RETRATOS DA VIDA
"É uma forma de luta pelo povo negro", diz coordenador da Educafro, projeto que ganha sede em Porto Alegre
Há 50 anos atuando em capitais brasileiras, instituição terá espaço físico na Capital para promover iniciativas na educação


A Educação e Cidadania de Afrodescentes e Carentes (Educafro) inaugurou sua sede em Porto Alegre, na última terça-feira. Apesar do espaço físico ter seu início recentemente, a organização já atua mudando vidas por meio da educação há mais de 20 anos na capital gaúcha, no formato online.
Pensando em promover a inserção de jovens negros e de baixa renda em instituições públicas e privadas com bolsa, a Educafro foi criada há mais de 50 anos pelo frei Davi. Teólogo e filósofo, o franciscano se tornou referência no incentivo de ações afirmativas para afro-brasileiros, sendo um dos idealizadores também da Lei de Cotas em concursos públicos.
Com uma atuação nacional, a iniciativa chega com sua sede em Porto Alegre para viabilizar cursos preparatórios e capacitações para vestibulares, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), para auxiliar e disponibilizar oportunidades para que a juventude negra gaúcha alcance o Ensino Superior.
O principal objetivo é possibilitar que essa parcela da população, que muitas vezes não consegue continuar os estudos devido a fatores de desigualdade social, obtenha recursos para estar nesses espaços.
Os cursos presenciais já estão em desenvolvimento e irão contar com professores voluntários, além de lideranças da Capital que estão envolvidas em movimentos negros. Um dos cursos que já está sendo pensado é o de informática, visando disponibilizar conhecimentos técnicos para os estudantes.
Para além disso, a atuação da Educafro também ocorre em frentes jurídicas, com ações judiciais em prol de estudantes negros e de baixa renda, principal público da iniciativa.
Outras iniciativas
A organização já possui outras sedes em capitais brasileiras, como São Paulo e Brasília. Inicialmente, a organização irá se estabelecer em um escritório localizado na Avenida Independência, 796, mas, futuramente, haverá uma expansão do local, para um espaço com salas maiores para acolher os alunos que terão aulas presenciais.
Marcos Salgado, 50 anos, é advogado e um dos coordenadores da Educafro. Tornou-se membro esse ano, mas, segundo ele, sempre lutou por iniciativas como esta.
— Eu entendo que isso vai ser um canal diferenciado. Nós queremos viabilizar esse canal para os jovens negros ingressarem em universidades. É uma forma de luta pelo povo negro — ressalta.
A organização não se restringe a apenas viabilizar os cursos e capacitações, segundo o advogado. A atuação será também com ações de defesa a comunidade afro-brasileira, com palestras e iniciativas que promovam a ascensão desse público.
Realização
Flavia Siqueira, 45 anos, foi quem trouxe o olhar da organização para a Capital. A partir de uma pesquisa referente à Lei de Cotas, a advogada teve o primeiro contato com a Educafro para compreender melhor sobre a iniciativa.
Entre conversas e reuniões, a idealização de ter um espaço físico no Sul se concretizou.
— Eu sofri para entrar em uma faculdade, para poder me formar. Meu pai não tinha condições financeiras para bancar — desabafa a advogada.
Foi pensando em seu passado que Flavia persistiu na ideia, e, hoje, percebe a diferença que irá fazer na vida dos jovens gaúchos:
— Para mim, é uma realização pessoal. Sinto que esse é o momento de eu fazer esse trabalho extensivo, me dedicar a isso.
Informações
\\\ Para se inscrever nos cursos online e acompanhar os novos passos da Educafro no Rio Grande do Sul, acesse: gzh.digital/educafro
*Produção: Ana Júlia Santos