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Porto Alegre

Inundações do arroio Cascatinha prejudicam moradores do Glória

Sem limpeza frequente por parte do poder público e com capacidade de drenagem insuficiente, água do arroio transborda e incomoda vizinhança

11/04/2025 - 05h00min

Atualizada em: 11/04/2025 - 05h01min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho

Problema histórico no bairro Glória, na zona sul de Porto Alegre, as inundações do Arroio Cascatinha têm sido cada vez mais intensas. Sem limpeza frequente por parte do poder público, entulhos, galhos e sedimentos se acumulam nos trechos canalizados e provocam transbordamentos no entorno

O ponto mais crítico, segundo moradores, fica na galeria que atravessa a Rua Coronel Aparício Borges. Cerca de 40 metros adentro, uma barreira de lixo e troncos trazidos pela correnteza impede o fluxo de água.  

– Canalizaram para dar um sentido à água, mas não limpam, aí ela não tem para onde ir e começa a subir – resume Luis Alberto Fassel, morador da Avenida Sergipe.  

Os residentes na Avenida Sergipe são os mais prejudicados pelas cheias no Cascatinha, principalmente o trecho entre a Rua Coronel Aparício Borges e a Rua Bibiano de Almeida. A via é paralela ao curso d’água e fica próxima ao início da galeria entupida. 

A última vez em que o problema deu as caras foi no temporal do dia 31 de março. No condomínio Edifício Mariana II, à altura do número 278, por exemplo, a água atingiu 40 centímetros.  

– (Quando alaga) é um cheiro fétido e muito forte. Parece que não sai dos carpetes dos carros. Já deixamos o carro aberto por uma semana e não foi suficiente – conta Elisabete de Fátima Soares Abreu, moradora e ex-síndica do condomínio.  

Saneamento  

O Cascatinha nasce entre o Morro Teresópolis e o Morro da Polícia e se soma ao Arroio Cascata para desaguar no Dilúvio. Em alguns trechos, corre submerso em galerias. Em outros, como o que fica paralelo à Avenida Sergipe, é margeado por residências ou mata.  

Ainda hoje, o córrego recebe esgoto. Apesar disso, Luis Alberto explica que geralmente a água parece limpa e tranquila.  

Quando chove é que vira um monstro. A água vem forte, suja e fedida – completa. 

Na região da Rua Coronel Aparício Borges, as perturbações com inundação têm uma longa história. Há alguns anos, a prefeitura fez uma limpeza no córrego, o que facilitou o fluxo de água e resolveu parte dos incômodos. O serviço, porém, não teria se repetido, e desde então a vizinhança sofre com as consequências. 

Os moradores contam que, durante a recente construção de um hipermercado na região, teria havido uma promessa de canalização completa do arroio. Mas isso não foi feito. A obra foi executada apenas no trecho que tem início na Rua Coronel Aparício Borges e segue em direção ao Arroio Dilúvio.  

Na avaliação da atual síndica do condomínio Mariana II, na Avenida Sergipe, a obra pela metade piorou a situação. 

– É uma questão bem difícil e que está estragando nossas coisas. Eu moro aqui desde 1988 e essa função está pior do que nunca – afirma Menaides Voquet Rodrigues. 

Prejuízos 

No caso do edifício Mariana II, as perdas se concentram na parte de trás do terreno, onde fica o salão de festas e algumas vagas de estacionamento. O prédio tem 21 apartamentos e cerca de 40 moradores.  

Segundo Menaides e Elisabete, o prédio já foi prejudicado com a perda da calçada de basalto do pátio e de parte do muro. No temporal do último dia 31 de março, os prejuízos foram grandes.  

Para tentar chamar a atenção do poder público, os moradores já registraram diversos protocolos. O mais recente foi registrado nesta semana pela síndica: 

– A gente faz o contato com a prefeitura, anota o protocolo, faz a ficha toda e espera o atendimento. Só que isso não acontece _ afirma Menaides.

Contraponto

/// Em nota, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informou que os problemas na região da Avenida Sergipe podem estar relacionados a um subdimensionamento da infraestrutura de drenagem urbana

/// “(Por isso) o corpo técnico do Departamento trabalha na análise da necessidade técnica de substituição e ampliação desse sistema de drenagem”, diz o texto.

//// Enquanto isso, “os alagamentos são minimizados por meio de ações de manutenção nas galerias existentes. O trecho da Rua Bibiano de Almeida foi revisado nesta semana”. 

/// O Dmae informa, também, que a revisão da galeria da Rua Coronel Aparício Borges está prevista para a próxima semana.

/// Por fim, o órgão reforça a necessidade de que os moradores solicitem a limpeza por meio do Sistema 156. 

Confira a íntegra da nota do Dmae

O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informa que a rede de drenagem urbana da avenida Sergipe, localizada no trecho canalizado do arroio Cascatinha, foi criada com base nas características urbanas da região do período em que foi implantada. O extinto Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) instalou na área galerias com diâmetro variável, de 300mm a 1200mm.

Assim como em outras regiões da cidade, as características fisicas, como a impermeabilização, vão sendo alteradas durante o processo de urbanização. Com isso, pode haver a necessidade de substituição das redes por estruturas com maior capacidade, a fim de dar vazão ao crescente volume água coletada pelo sistema durante episódios de chuva. O corpo técnico do Departamento trabalha na análise da necessidade técnica de substituição e ampliação desse sistema de drenagem. Não há prazo para conclusão.

Paliativamente, os alagamentos são minimizados por meio de ações de manutenção nas galerias existentes. O trecho da rua Bibiano de Almeida, que impacta diretamente nas condições da avenida Sergipe, foi revisado em 8 de março deste ano. Na oportunidade, 24 metros cúbicos de resíduos foram retirados da tubulação. Já a revisão da galeria da rua Cel. Aparício Borges está prevista para a próxima semana.

O serviço de limpeza pode ser solicitado pela própria população, por meio do Sistema 156. No médio e longo prazo, a região poderá ser beneficiada com um pacote de obras de macrodrenagem na bacia do Arroio Dilúvio, da qual o Cascatinha faz parte. O projeto começou a ser elaborado após a aprovação de repasse de recursos, não-reembolsáveis, do Orçamento Geral da União (OGU). O investimento foi liberado pelo Governo Federal em dezembro de 2024.

Produção: Guilherme Freling


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