Notícias



Papo Reto

Manoel Soares: "Picuinha não explica"

Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados 

12/04/2025 - 05h00min

Atualizada em: 12/04/2025 - 05h00min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Victor Pollak/TV Globo Divulgação
Colunista fala sobre pais que abandonam crianças autistas.

De cada 10 famílias que vivem a realidade do autismo no Brasil, em seis delas os homens abandonam o lar. Sei que escrever um texto falando mal de homens irresponsáveis é bom. Falar que eles não respeitam a vida e deixam de lado o bem mais preciso que a vida deu, e que poderiam ser enquadrados no crime de abandono de incapaz, traria um alívio ao coração. 

Dizer que, se uma mãe abandona uma criança autista na sociedade de hoje, ela é chamada de monstra desalmada, mas se é um homem, apenas dizemos que ele não aguentou o tranco, seria jogar uma verdade na mesa. Mas, no fim das contas, dizer tudo isso dá conforto ao nosso coração por um breve momento, pois, no fim, a mãe sobrecarregada volta para casa e dorme menos de quatro horas por dia, não tem tempo de tomar banho e às vezes nem sequer de fazer suas necessidades com privacidade. 

Os homens sentem um breve momento de vergonha, que em pouco tempo é absorvido pela compreensão que mora no pacto da galera do futebol ou da mesa de bar. Acho que começamos a caminhar para a evolução quando chamamos esse pai na responsabilidade sem precisar criar um momento de humilhação, não que ele não mereça, mas porque não é produtivo. A criança autista que não tem contato com o pai nos primeiros seis anos de vida terá mais problemas de socialização, mais dificuldade com o desfralde, mais seletividade alimentar, problemas com horários de sono e crises de agressividade. Tudo isso por questões biológicas e comportamentais, ou seja, a simples ausência dessa pessoa já faz a vida da criança mais complicada

Se você que está lendo conhece algum pai ausente de criança autista, por favor, faça esse texto chegar até ele e peça para que volte a conviver com o filho, independentemente da relação dele com a mãe, pois nenhuma picuinha justifica o sofrimento de uma criança.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias