Adiantar hoje o almoço de amanhã é um clássico na cozinha brasileira. Maior até que o combo arroz & feijão (e acontece de adiantar justamente o arroz ou o feijão). Modismos culinários surgem e caem nas graças, como o pistache que agora está em tudo. Depois desaparecem, como a fatia do pastelão que você guardou pra comer mais tarde e alguém abocanhou primeiro. Filhos nascem, crescem, saem de casa. E seguimos com esse hábito nascido da necessidade de ganhar tempo.

Quem nunca sentiu o cheiro de cebola fritando em horários esquisitos? Dez da noite e tem alguma doida no fogão (hoje sou eu, amanhã pode ser você). Sete da matina e o perfume de bife na chapa tá impregnando o ar. É um conflito de interesses com o paladar. Vem da casa do vizinho, mas qual? Acontece nas melhores famílias, não repara. Ninguém faz isso porque se entediou. É pra evitar o caos. Tem dias em que o bicho tá pegando, e não estou me referindo ao patinho.

Férias

Eu adianto as colunas, adianto as compras no súper, adianto o almoço de amanhã. Queria adiantar as férias, o dinheiro a receber, adoraria adiantar muitas horas de sono (dormir hoje pela semana inteira). Não é bem assim que funciona. A vida dá a batida, mesmo que seja bater o bife. Nesse caso, não tem o cheiro que te entrega. Mas tem um barulho inconfundível. Falando nisso, alguém ainda bate bifes? E eu estou com carência de proteína pra falar tanto em carne? Esquece. É o cansaço que bateu.

Cadê a Inteligência Artificial pra chegar aqui em casa e adiantar o almoço, enquanto leio um livro sobre novas tecnologias que facilitam a vida? Quando eu era criança e assistia ao desenho Os Jetsons, ficava encantada com Jane e a robô Rosie apertando botões e saindo comida pronta. Depois, a Feiticeira Samantha torcia seu narizinho e, num passe de mágica, arrumava toda a cozinha. Isso cria expectativas na gente. Agora tchau, que ainda preciso adiantar a roupa pra amanhã.

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