Notícias



Vaticano

Papa Francisco morre aos 88 anos

Eleito pontífice em março de 2013, o argentino Jorge Bergoglio foi o primeiro latino-americano da História a comandar a Igreja Católica

21/04/2025 - 08h11min

Atualizada em: 21/04/2025 - 08h12min


Zero Hora
Enviar E-mail
Andreas SOLARO/AFP
Morte de Jorge Bergoglio encerra um pontificado de 12 anos.

Chegou ao fim o pontificado do primeiro latino-americano a comandar a Igreja Católica. O Vaticano informou, nesta segunda-feira (21), a morte do 266º papa da história, Francisco, aos 88 anos. O pontífice esteve internado devido a uma dupla pneumonia por 37 dias no hospital Gemelli, em Roma. Ele recebeu alta em 23 de março e se recuperava no Vaticano.

"O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino", diz comunicado oficial.

No Domingo de Páscoa, Francisco apareceu na sacada da Basílica de São Pedro, no Vaticano, para dar a tradicional bênção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo). Após o discurso, o Papa ainda fez um passeio surpresa pela Praça de São Pedro em seu papamóvel para cumprimentar os fiéis. Ele circulou pela praça por alguns minutos e abençoou alguns bebês, escoltado por vários guarda-costas.

— Feliz Páscoa — disse aos fiéis em uma cadeira de rodas.

A morte do argentino Jorge Bergoglio encerra um pontificado de 12 anos, marcado pela popularidade do Papa entre os fiéis, mas também pela resistência dentro de setores da própria Igreja a seus projetos de reformas.

Assim que foi eleito, em 13 de março de 2013, Francisco mostrou seu desejo de ruptura ao aparecer na varanda da basílica de São Pedro sem nenhum ornamento litúrgico. O jesuíta sorridente e de linguajar franco representava um contraste com o tímido Bento XVI, que havia renunciado em 11 de fevereiro daquele ano.

TIZIANA FABI/AFP
Francisco deu a bênção no Domingo de Páscoa da sacada do Vaticano e saudou os fiéis.

Provavelmente, naquele ponto, o novo papa já tinha em mente algumas das principais propostas para a Igreja Católica: a reforma da Cúria (o governo da Santa Sé), corroída pela inércia, e correção nas finanças do Vaticano.

O ex-arcebispo de Buenos Aires, que nunca fez carreira nos corredores de Roma, queria também "pastores com cheiro de ovelha" para devolver o dinamismo a uma instituição cada vez menos presente e superada em muitas regiões pela vitalidade dos cultos evangélicos. Desde então, as pregações deste crítico do neoliberalismo destacaram reivindicações por maior justiça social, proteção da natureza e defesa dos migrantes que fogem das guerras e da miséria.

A Igreja agora questiona quem será o sucessor de Francisco, um pastor incansável que, apesar da idade avançada e do estado de saúde frágil, comandou mais de 1,3 bilhão de católicos na última década.

A vida de Bergoglio

Nascido em Buenos Aires em 17 de dezembro 1936, Jorge Bergoglio é filho de um italiano que emigrou de Turim, na Itália, para a Argentina, onde teve cinco filhos. Formou-se técnico químico, mas em 1958 entrou para a Companhia de Jesus e iniciou a preparação para o sacerdócio. Completou os estudos humanistas no Chile e, em 1963, de volta a Buenos Aires, formou-se na faculdade de Filosofia.

De 1964 a 1965, ensinou Literatura e Psicologia no Colégio da Imaculada de Santa Fé e, em 1966, lecionou as mesmas matérias no Colégio do Salvador, em Buenos Aires. De 1967 a 1970, estudou e se formou em Teologia. Em 13 de dezembro de 1969, foi ordenado sacerdote.

Desde o início já era visto como um religioso em ascensão. De 1973 a 1979, serviu como o provincial dos jesuítas na Argentina. Em seguida, em 1980, tornou-se o reitor do seminário no qual tinha se formado.

Bergoglio foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 e depois sucedeu o adoentado cardeal Antonio Quarracino, em 1998. Em 2001, foi nomeado cardeal por João Paulo II, que o designou à igreja romana que leva o nome do lendário jesuíta São Roberto Belarmino.

Considerado como um homem simples e de poucas palavras, tinha grande prestígio entre os fiéis, que apreciavam sua total disponibilidade e seu estilo de vida sem ostentação. Bergoglio ia de metrô para o trabalho e cozinhava a própria comida. Gozava de prestígio pelos dotes intelectuais e, dentro do Episcopado argentino, era considerado um moderado.

Em 13 de março de 2013, foi eleito o 266º Papa. Escolheu o nome de Francisco, em referência a Francisco de Assis, santo padroeiro dos pobres.

Bergoglio levou novos ares a Roma: optou por viver em um apartamento sóbrio, rejeitando o suntuoso Palácio Apostólico, e frequentemente convidava à mesa moradores em situação de rua ou presidiários. Um estilo que também rendeu críticas de setores que viam nele uma dessacralização das funções papais.

Yara Nardi/POOL/AFP
Francisco rezou para uma Praça São Pedro vazia em razão da pandemia em março de 2020.

Voz aos conflitos mundiais

O papa Francisco denunciava os conflitos que devastam o planeta, ainda que sem resultados concretos, como demonstraram seus apelos pelo fim das guerras entre Ucrânia e Rússia, e Hamas e Israel. Sua imagem rezando sob a tempestade na Praça de São Pedro vazia, durante a pandemia, também foi muito representativa a respeito da necessidade de reflexão da humanidade naquele momento.

