Espera de décadas
Lágrimas e abraços marcam encontro de filha com aquela que pode ser sua mãe, 35 anos após nascimento
Semelhança física entre as duas impressiona. Elas se falaram pessoalmente pela primeira vez para realização do teste de DNA, que contou com presença da mulher que criou o bebê


Choro e promessas de amor eterno marcaram o encontro entre Vanessa Silva de Souza, 34 anos, e aquela que pode ser sua mãe biológica, Cristiane da Silva, 51 anos. As duas se conheceram ao vivo e em cores na manhã desta terça-feira (11) em Porto Alegre, onde realizaram juntas um exame de DNA para verificar se são mesmo sangue do mesmo sangue. Quem assistiu aos abraços das duas não tem dúvidas. A semelhança física delas é total, ambas morenas de cabelos crespos e olhos bem puxados. Mas o tira-teima virá com a ciência, num prazo de cinco dias úteis.
A história das duas foi revelada por Zero Hora durante o feriado de Carnaval. Em 25 de fevereiro a cuidadora de idosos Vanessa postou a seguinte mensagem no Facebook, numa página que circula no município de Charqueadas (Região Carbonífera):
"Pessoal, nasci em Charqueadas em 20.03.90. Passei apenas 6 meses lá e fui doada. Não sei nada da minha família e nem onde nasci. Sei que na época o nome da minha mãe era Cristiane da Silva e que ela tinha 15 anos quando nasci. Queria saber mais do meu passado, quem sabe encontrar ela".
Vanessa recebeu mais de 150 recados após a postagem em menos de 24 horas. Dentre as mensagens, uma especial:
"Oiiiii linda, eu me chamo Cristiane da Silva e tenho 51 anos. Há trinta e três anos eu tive uma filha linda e com o nome Vanessa da Silva. Minha mãe, com a prima dela, deram a minha filha. Eu passei muito trabalho na minha infância, então não queria que ela passasse o que eu passei, contra a minha vontade. Eu dei a minha princesa linda. Hoje eu estou bem, graças a Deus. Tenho outra filha linda, mas há anos que eu procuro pela a minha filha amada . Eu tenho até vergonha, mas eu sei que isso é obra de Deus. Não vejo a hora de botar no colo. Deus que sabe o que esta fazendo. Realmente, ela nasceu em 20. 03. 1990. Minha filha amada."
As duas trocaram contatos, fotos e passaram a se falar várias vezes por dia. Cristiane explicou que aos 15 anos teve uma gravidez não planejada e que o pai da criança nunca assumiu. Por receio do futuro, os pais dela pegaram o bebê (Vanessa) e o doaram para um casal interessado em criar a menina. Vanessa cresceu com amor e carinho, mas foi informada, aos seis anos de idade, que era adotiva.
Ao crescer, decidiu ir atrás da mãe biológica. Procurou em Viamão, onde residia, e no Vale do Sinos. A ideia de postagem em Charqueadas foi recente e, para própria surpresa dela, teve resposta imediata.
Cristiane não tem nenhuma dúvida de que Vanessa é mesmo sua filha. A começar pela data de nascimento da certidão (que coincide) e também pelas fotos de quando era bebê. O tip-top que a menina usava nos primeiros meses de vida é praticamente idêntico a um que foi guardado por Vanessa desde a infância.
Há, ainda, a semelhança física: Vanessa é quase uma cópia de Cristiane, sua versão bem mais alta.

Cautelosa, Vanessa decidiu fazer DNA e, para deixar claro o amor por quem lhe criou, levou a tiracolo a mãe adotiva, a dona de casa Tânia Maria Silva de Souza, 67 anos. O encontro delas (o provável reencontro) aconteceu no coração de Porto Alegre, na Rua General Vitorino, onde fica o Laboratório Silveira, que realizou o teste de DNA. Foi um festival de choro, abraços e juras de jamais voltarem a se separar.
— É ela. Meu coração de mãe disparou quando vi. É tanta emoção que não consigo descrever. Vou poder fazer por ela o que não pude fazer quando nasceu — emocionou-se Cristiane, debulhada em lágrimas.
Vanessa deixou de lado a desconfiança e, mesmo antes do DNA, se rendeu à semelhança física:
— Agora tenho duas mães. Sorte, né? Vou poder comemorar meu aniversário, dia 20, com amor dobrado.

Cristiane (a provável mãe biológica) e Tânia (que criou Vanessa) também se abraçaram e trocaram confidências. A conversa foi testemunhada por Luís Gustavo Gonçalves, namorado de Cristiane, e William Vach, marido de Vanessa (o pai adotivo de Vanessa já faleceu).
— Eu tinha acabado de perder um filho pequeno e aí surgiu a oportunidade de adotar a Vanessa. Mas sempre fiz questão de estimular ela a procurar a mãe dela — ressaltou Tânia.
Cristiane salientou que fez o mesmo, mas que seus pais não a ajudaram na busca. Ela chegou a conhecer uma outra Vanessa que poderia ser sua filha, mas o teste de DNA deu negativo. As duas se falam até hoje.
— Só vou fazer o teste agora porque a Vanessa quer, mas não tem engano: a minha filha voltou. E fiquem certos que a Tânia vai continuar sendo mãe dela — anunciou.
Quem assistiu ao entrosamento das três ficou com poucas dúvidas de que, independentemente do resultado do DNA, uma nova e amorosa família acaba de surgir.