Coluna da Maga
Magali Moraes: saudosismos esquisitos
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
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Esses dias, deu saudade dos cabides de madeira. Não esses novos e caros, que praticamente abraçam as roupas e não deixam marcas pontudas nos ombros. O saudosismo que me pegou de repente foi dos cabides antigos que vinham nas entregas das lavanderias (ou era o que tinha pra comprar, não lembro mais). Sabe aqueles bem fuleiros, mas que resolviam a vida? Eles tinham muitas utilidades, deve ser por isso que ninguém se importava com as pontas que marcavam as roupas.
Os cabides de hoje têm as costas largas. Parece até que fazem musculação todos os dias e treinam forte o trapézio, ombros e tríceps. Minha saudade é magrinha e curvada. Os cabides de madeira do passado eram finos, tortos, desmilinguidos. Sinceramente, não sei como eles seguravam camisas, fatiotas, vestidos e casacos. Como sobreviviam nos armários de inverno, com tantos looks pesados? Se a minha memória não falha, ganhar esses cabides valia o sacrifício e o desequilíbrio.
Mágica
Lembrei desses cabides porque eles fazem falta. Eu queria mesmo só a parte de baixo. Como eram frágeis, o arame acabava soltando da madeira. E aí, a mágica acontecia. O arame virava artesanato, retorcia de propósito, ganhava vida. Os mais azarados eram esticados e usados pra desentupir canos e outros serviços ingratos. Já a parte de madeira era quase uma extensão do braço. Com ela, dava pra alcançar em cima do armário, embaixo da cama, em qualquer cantinho impossível.
Tenho outras saudades estranhas. De chocolates que não existem mais. De perfumes descontinuados. De fotos esbranquiçadas. Do gosto açucarado do xarope de groselha da infância. Do ardido do Merthiolate e do ventinho na pele da minha mãe assoprando. De forrar as capas dos cadernos no começo do ano letivo. Dos recreios no colégio e das fofocas na fila do bar. De conferir as respostas das provas. Do cheiro de álcool do mimeógrafo. Do barulho das teclas da máquina de escrever.