Enquanto papa, Bergoglio manteve a atuação, apesar dos mais de 80 anos e do estado de saúde frágil, que o obrigaram a usar uma cadeira de rodas a partir de 2022. Em meio às dificuldades de saúde, seguiu privilegiando missões nas periferias do leste da Europa e na África, com mais de 40 viagens ao Exterior. No Brasil, Francisco esteve em 2013.

Durante seu pontificado, Francisco também chegou a um acordo inédito com o regime comunista chinês, em 2018, sobre a espinhosa questão da nomeação de bispos na China. A diplomacia da Santa Sé também colaborou para a histórica aproximação entre Cuba e os Estados Unidos em 2014.

Ricardo Duarte/Agencia RBS
Em 2013, o papa Francisco esteve no Brasil, e visitou o Santuário de Aparecida (SP).

Linha do tempo

Veja, a seguir, a linha do tempo do pontificado do cardeal argentino, batizado Jorge Bergoglio, popular entre os fiéis, contestado por setores da própria instituição religiosa.

13 de março de 2013: eleito o 266º papa, sucessor de Bento XVI, que renunciou ao cargo. Escolhe o nome Francisco, em referência a Francisco de Assis, santo padroeiro dos pobres.

8 de julho de 2013: em Lampedusa (Itália), porta de entrada dos imigrantes africanos na Europa, critica "a globalização da indiferença". Em 2016, durante uma visita ao acampamento de migrantes de Lesbos (Grécia), Francisco leva para o Vaticano três famílias de refugiados da Síria, 12 pessoas no total.

11 de julho de 2013: anuncia a reforma do código penal do Vaticano para lutar contra a pedofilia e a corrupção na Igreja.

29 de julho de 2013: no retorno de uma viagem ao Brasil, o papa pronuncia uma frase que ganhou muito destaque na imprensa:

— Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?

22 de dezembro de 2014: diante de alguns cardeais estupefatos, pronuncia o discurso das "15 enfermidades", enumerando os males que corroem a Cúria romana.

18 de junho de 2015: publica sua segunda encíclica, Laudato Si, consagrada à ecologia.

12 de fevereiro de 2016: encontro histórico com o patriarca russo ortodoxo Kirill, quase mil anos após o cisma entre a Igreja do Oriente e Roma.

11 de abril de 2018: reconhece "graves erros" e pede "perdão" pela gestão dos casos de violências sexuais no Chile.

20 de agosto de 2018: em uma carta, Francisco reafirma o compromisso da Igreja na luta contra as violências sexuais.

22 de setembro de 2018: anúncio de um acordo histórico entre a China e a Santa Sé sobre as nomeações dos bispos, renovado em 2022.

4 de fevereiro de 2019: assinatura, em Abu Dhabi, de uma declaração sobre a fraternidade humana com o grande imã de Al Azhar, Ahmed Al Tayeb, grande autoridade sunita.

16 de fevereiro de 2019: expulsa do sacerdócio o cardeal estadunidense Theodore McCarrick, acusado de violências sexuais contra menores.

21 a 24 de fevereiro de 2019: organiza no Vaticano uma reunião sobre as violências sexuais na Igreja.

12 de fevereiro de 2020: descarta o projeto de padres casados e mulheres diaconisas na Amazônia, decepcionando os progressistas que esperavam uma mudança histórica.

27 de março de 2020: pronuncia em plena pandemia de covid-19 uma bênção Urbi et Orbi sozinho em uma praça de São Pedro deserta.

24 de setembro de 2020: destitui o cardeal italiano Angelo Becciu, acusado de desvio de fundos em uma operação imobiliária opaca do Vaticano, que abriu o caminho para um processo em 2021.

4 de outubro de 2020: publica sua terceira encíclica Fratelli tutti sobre a fraternidade e a amizade social. Critica, por exemplo, "o dogma neoliberal".

21 de outubro de 2020: se declara em um documentário favorável à união civil de homossexuais.

6 de março de 2021: reunião com o aiatolá xiita Ali Al Sistani durante uma viagem histórica ao Iraque.

4 de julho de 2021: passa por uma operação no cólon e permanece hospitalizado por 10 dias.

16 de julho de 2021: a publicação de uma carta apostólica que limita a celebração da missa em latim provoca a revolta dos católicos conservadores.

25 de fevereiro de 2022: um dia após a invasão da Ucrânia, Francisco faz uma visita incomum ao embaixador russo nas proximidades da Santa Sé. Desde então, insiste nos pedidos pela paz, mas é ignorado.

5 de junho de 2022: entra em vigor uma nova Constituição apostólica que conclui a reorganização da Cúria e a descentralização da Igreja.

24 de julho de 2022: inicia uma viagem ao Canadá para pedir perdão aos povos originários pelos abusos nos internatos administrados pela Igreja.

5 de janeiro de 2023: preside o funeral do antecessor Bento XVI.

8 de outubro de 2023: pede paz em Israel e na Palestina após ataques.

18 de abril de 2024: se encontra com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, eu reunião no Vaticano.

5 de maio de 2024: faz oração pelas vítimas da enchente no Rio Grande do Sul.

1º de julho de 2024: aprova canonização de Carlo Acutis, primeiro santo millennial.

16 de janeiro de 2025: cai no Vaticano e sofre contusão no braço.

6 de fevereiro de 2025: com bronquite, afirma manterá reuniões de casa.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias