Coluna da Maga
Magali Moraes: Problemas crônicos
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho


Essa é uma crônica sobre problemas crônicos. Falar sobre eles não ajuda a solucionar nada na prática, mas funciona pro emocional. Enquanto escrevo esse texto, aqui em casa técnicos estão tentando resolver um pepinão de mais de dois metros de altura: a porta que não abre. Eu rezo mentalmente pra que - pela milésima vez - consigam. Já estou com as mãos preparadas pra aplaudir (como se fosse o final de um show incrível e muito aguardado). Talvez eu dê gritinhos de felicidade.
Um problema crônico nem sempre é, ele vai se tornando. A gente não percebe logo de cara que aquilo tem potencial de virar uma encrenca fixa. Com o passar do tempo, a ficha cai. É repetido, constante, permanente, duradouro, habitual, de longa data e todos os sinônimos possíveis. O problema crônico testa a nossa paciência e resiliência. Quantas vezes ainda vou ter que reclamar? Por quanto tempo ele vai permanecer na lista de pendências? Eternamente, senão não seria um problema crônico.
Clássico
Meu lado esperançoso confia que, um dia, isso vai ter fim. Preciso acreditar, senão perco as forças. Um problema crônico clássico acaba criando um relacionamento com o objeto em si e com quem tenta solucioná-lo. Um dia brigamos, na semana seguinte acontece de novo e o jeito é baixar a guarda, sorrir fofamente e reatar a relação. Pequenas melhoras geram euforia, mas são momentâneas. Quando a treta volta a acontecer, voltam a frustração, a raiva, o desânimo.
Há vários tipos de problemas crônicos. Tem o da casa, do carro, do prédio, do eletrodoméstico. Tem o do corpo e da mente. Aquela dor constante, o inchaço, a coceira, a insônia. Uma situação financeira ruim vira um problema crônico que gera outros. Vizinhos ou parentes ou casais que não se dão bem criam um círculo vicioso que também gera dor permanente. Peraí!! Escuto barulhos de ferramentas em ação. Será que hoje é o grande dia em que minha porta e eu deixamos de sofrer?