Notícias



Finanças e sustentabilidade

Carro elétrico vale a pena? Calcule economia e compare com outros veículos

Febre no Brasil, automóveis eletrificados chamam atenção e geram dúvidas em motoristas 

30/03/2025 - 14h42min


Yasmim Girardi
Yasmim Girardi
Enviar E-mail
pengzphoto/stock.adobe.com
Economia de combustível é um dos fatores que estimulam a procura por essa classe de veículos.

Ao passo que o mercado de carros elétricos cresce no Brasil, alguns motoristas ainda têm dúvidas sobre o funcionamento e os custos dessa classe de veículos. Entre os questionamentos, o mais comum refere-se à viabilidade econômica. Segundo especialista e motoristas, a resposta depende de alguns pontos importantes, como bateria e estrutura de carregamento.

Entre os fatores que estimulam a procura por carros elétricos estão os incentivos fiscais, custo de manutenção mais baixo, economia com combustível e o aumento da disponibilidade de modelos. Por outro lado, o custo inicial elevado e a dificuldade de encontrar eletropostos podem fazer com que motoristas repensem a escolha.

A decisão costuma ser bem ponderada. O motorista de aplicativo Guilherme Schröder, 42 anos, conta que fez vários cálculos antes de comprar o seu BYD Dolphin, em julho do ano passado, para entender se a opção seria mais benéfica do que investir em um carro a combustão:

— Sempre quis ter um carro elétrico. Fazia muito tempo que eu pesquisava a respeito, porque já era uma tendência. Eu queria saber se ele se pagaria e se eu conseguiria obter recursos para me sustentar também. E, no final das contas, isso está sendo possível.

Custo dos carros elétricos

O primeiro valor a ser considerado é o preço dos veículos. O Renault Kwid E-Tech, por exemplo, conta com um valor inicial de R$ 99.900. Já o BYD Dolphin Mini, um dos modelos mais populares, tem preço sugerido a partir de R$ 118.800. Schröder salienta que a opção só foi possível porque foi contemplado em um consórcio.

O professor da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Aquiles Rossoni pontua que esse valor é uma variável. Os preços de produção e manutenção dependem de alguns fatores, como custo e vida útil das baterias, pneus e energia, entre outros.

— A tecnologia, o tamanho e a marca associada podem influenciar no custo associado. Há uns quatro ou cinco anos, o veículo elétrico tinha um custo bem mais elevado em função do preço das baterias. Mas esses custos baixaram muito e a produção começou a ficar mais competitiva. Por isso a comparação (com o carro a combustão) deve ser analisada caso a caso — avalia o especialista.

Economia de combustível

A principal diferença entre o carro elétrico e o veículo a combustão é o motor. Enquanto um funciona com uma bateria carregada pela rede elétrica, o outro precisa realizar a queima de um combustível. Os automóveis eletrificados acabam sendo mais vantajosos porque o preço da energia elétrica costuma ser menor do que o preço da gasolina.

— O carro elétrico, muito provavelmente, vai ser mais econômico no uso dentro da cidade. Tu podes carregar o veículo na residência e pagar a tarifa normal para funcionais de energia elétrica. Em outros locais, pode ser cobrada uma taxa maior. Não conseguimos produzir gasolina em casa, então o preço deve ser considerado. É importante analisar o preço da energia, da gasolina, o consumo e o custo do carro para comparar — aconselha Rossoni.

Calculadora de consumo

Zero Hora criou uma calculadora de eficiência veicular para comparar o consumo de ambas as opções. Para isso, foram considerados o consumo estimado do Renault Kwid Zen (a combustão) e do Renault E-Kwid (elétrico), segundo a tabela de eficiência energética do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro); o preço da gasolina no Rio Grande do Sul estimado pela Petrobras entre 16 e 22 de março; e o valor do kilowatt-hora (kWh) em Porto Alegre na bandeira verde.

Incentivos fiscais

Os incentivos fiscais em alguns Estados, como a redução e isenção do IPVA também estimulam a procura pelos carros eletrificados, apesar dos preços elevados.

No Rio Grande do Sul, proprietários de veículos elétricos não pagam Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores (IPVA). Pernambuco, Maranhão, Paraná e Bahia também oferecem isenção do imposto.

Estrutura de carregamento

Por cerca de R$ 500 por mês, Schröder conta com o serviço de uma garagem perto de casa, na região central de Porto Alegre, onde deixa o carro carregando todas as noites. O motorista de aplicativo Cleiton Klaus, 40 anos, proprietário de um BYD Dolphin GS, tem placas fotovoltaicas na casa que reside no Vale do Sinos, o que, segundo ele, ajuda a economizar ainda mais:

— Para mim, o carro elétrico foi a melhor opção, principalmente pelo fato de eu ter placa solar. Se eu não tivesse, ainda seria mais vantajoso do que o gás natural veicular (GNV) e muito mais do que a gasolina. A placa solar acaba ajudando a reduzir muito o valor do quilômetro rodado.

