Crise na saúde
Governo do Estado assumirá gestão do HPS, Presidente Vargas e de outros 13 hospitais administrados pela prefeitura de Porto Alegre
Mudança exigirá fase de transição, que não tem prazo para ser iniciada. Executivo estadual diz que ainda não tem resposta sobre como ficará a situação de servidores públicos que atuam nas instituições


A gestão dos recursos pagos a hospitais que realizam atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Porto Alegre – hoje sob responsabilidade da prefeitura – deve passar para as mãos do Estado. A proposta foi feita nesta quinta-feira (17) pelo governador Eduardo Leite ao prefeito Sebastião Melo em reunião que discutiu a crise na saúde pública da Região Metropolitana.
O encontro aconteceu no Palácio Piratini, com a presença de prefeitos e gestores municipais da área da Saúde de toda a Grande Porto Alegre. A sugestão de mudança na gestão foi aceita por Melo.
A decisão deve impactar em 15 instituições de saúde que realizam atendimentos de média e alta complexidade. Com isso, caberá ao Estado contratar os serviços hoje oferecidos por hospitais públicos, como Hospital de Pronto Socorro (HPS) e Presidente Vargas, e o pagamento por serviços SUS realizados em locais como São Lucas da PUCRS e Santa Casa.
— Isso significa abrir mão da gestão plena que o município tem e, por isso, é remunerado pela alta complexidade. O Estado passa a receber os recursos do Ministério da Saúde e o Estado será o gestor. Tendo os recursos, o Estado contratualiza, referencia e regula, é isso que estamos falando neste processo — explica Eduardo Leite.
Os recursos SUS que hoje são geridos pelo município somam, segundo o Estado, R$ 800 milhões. Integram o chamado Teto Financeiro de Média e Alta Complexidade (Teto MAC), que custeia serviços de saúde. O incremento nos valores do Teto MAC pagos pela União foi uma das demandas apresentadas pelos prefeitos da Região Metropolitana.
— Hoje, Porto Alegre é referência para 200 municípios, mas acaba atendendo 497 em alguma situação. Acho muito mais correto de que o Estado assuma a média e a alta complexidade e Porto Alegre vai cuidar da atenção básica, vai cuidar das UPAs, aumentar o horário de atendimento à noite — afirma Sebastião Melo.
A mudança na gestão demanda uma fase de transição, a ser conduzida por uma comissão formada por Estado e município. Não há prazo estabelecido para essa conclusão. O Estado diz que não haveria ainda uma resposta sobre como ficará a situação de servidores públicos que atuam em instituições como HPS e Presidente Vargas.
— À medida em que formos elaborando essa mudança, que tem aspectos de pactuação e aspectos jurídicos, nós vamos definir a melhor modelagem para manter em funcionamento os hospitais que hoje são públicos municipais — diz Arita Bergmann, secretária estadual da Saúde.
A classe médica diz que irá "acompanhar de perto" as alterações. Uma das preocupações, segundo o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, envolve a perda da expertise consolidada na regulação de leitos e serviços em Porto Alegre.
— Não há dúvida que a gestão da saúde deve ser melhor distribuída entre as instâncias governamentais e que entregar a gestão da média e alta complexidade para o Estado irá aliviar o município. Entretanto, essa mudança implica em grande movimentação de servidores, de mecanismos de gestão e de atribuição dos serviços — avalia a Ana Coronel, diretora do Simers.
Mais recursos no Assistir
No encontro com os prefeitos, Leite anunciou ainda aumento nos recursos repassados pelo Estado via programa Assistir, que incentiva a prestação de serviços de saúde em hospitais do SUS. Segundo Leite, o incremento anual somará R$ 90 milhões, sendo que R$ 39 milhões serão destinados para 28 hospitais em 20 municípios da Região Metropolitana.