Direto da Redação
Ricardo Düren: "Por mais Franciscos"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

A cena escandalizou os habitantes de Assis, cidade encravada no centro da Itália, naquele ano de 1206. Diante dos olhares espantados do próprio pai e do bispo local, Giovanni Bernardone tirou as roupas e ficou nu em pelo. Juntou gente para ver o que aquele jovem com fama de festeiro e beberrão fazia pelado na rua.
— Questo è peccato! — deve ter esbravejado algum gaiato na plateia.
Mas era bem o contrário. Giovanni estava dando seu mais importante passo em direção à santidade. Após devolver suas roupas caras ao pai, um rico comerciante, anunciou que também abria mão da herança. Dali em diante, passou a viver com uma túnica cheia de remendos, junto aos miseráveis e doentes. Pelos séculos seguintes, seria conhecido como São Francisco de Assis, padroeiro dos pobres e do meio ambiente.
Não foi por acaso que Jorge Mario Bergoglio adotou esse nome quando foi eleito papa, em 2013. Homem de hábitos simples, preocupado com a miséria do homem e com a degradação da natureza, o argentino logo aceitou a sugestão do cardeal brasileiro Cláudio Hummes e decidiu que seria o papa Francisco.
Mas não ficou só no nome. Francisco será lembrado como um papa verdadeiramente preocupado com os pobres, refugiados, imigrantes e minorias, um líder forçado a superar as fragilidades de sua própria saúde para levantar a voz contra as guerras, a fome, o preconceito, a intolerância, a pedofilia e a devastação ambiental. Deixa à Igreja um legado e também um desafio: achar alguém capaz de substituí-lo.
Quando o tímido Bento XVI assumiu o posto deixado pelo inquieto João Paulo II, em 2005, se dizia que os cardeais haviam escolhido um papa de transição.
De fato, a passagem apagada de Bento pelo trono de São Pedro deu um bom prazo para a maturação de um papa mais arrojado, que surgiria com Francisco.
Mas isso custou tempo — algo que, nos dias de hoje, a Igreja não tem. Nosso mundo precisa de um novo Francisco. E logo.