Levantamento
Porto Alegre tem o pior índice do país de estudantes que concluem o Ensino Fundamental com aprendizagem adequada
Análise da ONG Todos Pela Educação abrangeu as cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes


A rede municipal de Porto Alegre registrou os piores percentuais de alunos que concluíram o Ensino Fundamental com aprendizagem considerada adequada para aquela etapa. Dos 32 municípios com mais de 500 mil habitantes existentes no Brasil, que têm ao menos 20% das matrículas de Anos Finais na rede municipal, a capital gaúcha apresentou os índices mais baixos tanto em língua portuguesa quanto em matemática.
Os dados, analisados pela ONG Todos Pela Educação, têm como base as provas aplicadas em 2023 no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Esses testes são realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) a cada dois anos com todos os alunos de escolas públicas que estejam no 5º ou 9º ano do Ensino Fundamental e no 3º ano do Médio, a fim de traçar um diagnóstico da qualidade da educação em cada local.
Para marcar o Dia Mundial da Educação, celebrado nesta segunda-feira (28), a entidade realizou, em parceria com o portal Iede, a pesquisa “Aprendizagem na Educação Básica: situação brasileira no pós-pandemia”. O estudo traça comparações de resultados dos últimos 10 anos e antes e depois da pandemia.
Entre as conclusões, está a de que a maioria das grandes cidades apresentou queda no percentual de alunos com uma aprendizagem adequada entre 2019 e 2023. Na rede municipal de Porto Alegre, o desempenho caiu 5,6% em língua portuguesa e 3,3% em matemática. Os municípios que mais melhoraram foram Goiânia, em matemática (6,9%), e Vitória, em língua portuguesa (9,3%).
O problema é maior em matemática: se a média de crianças que estão em vias de finalizar o Fundamental com um conhecimento adequado variou de 21,8% (Porto Alegre) a 61,7% (Joinville) em língua portuguesa, em matemática a variação foi de 5,1% (Porto Alegre) a 40,2% (Joinville).
Veja o desempenho dos alunos do 9º ano em língua portuguesa:

Veja o desempenho dos alunos do 9º ano em matemática:

Rio Grande do Sul
Na análise das unidades federativas, o Rio Grande do Sul se saiu melhor do que a média nacional em todas as três etapas avaliadas. Ao mesmo tempo, o Estado registrou piora em todas as áreas, na comparação com 2019.
O melhor resultado foi entre os estudantes da 3ª série do Ensino Médio, na qual o RS ficou com a terceira colocação em língua portuguesa, área na qual 40,6% dos avaliados apresentaram aprendizagem adequada, e com a quarta colocação em matemática, com 7,9% dos jovens com desempenho considerado adequado. O Espírito Santo ficou no topo em ambas as disciplinas.
Entre os alunos do 5º ano, os gaúchos ficaram em oitavo lugar nesse quesito em língua portuguesa (61%) e em nono em matemática (47,7%). Na comparação com 2019, os estudantes do Rio Grande do Sul pioraram, tirando, em média, 2,8 pontos percentuais a menos em 2023.
A situação se repete nas avaliações do 9º ano. Em língua portuguesa, 40,8% dos alunos do RS tiveram desempenho adequado, ficando, assim, com a sétima colocação nacional. Em matemática, o índice foi de 18,6%, o que deixou o Estado em oitavo lugar.
Desigualdade
O estudo também mostra que as desigualdades educacionais, já evidentes antes da pandemia, persistiram e, em muitos casos, se aprofundaram. Entre 2013 e 2023, cresceram as disparidades de aprendizagem entre estudantes pretos, pardos e indígenas, na comparação com estudantes brancos e amarelos.
As diferenças mais acentuadas estão no 9º ano. Em 2023, 45,6% dos alunos brancos e amarelos alcançaram o nível adequado em língua portuguesa, enquanto entre pretos, pardos e indígenas esse índice foi de 31,5% — uma diferença de 14,1 pontos percentuais. Em 2013, essa distância era de 9,6 pontos. Em matemática, a defasagem entre os dois grupos cresceu 2,4 pontos percentuais.
No 5º ano do Ensino Fundamental, o padrão se repete. Em matemática, a defasagem entre os dois grupos subiu de 8,6% para 9,5%. Em língua portuguesa, a diferença cresceu 0,3 ponto percentual.
No Ensino Médio, a desigualdade racial na aprendizagem também aumentou em língua portuguesa: a distância entre os grupos aumentou 2,9% em 10 anos. Em matemática, embora os resultados gerais sigam baixos, houve leve redução na defasagem.
— Os dados mostram um cenário ainda bastante crítico para a Educação Básica. Temos avanços que precisam ser reconhecidos, mas o contexto geral ainda é de muitos alunos com níveis baixíssimos de aprendizagem. A pandemia intensificou esse quadro e tornou ainda mais urgente e importante que o poder público tenha ações voltadas para a superação dessas defasagens, que muitas vezes são de conhecimentos muito básicos que não foram desenvolvidos. E, como sempre, o olhar para a equidade é central. É inadmissível que o país não tenha conseguido, em uma década, reduzir as enormes diferenças de aprendizagem entre estudantes de diferentes grupos raciais e socioeconômicos — avalia Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação.