Granato, 72, comprava duas caixas grandes de ovos. Ele afirma que não notou ainda elevação significativa, mas prevê que, se o valor mudar, vai impactar no trabalho da esposa, que prepara alimentos para venda.

As quentinhas já vão encarecer alguma coisa, né? Mas aí a gente tem que ver depois para estabelecer o novo preço ou não.

CARLOS PEREIRA GRANATO

Aposentado, sobre o impacto do valor ds ovos na venda de alimentos produzidos pela esposa

O presidente da Agas já adianta que o consumidor deve preparar o bolso, porque a tendência é que os ovos também vão subir mais nos próximos meses.

— Esse aumento nos ovos é uma situação da deportação da mão de obra dos Estados Unidos, que é o maior produtor e exportador de ovos. Realmente fez com que o Brasil aumentasse as exportações, então a tendência é de alta, aliada, ainda, à situação das enchentes — diz Longo.

O presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, explica que o setor está sendo impactado por questões locais, como a enchente do ano passado — que afetou as áreas de produção avícula, provocando  mortalidade de aves, destruição de aviários  e obstrução de estradas e pontes — e pelo mercado norte-americano.

— Em 2025, o calor excessivo interfere na produção, e tem também o que acontece nos Estados Unidos, com influenza aviária, mortalidade de mais 14 milhões de aves, falta de ovos no mercado americano. O preço da dúzia chegando a quase US$ 8 a US$ 10 dólares, quase R$ 90 — explica.

Diante desse cenário, Santos confirma que a estabilização de preços ainda vai demorar alguns meses para acontecer:

— Teremos ainda um período de preços acima da média, mas, ao mesmo tempo, a tendência de termos uma estabilidade nos próximos dois ou três meses — estima.

Últimas Notícias