Direto da Redação
Leticia Mendes: "Memórias de cinema"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano


Rio Pardo, minha terra natal, é chamada há muito tempo de Cidade Histórica. Foi um dos primeiros municípios a surgir no RS e é possível conhecer por lá a primeira via pavimentada no Estado, a Rua da Ladeira. Rio Pardo também é reconhecida pelo Carnaval, que atrai foliões de diversas regiões. Ganhou até uma avenida do samba, a Maria da Glória, ou Gogóia. Durante os dias de festa, a Rua Andrade Neves – bem no centro – dá lugar à via com o nome da carnavalesca.
Mas tem um aspecto, nem tão lembrado, que é o fato de que Rio Pardo já foi também cenário de produções cinematográficas. E isso, de certa forma, povoa a minha infância por lá e quem eu sou. Nasci no fim dos anos 1980, e ainda era criança quando Rio Pardo foi escolhida como uma das ambientações da minissérie Luna Caliente (também transformada em filme). A presença dos atores na cidade causava aquele alvoroço natural do Interior. Todo mundo queria ver os artistas.
O protagonista da história era interpretado pelo Paulo Betti. Ramiro é um exilado na França, que volta ao Brasil durante o período da ditadura. É seguido pela ex-esposa, Dora, vivida por Fernanda Torres. Isso mesmo, a Fernanda do Globo de Ouro e do Oscar. Naquele tempo, obviamente, não se imaginava esse feito. A direção era do Jorge Furtado, que também dirigiu a Fernanda no maravilhoso Saneamento Básico, filmado anos depois na Serra.
Em Rio Pardo também foi ambientado um longa de época, chamado Diário de um Novo Mundo, com Edson Celulari e Daniela Escobar. Construíram uma cidade cenográfica perto de um dos balneários da cidade. Costumávamos ir lá visitar. Havia certa magia em caminhar por aquele lugar que tinha servido de cenário para o cinema, e perceber que a cidade onde eu vivia podia ser vista com olhar diferente. E também que certos sonhos eram possíveis.
Escrevo isso pensando na maravilha que é ver o Brasil conquistar o primeiro Oscar. No quanto isso tem poder de alcançar pessoas em todos os cantinhos desse país tão imenso. É bonito ver algo feito aqui, por gente daqui, sendo reconhecido internacionalmente. Que venham outros motivos para a gente sorrir. Vamos sorrir.