Em Porto Alegre
Projeto DNÁfrica apresenta valores afro-brasileiros para educadores em sala de aula
Iniciativa insere elementos e práticas da cultura afro no dia a dia da comunidade de escolas do bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital

É dentro de escolas públicas no bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital, que um projeto promove o ensino de valores afro-brasileiros para educadores.
O DNÁfrica – Arte, Território e Educação é idealizado pela produtora DNÁfrica e pelo ativista cultural Alex Pantera, 60 anos, e tem como principal propósito a inserção de elementos e práticas da cultura afro-brasileira no dia a dia da comunidade escolar.
— É o meu projeto de vida e missão. Eu vivo há mais de 40 anos na Bonja, e foram essas vivências que me moldaram — enfatiza Alex.
O coordenador relata que foi a partir do teatro que pôde entender sobre as questões étnico-raciais que o atravessavam e que não eram tão perceptíveis:
— Sendo eu um homem preto, para mim não é um projeto: o DNÁfrica se tornou a minha vida, quero dar visibilidade para as nossas práticas.
A iniciativa é realizada com recursos da Lei Paulo Gustavo e conta atualmente com cinco organizadores, entre eles a multiartista Mayura Matos e a produtora cultural Cris Medeiros.
Organização
O DNÁfrica é construído a partir de três direcionamentos. O primeiro é focado em workshops para uma educação antirracista com os professores. A segunda etapa consiste em oficinas com mestres de capoeira. Já o terceiro eixo será a realização de oficinas culturais para a comunidade, que irão contar com a presença de outras referências da cultura afro-brasileira.
Atuando em escolas e em espaços públicos da Bonja, essas atividades culturais, segundo Alex, criam em crianças e adolescentes um sentimento de pertencimento. A ideia é que, para além dos ensinamentos em sala de aula, os jovens possam se sentir representados com o que vivenciam fora da escola.
Ao total, serão 23 apresentações artísticas, cinco oficinas e cinco workshops, contemplando os bairros Bom Jesus, Jardim Carvalho e Jardim do Salso.
Todas as atividades são realizadas em parceria com escolas públicas, espaços culturais e entidades sócio-educativas, como o Quintal da Leitura, o Centro de Educação Ambiental, o Ponto de Cultura Terreira da Tribo e a Liga de Amparo aos Necessitados (ALAN).
Para exaltar a ancestralidade
A proposta de dar início ao projeto por meio de educadores é o diferencial do DNÁfrica. Para Alex, quando o educador entende sobre os valores afro-brasileiros e o que essa cultura representa para a população, os alunos se sentem pertencentes a esse lugar. Além disso, possibilita aos negros e negras jovens reconhecer e valorizar sua ancestralidade.
— Os professores que abraçarem essa causa, trazendo essa ferramenta que é parecida com as vivências do jovem e da comunidade, no tambor que ele vê no terreiro ou na capoeira que ele pratica com o mestre, vão perceber que isso cria um sentimento de pertencimento — enfatiza o coordenador.
É a partir de presenças como a mestre Didi e a contramestre Luciana que a capoeira se insere no projeto. Para Luciana dos Santos, 53 anos, do grupo de capoeira Cativeiro, o projeto traz melhorias para a vida das crianças:
— A capoeira melhora as coordenações motoras, cognitivas e perceptivas dos alunos, assim conseguimos trabalhar a mente e o desenvolvimento da musicalidade.
Adélia Costa, 52 anos, conhecida como mestre Didi, pratica a capoeira há 35 anos. Participando do grupo Herança Cultural Capoeira e dentro do projeto DNÁfrica, ela também comanda as rodas da arte, que, para ela, é um espaço democrático e de respeito:
— Eu me sinto honrada em fazer parte do projeto, e a capoeira estar inserida é uma grande oportunidade de mostrar que esses valores estão presentes a todo momento, ajudando a preservar nossa arte — comenta.
Produção: Ana Júlia Santos