Complexo Cultural do Porto Seco
Como foi a segunda noite de desfiles das escolas do Grupo Ouro do Carnaval de Porto Alegre
As agremiações levaram para a avenida temas diversos, abordando questões sociais, culturais e religiosas


A segunda e última noite de desfiles do Grupo Ouro no Complexo Cultural do Porto Seco, em Porto Alegre, aconteceu na madrugada deste domingo (16) e contou com a apresentação de cinco escolas de samba: Império do Sol, Unidos de Vila Isabel, Estado Maior da Restinga, Bambas da Orgia e Imperatriz Dona Leopoldina.
As agremiações levaram para a avenida temas diversos, abordando questões sociais, culturais e religiosas. Entre os destaques, enredos sobre superação, respeito à diversidade, devoção a São Jorge e o combate ao racismo.
As escolas de samba enfrentaram desafios para fazer o Carnaval de 2025, como a enchente de maio do ano passado, incêndios e dificuldades financeiras, mas conseguiram apresentar seus desfiles.
Veja como foi a segunda noite.
Império do Sol
A Império do Sol deu uma aula de superação no Porto Seco. Mesmo após o incêndio que destruiu seu barracão em janeiro deste ano, a escola renasceu das cinzas e levou para a avenida um desfile emocionante, exaltando as belezas e histórias de Barra do Ribeiro.
O fogo consumiu o abre-alas, que já estava quase pronto, além de 300 fantasias e diversos elementos cenográficos, resultando em um prejuízo de quase R$ 200 mil. Mas a comunidade não se abateu e reconstruiu tudo com garra.
Na avenida, o novo abre-alas brilhou ao representar a chegada dos imigrantes portugueses. As alas destacaram as atrações naturais da cidade da Costa Doce e seu potencial turístico, convidando o público a se encantar com seus cenários e lendas.
A emoção tomou conta quando a escola relembrou a reconstrução de Barra do Ribeiro após a enchente de maio do ano passado, num paralelo à própria trajetória da Império. Com um desfile vibrante e carregado de significado, a escola mostrou que, apesar das dificuldades, segue firme e fazendo história no Carnaval de Porto Alegre.
Unidos de Vila Isabel
A Unidos de Vila Isabel trouxe um desfile potente ao Porto Seco com o enredo Libertação, levantando uma reflexão sobre respeito e tolerância.
O abre-alas impactou com sua estética sombria e questionadora, desafiando a ideia de que o desconhecido deve ser temido. A escola mostrou que os verdadeiros demônios estão na intolerância e no preconceito que carregamos.
A terceira alegoria, intitulada Saltos que Elevam e Libertam o Colorido dos Armários da Opressão, foi um dos pontos altos do desfile. Com um visual vibrante, celebrou a luta contra a homofobia e reforçou a importância de um mundo onde todos possam ser quem realmente são, sem medo.
A bateria, com uma cadência envolvente, homenageou a resiliência da luta negra, traduzindo em ritmo a resistência e a força do povo.
A Vila Isabel segue consolidando, assim, seu DNA engajado.
Estado Maior da Restinga
Com o enredo São Jorge, Teu Povo te Ama, a Estado Maior da Restinga homenageou seu santo padroeiro durante o desfile na madrugada deste domingo (16). A passagem da escola pelo sambódromo foi estruturada em cinco setores.
O primeiro representou os "dragões" do cotidiano, simbolizando os desafios diários enfrentados com a força do santo. O segundo narrou a vida de São Jorge, enquanto o terceiro destacou sua resistência e fé inabaláveis.
O quarto setor tratou do sincretismo entre o santo e Ogum, reforçando o vínculo entre as religiões afro-brasileiras e o cristianismo. A popularidade de São Jorge, apresentando-o como um ícone cultural querido por todos, foi celebrada pelo quinto setor da escola.
Vale destacar que a agremiação também fez uma homenagem ao Santo Protetor dos Bares, reconhecendo o papel de São Jorge nos encontros e momentos de confraternização popular.
A última alegoria – uma das maiores vistas nas duas noites de Porto Seco – representou a devoção a São Jorge em diversos templos e espaços sagrados. No centro, São Jorge apareceu em seu cavalo branco, com armadura e lança, destacando suas vitórias. Ao fundo, uma igreja representou os templos dedicados ao santo, especialmente nas cidades gaúchas, como Porto Alegre.
Por um problema no carro abre-alas, a escola precisou correr para não estourar o tempo.
Bambas da Orgia
A Bambas da Orgia fez um desfile carregado de emoção e simbolismo com o enredo As Mãos que Embalam uma Vida de Bamba.
A escola exaltou o papel das mãos na construção da história e na superação de desafios, trazendo um significado ainda mais profundo após a enchente de maio de 2024, que inundou a quadra e impactou toda a comunidade azul e branca.
O desfile foi uma celebração da resiliência, mostrando como a união e a solidariedade permitiram que a escola fosse para a avenida.
Ao longo da apresentação, diferentes momentos ressaltaram o poder transformador das mãos. A ala Filhos da Águia fez referência às civilizações suméria e egípcia, que deram início ao registro da comunicação, destacando como a escrita foi fundamental para preservar histórias e culturas.
Já a ala Pipoca celebrou o aplauso como gesto máximo de reconhecimento e emoção do público pelo artista, representando o laço entre quem faz o espetáculo e quem vibra com ele.
O ápice do desfile veio com a alegoria A Reinvenção – Acolho a Todos em Meu Ninho, que retratou a reconstrução da escola após a tragédia climática. Elementos como a fênix e cenas de renascimento simbolizaram a superação do momento difícil, reforçando que ninguém soltou a mão de ninguém na luta para reerguer Bambas da Orgia.
Imperatriz Dona Leopoldina
A Imperatriz Dona Leopoldina encerrou os desfiles do Carnaval de Porto Alegre, na manhã deste domingo (16). Com o enredo A Cor do Futebol – A Imperatriz Marca um Gol Contra o Preconceito Racial, a escola entrou na avenida superando dificuldades financeiras.
Apesar disso, a agremiação recorreu a rifas e trabalho voluntário para fazer seu espetáculo.
O abre-alas Resplendor da Vitória – Altar aos Deuses Negros do Futebol destacou um imponente altar em homenagem a craques negros que fizeram história no esporte, cercado por troféus, medalhas e símbolos da consagração dentro e fora dos gramados.
Na ala O Folião Ídolo dos Rivais, a escola exaltou Tesourinha, um dos maiores jogadores gaúchos, que brilhou no Internacional e também vestiu a camisa do Grêmio, quebrando barreiras em uma época de forte segregação racial no futebol.
Outro destaque foi a ala Observatório – O Racismo Tem Que Parar, inspirada no Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Os componentes vestiram fantasias com o símbolo da instituição: uma mão estendida em gesto de pare, alertando para a urgência do combate ao preconceito nos estádios.
Mesmo com as dificuldades, Imperatriz mostrou garra e compromisso com sua mensagem e mostrou um lindo desfile, arrastando consigo o público que ficou até o último momento no Porto Seco. Um fechamento digno do que o Carnaval de Porto Alegre merece.