Papo Reto
Manoel Soares: "A raiva"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
A raiva é um combustível instável. Quando estamos à flor da pele, nosso sangue ferve e, às vezes, saímos do controle, falando e fazendo coisas que não fazem parte de nosso comportamento habitual. A raiva solta em nosso organismo um hormônio chamado cortisol.
Esse hormônio era aquele que vinha quando o homem das cavernas via um tigre. Se ele tivesse como, corria, se não tivesse como, atacava o tigre e lutava pela vida. A raiva é resultado de alguma situação de medo. Não necessariamente é o medo da pessoa que nos provoca a raiva, mas o medo de perdermos um momento ou lugar de conforto que conquistamos. Por exemplo, quando alguém faz intriga sobre a gente, ficamos com raiva. Ela é resultado do medo que temos que essa fofoca se espalhe e contamine a imagem que as pessoas têm de nós.
Quando as pessoas estão no modo de sobrevivência, nos autorizam a fazer o que acreditamos, naquele momento, ser necessário para sobreviver. Porém, temos que tomar cuidado, pois a raiva provoca ilusões emocionais. Tudo fica maior quando a raiva está presente: uma forma de olhar, um gesto de desdém, uma palavra mal colocada, um fato do passado. Tudo que causaria um pequeno desconforto vira uma ofensa pessoal.
Habilidade
As brigas que começam na raiva geralmente resultam em desavenças que perduram por um longo tempo. Pessoas inteligentes entendem que não podemos cobrar explicações com raiva, pois passamos um boleto de sentimentos que está inflacionado, ou seja, cobramos mais do que realmente vale.
Minha dica é que a raiva não seja um guia de suas ações. Se sentir que está brotando uma ponta de raiva, saia ou fique em silêncio, pois o estrago da raiva não pode ser consertado com facilidade. A raiva não é um mecanismo de defesa. É um mecanismo de destruição. Pensar, mesmo com raiva, é uma habilidade que temos que nutrir.