Coluna da Maga
Magali Moraes: bola a gol
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho


Como as pessoas descobrem que eu gosto de conversar? Apenas jogam a isca e observam? Mesmo quieta no meu canto, as conversas me procuram. Lá estava eu (mais uma vez) na fila do super. E (mais uma vez) alguém que estava sendo atendido no caixa pegou a banana errada e pediu pra trocar, mudando a ordem natural que é esquecer de pesar. A humanidade cada vez mais distraída, isso sim. O que acontece quando o acaso nos deixa esperando? Tem sempre alguém disposto a puxar papo.
Na minha frente havia um senhor louco pra soltar o verbo. Nem consegui enfiar a cara no celular, esse escudo moderno. O assunto começou pela camisa do Inter que ele vestia. Seu número da sorte, o nome de um jogador que desconheço, os causos da família, a mãe pensionista, a rua ali perto onde mora, a coincidência (espichou o olho pro meu carrinho) de estarmos comprando o mesmo tipo de pão. Até aí tranquilo, ajudava a passar o tempo. E nem sinal do novo cacho de bananas.
Idade
Já não lembro como a conversa descambou pra idade. Assim do nada, o cidadão disse: “Tu não vai adivinhar a idade que eu tenho!” Antes que eu pudesse dar algum palpite - caso quisesse palpitar - ele se adiantou todo orgulhoso: “Ninguém acerta a minha idade… eu poderia ser teu pai!”. Hã?! E continuou: “Tenho 66 anos!” No que eu respondi: “Não, o senhor não poderia ser meu pai”. Pausa pra apreciar a expressão contrariada dele. E segui: “ Não, porque eu tenho 57 anos.”
Que delícia quando botam a bola pra chutar a gol e a gente não desperdiça a oportunidade. 1x0 pra mim. Precisava ver a cara do homem. “Sério?!” Me olhou de novo e concluiu: “Bah, eu te dava no máximo 49”. Por sorte a banana chegou, a fila andou e empacotei minhas compras rindo. Depois fiquei pensando nessa linha tênue que separa as conversas triviais de fila de supermercado, por exemplo, dos assuntos que envolvem um certo grau de intimidade. Na próxima vez, vou apelar pro celular.