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Deixados na praia

Voluntários lidam com falta de apoio e estrutura para acolher animais abandonados no Litoral Norte

Levantamento com oito prefeituras da região apontam que apenas duas possuem abrigos públicos; há falta de veterinários e centros para tratamento de doenças

17/02/2025 - 10h45min

Atualizada em: 17/02/2025 - 10h45min


Guilherme Milman
Guilherme Milman
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Guilherme Milman / Agencia RBS
Estrutura da AJA para cuidar de gatos abandonados em Xangri-lá.

O final de veraneio é anualmente marcado por um problema no Litoral Norte gaúcho: o abandono de animais. Muitas pessoas, ao deixarem seus postos nas praias, acabam não levando seus pets de volta pra casa. Há ainda pessoas que esquecem de levar os bichinhos no seu retorno. A prática é considerada crime no Brasil.

Ainda que não seja possível contabilizar quantos animais são abandonados por ano, a necessidade de resgatar e auxiliar bichos em más condições é um desafio para uma região que ainda carece de políticas públicas na proteção animal.

Um levantamento feito por Zero Hora em oito municípios do Litoral Norte aponta que apenas duas possuem um espaço para abrigar animais: Tramandaí - que está fechado para reforma - e Capão da Canoa. Seis prefeituras afirmaram não ter nenhuma estrutura para acolher animais: Torres, Arrorio do Sal, Xangrilá, Imbé, Cidreira e Balneário Pinhal.

Protetores afirmam que, mais importante que possuir um local para abrigar os animais, é ter uma política de assistência para deixar os pets em boas condições de adoção. Ainda que a maioria destes municípios possuam uma estrutura básica de atendimento, alguns lugares carecem de serviços fundamentais.

Em Arroio do Sal não há atendimento para castração e microchipagem (método para identificar animais perdidos ou abandonado) disponíveis. Em Capão da Canoa há relatos de falta de veterinários. A prefeitura não respondeu o questionamento. Em Balneário Pinhal não há centros de zoonose (destinados a tratamentos de doenças) à disposição atualmente. Em Cidreira, o serviço foi retomado em 30 de janeiro.

Com a escassez de serviços públicos, Organizações Não Governamentais (ONG’s) fazem um trabalho de auxílio, assistência e acolhimento. Nos oito município litorâneos citados foram mapeados seis entidades atuantes na causa animal (veja lista abaixo). Nem todas possuem estrutura para resgates.

Guilherme Milman / Agencia RBS
AJA só possui espaço para cuidar de gatos abandonados.

A ONG Ação e Justiça Animal (AJA) foi criada há cerca de nove meses em Xangri-Lá. Inicialmente o objetivo era acolher animais resgatados da enchente. Com o tempo, a iniciativa passou a se voltar para atendimento de cães, gatos e outro animais abandonas e vítimas de maus-tratos em praias gauchas.

A AJA atualmente possui apenas estrutura de gatil, acolhendo cerca de 40 gatos. Não há espaço suficiente para abrigar cães. Quando localizado um animal abandonado, voluntários costumam oferecer lares temporários, cuidando dos bichinhos até que apareça um tutor definitivo. O principal desafio é lidar com uma baixa estrutura em meio a um aumento populacional.

— Muitas das ONGs aqui do litoral não tem uma estrutura física. São pessoas que se unem e fazem um trabalho mais burocrático e educativo do que o acolhimento em si. Nós temos uma população “flutuante”, são muitas pessoas que migram pra cá no verão e acabamos tá tendo um aumento expressivo da população de cães e gatos — afirma a presidente da ONG Mariane Lavieja.

Presidente da ONG Pega Bixo, de Cidreira, Leda da Silva Rolim reconhece que nem sempre é possível dar conta da alta demanda. A organização auxilia na castração e resgates de animais, mas não possui uma sede específica para cuidá-los.

— O abandono é muito grande no fim do veraneio, e não damos conta de socorrer tanto animalzinho, que muitas vezes na hora do abandono ,são atropelados. Esse ano está pior ainda, já que estamos com muitos casos de esporotricose no municipio (doença causada por fungos que pode causar a morte de gatos).

O que fazer em caso de abandono

O abandono é configurado como maus-tratos, o que é considerado crime pela lei federal 9.605/98, sujeito a pena de 1 até 4 anos de detenção.

Caso encontre um animal abandonado ou aparentando maus-tratos é possível acionar a Brigada Militar, através do 190, ou ONGs especializadas.

O que dizem os municípios

Torres

A prefeitura possuía um canil construído em 2005. No entanto, foi interditado pela Justiça por não possuir condições estruturais, e por ficar próximo ao Parque Estadual de Itapeva, o que poderia acarretar em um impacto na fauna e flora do local. Ainda assim, cerca de 40 cães permanecem no local sob os cuidados de um médico veterinário.

O município diz ter comprado uma área de 4,5 hectares que irá se tornar um centro de bem-estar animal, para abrigar gatos, cachorros e cavalos. O local ainda precisa passar por licenciamento para poder atuar. A prefeitura acredita que isso será feito em até 120 dias.

Enquanto isso animais abandonados são enviados a três locais de hospedagem credenciados, que servem como lares temporários.

Arroio do Sal

A prefeitura de Arroio do Sal informa que está sem realizar serviços de castração e microchipagem, alegando terem sido descontinuados na gestão anterior. A administração reforça que pretende retomar os atendimentos em breve. O município não possui abrigos para animais.

Capão da Canoa

A prefeitura de Capão da Canoa ressaltou que possui um abrigo. Até sexta-feira (14) havia 13 cães para adoção e quatro gatos recém-nascidos.

Questionado sobre a falta de veterinários, o Executivo não se manifestou até o fechamento da reportagem.

Xangri-lá

Não há abrigos públicos para animais do município. O Departamento de Bem-Estar Animal realiza atendimento com veterinária de segunda a sexta das 8h às 17h.  Segundo o departamento, está disponível o serviço de castração gratuita. Tendo sido castrados de 150 a 180 animais por mês, além de captura de felinos selvagens para fazer castração. Há também diligências de servidores em casos de maus-tratos e um Espaço para animais portadores de doenças como esporotricose.

Imbé

O município de Imbé informa que não há canil no município, mas sim um acordo de cooperação com a Associação Imbeense de proteção aos Animais - Aimpa, que dentro de sua capacidade física, abriga animais encaminhados pela prefeitura, que são vítimas de maus-tratos tratos e doentes. A prefeitura afirma dispor de atendimento veterinário domiciliar gratuito para animais de famílias em vulnerabilidade social, e  para animais em situação de rua, além de Castração e microchipagem, medicação gratuita para felinos acometidos pelo fungo da esporotricos e organiza feiras de adoção

Tramandaí

A prefeitura afirma que possui um canil, mas que está passando por reformas. O plano é reabrir o espaço até o final do mês. Não há estrutura para gatos.

Ainda conforme o executivo, há uma unidade básica de saúde destinada a animais.

Cidreira

A prefeitura de Cidreira afirma não ter estrutura para abrigar animais, e conta com apoio de uma ONG que atua no município.

O município dispõe de serviço de castração gratuita para animais de rua ou tutelados. O Centro de Zoonozes voltou a funcionar no dia 30 de janeiro.

Balneário Pinhal

A prefeitura de Balenario Pinhal informa que não possui abrigos específicos. O município oferece um espaço de zoonoses, voltado para o tratamento de doenças em animais. O local, contudo, está interditado devido a problemas estruturais. A administração municipal diz já ter iniciado os trâmites para a reforma do espaço e reconhece a necessidade de melhorias na área da proteção animal.

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