Notícias



Vila Assunção

"Demolição de "teatro grego" na zona sul de Porto Alegre gera críticas de vizinhos

Construção em propriedade privada não costumava receber espetáculos, mas se destacava na paisagem da região

05/05/2025 - 15h31min

Atualizada em: 05/05/2025 - 15h31min


Bruna Oliveira
Bruna Oliveira
Enviar E-mail

Um dos pontos mais icônicos e curiosos da zona sul de Porto Alegre, o teatro grego batizado de Yolanda Trebbi, encravado no bairro Vila Assunção, foi demolido nos últimos dias, causando indignação na vizinhança.

A construção, que não costumava receber apresentações abertas ao público, era de propriedade privada e  não era tombada pela prefeitura da Capital nem pelo Estado. No âmbito federal, também não consta na lista de bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A demolição, porém, gerou comoção por seu destaque na paisagem da avenida Copacabana.  

A demolição começou na quarta-feira (30) e chegou a ser interrompida após confusão com os vizinhos. A Brigada Militar foi acionada no local. Os trabalhos, contudo, foram concluídos no dia seguinte, permanecendo no terreno a casa onde hoje fica o caseiro e as ruínas da construção principal.


Toda a rua parava para admirar a obra, segundo Fabiana Maihub, 57 anos, vizinha do teatro desde a década de 1990:

— Era a identidade da nossa rua. Até me exibia com isso, falando que morava em frente ao panteão grego.

O filho dela, Enzo Maihub, 25 anos, lembra que cresceu admirando o teatro:

— Foi quando vi a cabeça do Dionísio (deus do vinho e das festas na mitologia grega) no chão que eu senti.

De acordo com os moradores do entorno, o terreno que abrigava o teatro estaria à venda.

A reportagem fez contato com a família proprietária do local, que preferiu não se manifestar. 

Construção icônica

Anselmo Cunha/Especial
Nome do teatro homenageava amiga da família e responsável pelo projeto.

A edificação do teatro grego ganhou forma nos anos 1970 por iniciativa do advogado Paulo do Couto e Silva, já falecido. Após uma viagem ao país europeu, ele decidiu decorar o terreno nos fundos da casa e convidou uma amiga da família, formada em Belas Artes, para fazer um projeto. A responsável se chamava Yolanda Trebbi, nome que acabou batizando a construção.

Reportagem de Zero Hora publicada em 2017 contou a história do local.

A imponente obra de inspiração grega era composta por 18 colunas e podia ser vista da avenida Copacabana. A ideia inicial era levar alguma programação cultural ao espaço, mas, com medo da violência na Capital, a família desistiu.

Os vizinhos, porém, recordam com carinho as vezes em que viram Paulo e a esposa Balbina Sarmento Leite do Couto e Silva, também já falecida, contemplando o teatro ao som do piano.

Um espelho d'água em formato de meia lua compunha a paisagem do teatro no terreno. Acompanhando suas linhas, três degraus formavam uma arquibancada, um verdadeiro anfiteatro a céu aberto. No topo do teatro, havia uma citação em grego: "A vida é breve, a arte é eterna".


MAIS SOBRE

Últimas Notícias