Klaus dirige pelo Vale do Sinos, pela Região Metropolitana e por Porto Alegre. Ele acredita que ainda há uma falta de estrutura para proprietários de carros elétricos, com poucos eletropostos. Em um dia cheio, 100% de bateria pode durar até nove horas de trabalho como motorista de aplicativos. Quando precisa de mais carga, encontra dificuldades.

— Eu ainda consigo me virar legal, porque tenho o meu carregador instalado em casa. Mas, sem dúvida, os carregadores estão fazendo falta. Se quero ir para uma localidade mais longe, com pouca bateria, preciso dar uma carga em algum lugar e não é como um posto de gasolina, que poderia chegar em qualquer um e abastecer — sinaliza.

Como funciona e quanto tempo dura o carregamento

Da mesma forma que ocorre com um celular, mas em diferentes proporções, o carregamento de um veículo elétrico é feito por meio de uma fonte de energia elétrica, conectando o carro a uma estação de carregamento que transfere a carga para a bateria. 

Graham/stock.adobe.com
Alguns carregadores podem demorar menos de uma hora para completar a carga.

O professor da PUCRS Aquiles Rossoni afirma que há diferentes tipos de carregadores, como os residenciais e os que são disponibilizados em eletropostos. A velocidade de carregamento pode variar:

— Normalmente, um carregador residencial vai apresentar uma velocidade de carregamento mais baixa, porque a ideia é deixar o carro carregando durante a noite. Enquanto em alguns postos e localizações mais específicas, podem ter carregadores mais rápidos, que, em torno de uma hora ou menos, consigo fazer o carregamento — explica.

No caso do BYD Dolphin Mini, em um carregador rápido, o abastecimento de 30% a 80% é feito em 30 minutos. Com um carregador do tipo wallbox (estação de carga fixa), a mesma recarga leva cerca de três horas, segundo a empresa. Considerando que a potência de um carregador portátil costuma ser metade de um wallbox, o tempo de recarregamento de 30% a 80% pode ficar em seis horas.

Já o Renault E-Kwid pode demorar até 40 minutos para carregar entre 15% e 80% em um carregador rápido, e 2h54min para ter a mesma carga em um carregador do tipo wallbox. Já o carregamento de 15% a 80% pode levar 8h57min em um carregador portátil de 110V ou 220V, garante a montadora.

Autonomia dos carros elétricos

A autonomia de um carro é a distância máxima que pode ser percorrida com uma carga completa de combustível ou de bateria. Segundo o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), do Inmetro, o alcance do BYD Dolphin Mini com 100% de bateria é de 280 quilômetros e do Renault E-Kwid é de 185 quilômetros.

— A autonomia do carro a combustão depende do tamanho do tanque e do desempenho que ele faz, a quilometragem por litro. No veículo elétrico, leva-se em consideração o tamanho da bateria, que vai ter uma quantidade de energia em kWh. Além disso, dentro da cidade, o carro elétrico desacelera bastante e isso recarrega a bateria, então acaba gastando menos energia — acrescenta Rossoni.

Pneus de carro elétrico

Outra dúvida comum acerca dessa classe de veículos é sobre a especificidade de algumas partes, como os pneus. De acordo com o professor da PUCRS, os pneus para carro elétrico têm características diferentes quando comparados aos pneus utilizados em carros a combustão.

— Eles têm uma estrutura mais reforçada e uma aderência maior, porque o veículo elétrico tem uma aceleração mais rápida, um torque instantâneo e isso faz com que haja um desgaste maior dos pneus. Outro detalhe é que, como o motor elétrico faz pouco barulho, eles tentam reduzir, também, o ruído dos pneus — explica.

Manutenção do carro elétrico

Para Rossoni, esse ainda é um ponto difícil de analisar, uma vez que a tecnologia é relativamente nova no Brasil e que as montadoras e consumidores ainda estão se adaptando às necessidades desses veículos. Ainda assim, o professor pontua que estudos apontam que automóveis elétricos tendem a ter custos mais baixos porque contam com menos partes móveis.

— Não precisa de troca de óleo e tem menos desgastes em outros componentes presentes nos carros a combustão. Até o momento, as comparações demonstram que um veículo elétrico tende a ter um custo menor de manutenção, mas vamos observar isso ao longo do tempo — pondera.

Além disso, ele reforça que os fabricantes têm garantido o funcionamento das baterias por um longo período e a possibilidade de troca. 

No caso do Renault E-Kwid, a garantia é de até 12 mil quilômetros ou oito anos caso a bateria fique abaixo de 75% da capacidade original. "A bateria é feita de 12 módulos e em caso de algum problema, não é necessário trocar todos", informou a montadora.

As baterias Blade, usadas em todos os modelos da BYD vendidos no Brasil, têm garantia de oito anos. "Mas a durabilidade é muito mais extensa. A vida útil de uma bateria de lítio em um carro elétrico pode chegar a 20 anos em condições normais de uso", defende a empresa.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias