Fauna urbana
Animais feridos ao tocar na rede elétrica na Região Metropolitana são acolhidos pelo Zoo de Canoas; veja vídeo
Segundo cuidadores, as marcas deixadas após os acidentes impedem que os bichos voltem para seu habitat natural
No Zoológico Municipal de Canoas, na Região Metropolitana, um problema recorrente vem preocupando os profissionais da instituição: animais resgatados em Porto Alegre após sofrerem descargas elétricas causadas por fios desencapados.
Conforme os profissionais do zoológico, os impactos dos acidentes da fauna com a rede elétrica nas cidades fazem com que os animais percam para sempre a liberdade devido à gravidade dos ferimentos.
A veterinária do zoológico Isadora Fraveto, explica a situação de Pati, uma bugio-ruiva de aproximadamente 15 anos que sofreu um choque elétrico ao utilizar fios para se deslocar entre áreas de mata fragmentadas.
— Ela pegou em algum fio que não estava encapado, porque é um animal que necessita desse transporte, e acabou tomando um choque. Devido à descarga, sofreu lesões graves e precisou perder um dos membros anteriores — relata.
A amputação do braço do animal impossibilitou a reintrodução na natureza, levando-a a ser acolhida pelo zoológico, onde viverá em cativeiro pelo resto da vida.
Outro caso semelhante é o do urubu Zico, que chegou ao zoológico em 2014 após sofrer uma severa descarga elétrica.
— Ele perdeu alguns dedos de um dos membros esquerdos e também teve a asa direita quase inteiramente amputada. Isso o impossibilitou de retornar à natureza. É muito triste saber que um erro de planejamento urbano fez com que o animal tivesse que utilizar uma estrutura urbana insegura e, como consequência, sofresse um acidente irreversível — lamenta Isadora.
A história da bugio Eva também marca a trajetória do zoológico. Segundo a bióloga Renata Gautier, o animal chegou ao local em 2008, após tomar um choque na rede de alta tensão e perder parte das duas mãos. Sem condições de voltar à natureza, Eva viveu sob cuidados humanos até 2021.
— Nada mudou de lá para cá. Casos como esse ainda são frequentes, e é essencial responsabilizar as empresas de transmissão de energia para que encapem os fios e impeçam o acesso dos animais a essas estruturas — alerta Renata.
Para as especialistas, medidas preventivas precisam ser adotadas urgentemente.
— Encapar os fios é o básico. Outra solução fundamental é a implantação de pontes ecológicas, já que os bugios e outros primatas utilizam trajetos aéreos para se locomover entre áreas florestais — explica Isadora.
Além disso, Renata enfatiza a importância do planejamento urbano e da manutenção de corredores ecológicos, que, segundo o Ministério do Meio Ambiente, proporcionam o deslocamento seguro de animais, além da dispersão de sementes e do aumento da cobertura vegetal.
— Precisamos conectar as áreas naturais que estão fragmentadas e proporcionar acessos seguros para os animais — ressalta.
A CEEE Equatorial, concessionária responsável pelo fornecimento de energia na Capital, foi procurada para comentar sobre o assunto e apresentar medidas para evitar novos casos. Segundo a empresa, está sendo implementada a substituição da rede de baixa tensão por uma rede isolada o que evita choques elétricos em caso de contato e confere mais proteção aos animais.
Nota da Equatorial
"Em relação aos incidentes já ocorridos com bugios em Viamão e zona sul de Porto Alegre, a CEEE Equatorial esclarece que segue implementando uma série de medidas de cuidado, como a substituição da rede de baixa tensão por uma rede isolada no trecho mapeado pela Ação Civil, o que evita choque em caso de contato e confere mais proteção aos animais.
Dos 24km de substituição da rede elétrica por multiplexada nos trechos indicados pela Ação Civil, a CEEE Equatorial já efetuou a troca de 7 km.
As redes de distribuição da companhia obedecem a padrões construtivos, de acordo com as normativas brasileiras e as redes estão devidamente licenciadas pelos órgãos ambientais competentes.
A empresa segue realizando a poda da vegetação nas regiões mapeadas de forma preventiva, com o intuito de afastar os galhos que estão próximos à rede elétrica, e informa que a Ação Civil Pública está em fase bastante adiantada de negociação com o Ministério Público.
Por fim, é necessário destacar que a solução adequada da questão passa por uma ação conjunta entre Distribuidora de Energia e os órgãos ambientais licenciadores, destacadamente municípios, especialmente no que se refere à ocupação no entorno dos parques do Lami e Itapuã, que impactam o habitat e o modo de vida dos primatas, contribuindo decisivamente para os incidentes envolvendo redes elétricas, atropelamentos e outros."
Produção: Leonardo Martins